sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Alfredo Sabatini, um teimoso idealista


Em 2015, o Palestra de São Bernardo comemora uma marca histórica, os 80 anos de fundação. Oito décadas desde que o nosso saudoso patrono Alfredo Sabatini, revoltado por ser preterido em seu antigo clube decidiu fundar uma agremiação na então pequena e pacata São Bernardo do Campo.

Mais que a data como um todo, cada ano de vida do Palestra representa uma grande vitória ao clube e ao seu torcedor. Para contar um pouco desta rica e gloriosa história, o movimento ‘Palestra Sempre’ faz uma homenagem a este que foi o primeiro de todos os palestrinos.


Sabemos que somos poucos e estamos fadados a encolher. Exatamente por essa razão é que temos o dever moral de contribuir para a difusão e o conhecimento dessa trajetória majestosa que fez nosso Alviverde Batateiro chegar até aqui. Conhecer a história palestrina é apaixonar-se. Um enredo de novela, com tragédias, conquistas, alegrias, tristezas e muitos momentos felizes. 

A família Sabatini chegou a São Bernardo por volta de 1880, eram italianos vindos de Castel dell’novo, província de Napoli na Itália. Alfredo era filho de Samuel Sabatini, casado com Elizebetta Becchelli, proprietário de um secos e molhados que ficava onde hoje se localiza o Paço Municipal, um dos pontos mais importantes do município que inclusive leva o seu nome. 

Alfredo nasceu a 16 de dezembro de 1911, há 103 anos. Como relatam várias testemunhas da época, especialmente no livro ‘Palestra de São Bernardo: Meio século’, de Ademir Medici (1985) - sempre uma grande fonte inspiradora de nossos artigos - São Bernardo de até então era uma cidade pequena com poucas opções de diversão. Uma delas, talvez uma das principais, era o futebol.

E Alfredo Sabatini era um grande jogador. Foi ponta esquerda do rival EC São Bernardo, que na época contava com grande prestígio e sempre montava bons times. O jovem atleta estava em seu auge aos 22 anos em 1935 quando ocorreu o fato que o inspirou a fundar aquele clube do qual hoje celebramos os 80 anos.

Sabatini mesmo contava duas versões de como procederam-se os fatos naquele dia. Na primeira delas, feita textualmente por ele no 40° aniversário do Palestra, em 1975, ele contava (reprodução do livro de Ademir):

“No mês de agosto daquele ano (1935) ocorrera comigo um fato contristador, e que fora provocado pela então direção do glorioso EC São Bernardo. Há alguns anos vinha eu militando nas fileiras do seu pujante esquadrão de futebol, que marcou época e por tantas vezes laureado como uma das melhores equipes do nosso interior. 
Nesse ano o EC São Bernardo registrava no seu calendário esportivo o confronto com uma grande equipe da Capital, a ser realizada na nossa praça de esportes e era aguardado com grande ansiedade por toda a coletividade esportiva de nossa cidade e adjacências. Está claro que o torcedor entusiasma-se com a sua equipe – quando nos grandes acontecimentos, e ansiosos aguardam pelo desfecho; mas o atleta com todo o seu amor próprio, não só aguardo com ansiedade o grande momento, como antecipadamente começa a vibrar de emoção e alegria por participar diretamente da contenda. E nesse dia estava reservada para mim uma grande decepção. Ao dirigir-me alegremente às cabines para mudança de roupa, era informado de que eu não participaria desse grande jogo. Seria substituído por outro atleta que não pertencia ao nosso plantel e que vinha precedido de grande fama por militar numa das grandes equipes da Capital. E muito mais chocante para mim quando vim a saber que esse atleta só faria aquela partida e depois voltaria aos seus pagos. A ensolarada tarde desse domingo ficara gravada no todo meu eu com profundo sentimento e tristeza. Já na segunda-feira, ainda humilhado em meu amor próprio, dirigi-me a sede do clube, e ai ser recebido pelos diretores discorremos sobre o fato. Nesse diálogo fervilharam as evasivas, desculpavam-se e lamentavam sobre o sucedido. Contudo não pude perdoá-los e ao afastar-me dali, fiz o firme propósito de jamais envergar a gloriosa jaqueta alvinegra. Ao retirar-me já uma verdadeira mistura de ódio, aborrecimento e vingança apoderava-se de mim”, conta.


Alfredo Sabatini em foto de 1985 publicada no livro 'Palestra de São Bernardo - Meio Século'


A ideia deste artigo é, na verdade, contar um pouco mais sobre este que foi não apenas um dos maiores, mas o grande mentor da fundação do nosso clube, o personagem principal da sua criação. O Palestra herdou daquele teimoso ítalo-brasileiro nascido em São Bernardo muito da sua personalidade. Muitos daquela pequena cidade possuíam aquelas mesmas características, por isso, logo de cara o Palestra Itália de São Bernardo se identificou e criou adeptos com seus cidadãos.

Voltando ao dia fatídico, saindo do estádio Ítalo Setti, - localizado hoje no cruzamento da Avenida Prestes Maia com a Rua Marechal Deodoro - sede do rival, Sabatini encontrou logo à frente na Praça da Igreja Matriz os amigos o barbeiro José de Jorge e o açougueiro Antônio Garcia e ali, sentados ao meio fio, conversaram por horas sobre o assunto e chegaram a conclusão de que era preciso fundar em São Bernardo um clube para “Bater neles”. Eles, o São Bernardo.

Independente da mágoa de Alfredo, o Esporte Clube São Bernardo era a única opção como clube bem estruturado na cidade. Haviam várias outras formações, mas sempre de vida efêmera e sem o grande propósito de se tornar um clube organizado. Eram muitos atletas para pouco espaço.

A outra versão, dez anos depois da primeira, ao livro de Ademir Medici, Sabatini relata que a decisão foi tomada após ser preterido em um jogo do EC São Bernardo em Catanduva, no interior. Segundo Alfredo, seu pai exigiu que ele fosse e ficou extremamente magoado compartilhando a tristeza do filho. Samuel, seu pai, inclusive teria falecido de tristeza. Evidentemente não pelo acontecido, mas pela grande crise pela qual passava o país naquele momento e que afetou de forma significativa o seu comércio.

O mais provável é que a primeira versão seja a real. Em seu depoimento em 1985, Sabatini não soube precisar o primeiro presidente do clube. Para ele, foi Manoel Corazza. Porém, grande parte dos fundadores de então discordaram afirmando que Manoel jamais fizera parte da diretoria. A biografia de Corazza inclusive omitia este possível fato. Segundo os presentes daquela noite no bar e lance Viarregio o presidente eleito aquela noite seria Caetano ‘Braço forte’ Angelli. Caetano é um dos nomes que mais aparecem no período de fundação do clube.

Manoel Corazza ou Caetano Angelli, o que importa é que o primeiro ato desse presidente foi levar o nome do clube a votação. Quem quisesse ‘Palestra Itália de São Bernardo’ deveria se colocar em pé. Foi unânime.
O nome é claro, foi uma homenagem a Società Sportiva Palestra Itália, atual Palmeiras. Como filho de italianos, assim como a grande maioria ali presente, Alfredo era torcedor do clube. O historiador palmeirense e jornalista Fernando Razzo Galuppo, lembra que nesta mesma época vários clubes surgiram com o nome semelhante ao Palestra devido a grande fase que a equipe vivenciava naquela década. O Palestra Itália havia sido tricampeão paulista em 1932, 33 e 34.

Somente no interior de São Paulo – na época São Bernardo do Campo podia ainda ser considerada ‘interior’ – surgiram Palestra Itália nas cidades de São José do Rio Preto, São Carlos, Rio Claro, Ribeirão Preto e em outros lugares. Dessa grande turma de Palestras somente dois deles marcaram história no futebol profissional, o de São Paulo (Palmeiras) e o de São Bernardo. Como o primeiro mudou sua denominação, o nosso Alviverde passou a ser o único. O Palestra de Rio Preto registrou poucas participações nos profissionais.

Foram muitos os nomes tradicionais de São Bernardo que participaram do evento. Não é possível afirmar com certeza todos os presentes, pois a primeira ata do clube foi perdida. Mas, Alfredo recordava de cabeça.
Segundo ele, o primeiro presidente foi Manoel Corazza; o vice, Caetano Braço Forte Angelli,; 2°vice-presidente, Alfredo Scarpelli, 1° tesoureiro, Maximiliano Finco, 2° tesoureiro, José de Jorge;  secretário geral, Santo Martini; 1° secretário, Alfredo Sabatini e 2° secretário, João Éboli;

Estavam nessa reunião: Manoel Corazza, Antonio Garcia, José de Jorge, Caetano Braço Forte Angelli, Alfredo Scarpelli, Maximiliano Finco, Santo Martini, Eduardo Gerbelli, Antonio Salvador, João Corazza, José Moitinho (Jaú), Estefano Sabatini, Emílio Bonadelli, Carlos Maranesi, Saturnino Dias, Henrique Stangerlin, Dr. Henrique Pereira, Antonio Verselato, Daniel Felipe, João Felipe, João Verselato, Antonio Domingues, Atílio Savordelli, Henrique Fusari, Carlos Priorelli, Domingo Balotim, Anúncio Zanini, Máximo Marcussi, Bruno Ronchetti, Santo Zanon, Angelo Bisognini, Innocente Corazza, João Alves e Alfredo Roquetti.

Alfredo Sabatini justificava que havia pessoas mais experientes e capazes de presidir o clube na época e, por isso não quis  ser o presidente do clube. E neste caso se nota uma curiosa abnegação. Muito mais do que presidir, comandar, ou até se perpetuar no poder, como se vê até os dias de hoje em muitos clubes, principalmente tratando-se de uma cidade até então ‘pequena’; Sabatini plantou uma semente nos corações de cada um daqueles vários integrantes.

Sabatini não se preocupou em ter grandes cargos no clube


Nosso patrono homenageado, talvez – e pouco provavelmente – não tenha sido um dos mais apaixonados e fanáticos palestrinos já existentes. Muitos outros atuaram de forma mais assídua e passional no clube, mas, Sabatini fez o mais marcante: criou a ideia de se fundar nosso Palestra, mesmo motivado por uma frustração ou mágoa que tomou conta dele naquele momento.

Segundo seu filho, Maurício Sérgio Sabatini, o Palestra era para Alfredo como se fosse um filho. Preferia ser um soldado, pois tinha o bom senso de que ajudava mais naquela função. Ou seja, colocou a vaidade de lado para favorecer o clube acima de tudo.

 Tanto é que quando foi eleita a 1ª diretoria, Alfredo exerceu a função de 2º secretário. O esforço daqueles primeiros homens que fundaram o Palestra foi tão extraordinária que poucos dias depois de fundado, eles conseguiram o local para a sede do clube na Rua Marechal Deodoro, ao lado da Società Italiana de Mutuo Socorso Uniti.

“Meu pai participou com os demais da audiência com o prefeito de Santo André (Felício Laurito), pois, à época São Bernardo era como se fosse um bairro daquela cidade, onde conseguiram a autorização para utilização da área que era de propriedade do município onde é hoje a Praça Lauro Gomes. Posteriormente contribuiu também para que fosse conseguido junto ao então prefeito Aldino Pinotti, em titulo de comodato a atual área( Ferrazópolis) onde se encontra o clube".
De fato. Sabatini batalhou pelas duas casas pela qual o Palestra jogou. Embora Maurício fale em ‘comodato’, a área que o clube se utiliza hoje, no Ferrazópolis, há exatos 52 anos, - conforme artigo feito pelo blog ‘Palestra Sempre’ – passou posteriormente, no mandato do prefeito Aron Galante, de comodato para ‘doação’, já que a administração à época considerou o fato de que o terreno no Ferrazópolis era uma indenização ao campo destruído em 1951 pela prefeitura para dar lugar a praça Lauro Gomes. Leia mais: (http://palestrasbsempre.blogspot.com.br/2013/10/palestra-sao-bernardo-50-anos-de.html)
Na vida pessoal, Sabatini era um cidadão atento e participativo socialmente. Ele acompanhou o crescimento e desenvolvimento de São Bernardo. Sua geração, aliás, foi privilegiada. As grandes e principais mudanças na cidade aconteceram em suas épocas, incluindo a emancipação do município, que ele participou com entusiasmo. Rapidamente São Bernardo do Campo deixou de ser uma cidade pequena e agradável para uma metrópole cheia de problemas, embora, ainda com seus encantos.
Alfredo era carismático, um italiano bonachão, cheio de energia por trabalho, pelas coisas que amava, incluindo o Palestra e pela família. Era enérgico, mas extremamente carinhoso, tanto que tinha o apelido de ‘Titio’ pelos amigos. Segundo Maurício, estava sempre bem informado e gostava de contar histórias do passado.
“Era um lutador e trabalhador por suas ideias e objetivos, e com os filhos sempre presente nos momentos necessários com palavras de incentivo, apoio, carinho e inclusive de repreensão”, relata Maurício.
Foi eleito vereador de São Bernardo com pouco mais de 40 anos em uma época de grande turbulência política logo na segunda legislatura de 1952 a 1955. Nessa época, o Palestra já havia perdido seu campo no centro da cidade e possivelmente esse tenha sido um dos fatores que o motivou a entrar na política. Também foi candidato a prefeito em 1955 junto com Tereza Delta (madrinha do Palestra) e Aldino Pinotti. Segundo Alfredo, em relato no livro de Ademir Medici, logo que passou a fazer parte da Câmara, ele levou à tribuna por diversas vezes o tema do Alviverde para pauta, lembrando a importância de dar ao Palestra uma nova casa. A influência política de Sabatini, no entanto, não foi fundamental, pois o mesmo estava rompido com o então prefeito Lauro Gomes de Almeida. O Palestra só reconquistaria sua nova casa anos mais tarde em 1959.
Desde 1958 trabalhou na Justiça do Trabalho se aposentando no início dos anos 80 de forma compulsória. Era bem visto nas classes políticas, pois, sua atuação correta nos sindicatos patronais lhe deram grande credibilidade.
Maurício lamenta que o pai não tenha dado nome a nenhuma via ou praça pública no centro da cidade devido, principalmente por sua atuação como emancipacionista. Alfredo ganhou do amigo Maurício Soares– prefeito por três oportunidades – o nome em uma rua no Jardim Irajá segundo o Projeto de Lei n° 3669 de 24 de Abril de 1991, pouco após seu falecimento no ano anterior. Curiosamente, essa rua não é encontrada no mapa. Alfredo Sabatini deu nome a uma pequenina praça entre as ruas Cristiano Angeli e Guilherme Lorenzoni, na Vila Neide no bairro Assunção.


Praça Alfredo Sabatini, na Rua Cristiano Angeli no bairro Assunção. Homenagem simples demais a um grande 'batateiro'

Seu filho lembra que o ex-prefeito Maurício tinha grande estima por Alfredo desde os tempos em que era advogado do Sindicato dos Metalúrgicos quando tinha contato frequente com seu pai na Justiça do Trabalho.
Em São Bernardo, o fundador palestrino teve atuação importante também em outro clube tradicional, o Alameda Glória, na Vila Duzzi.  O Alameda sempre foi referência em jogos como bocha, ping-pong, entre outros e sempre tiveram os irmãos Marotti como grandes benfeitores, assim como o Palestra tem até hoje uma grande associação com a família Cassettari. 

Em uma reportagem de Ademir Medici em sua coluna ‘Memória’, no Diário do Grande ABC, ele recorda alguns dos momentos gloriosos desse clube e menciona que, assim como o clube do Ferrazópolis, o Alameda sempre teve em suas fileiras gente tradicional na cidade como Sabatini, Giusti, Marotti, Amadei, Gerbelli e outros.

Foto extraída do DGABC pelo jornalista Ademir Medici. Alfredo é o sétimo da esquerda para a direita

O sonho de Alfredo era que o Palestra se tornasse uma agremiação com todos os requintes de grandeza e pujança possível. Nos últimos anos de vida estava satisfeito com a forma que o clube vinha sendo conduzido pelos irmãos Cyro e Zeca Cassettari no final dos anos 80. E de fato, o Palestra nessa época crescia, expandia suas modalidades, acolhia a comunidade do Ferrazópolis em sua sede e estava novamente no futebol profissional de onde havia se ausentado em 1952, mais de 30 anos atrás com uma equipe competitiva formada quase inteiramente por atletas da casa. Não podia ser diferente. 

Cyro e Zeca, que até merecem um artigo só para eles, são até os dias de hoje uma das maiores referências quando se fala em Palestra. Ambos são donos de uma infindável lista de préstimos pelo clube, além de serem pessoas amáveis, e donos de uma biografia irretocável.

O jornalista, ex-jogador, presidente e conselheiro do Palestra, Cyro Cassettari, confirma que Alfredo, embora tenha tido a iniciativa da criação do clube, nunca tivera uma vida ativa entre os diretores, nem mesmo chegou a ser jogador das primeiras equipes, o que de fato é intrigante dado o motivo que o levou a fundação.

"Alfredo não participava assiduamente da vida do clube, mas era uma pessoa maravilhosa, muito querida em toda a cidade, era um 'gentlemann', gente como não se vê mais por ai. Sempre muito elegante, polido, vestido de terno e gravata, cumprimentava a todos, tinha um português corretíssimo e era muito culto", recorda.

Cyro lembra também que pela voz bonita e a articulação das palavras, Alfredo foi por várias vezes o orador do Palestra.


Pela voz bonita e a retórica, Sabatini foi por muitas vezes o orador oficial do Palestra

Em 1947 junto a outros célebres atletas sambernardenses, incluindo vários do Palestra, ajudou na criação da Liga Sambernardense de Futebol em 30 de janeiro de 1947 sendo o primeiro vice-presidente ao lado de Adelelmo Setti, presidente. O primeiro campeonato da Liga, segundo alguns relatos foi vencido pelo Palestra em uma final contra o União (0x0). Outros discordam, dizem que o Alviverde venceu no ano seguinte, em 1948.

Cyro Cassettari, que também foi presidente da entidade, conta que o grande responsável pela fundação da Liga de Futebol foi o ex-prefeito, Higino Batista de Lima. Cyro recorda que Higino era uma pessoa tão modesta que nunca fez questão de aparecer entre os fundadores, mas atuou de forma primordial nela. E confirma: O Palestra de São Bernardo foi o 1° vencedor do Amador.
Anos depois, em 1950, o Palestra se filiaria à Federação Paulista de Futebol e Alfredo nesse episódio, além da sua contribuição protagonizou um momento engraçado. Ele conta no livro do clube que começou a frequentar as reuniões da FPF e a fazer amizades. Garantiu o apoio de muitos clubes, como Portuguesa de Desportos, Portuguesa Santista e a filiação palestrina foi confirmada. Antes disso, muitos dirigentes do EC São Bernardo haviam duvidado que o rival conseguisse o feito. Chegando a São Bernardo, já com a entrada assegurada, Sabatini apostou com vários deles que o Palestra conseguiria a proeza. Ganha a 'aposta', o dinheiro serviu para  comprar meias e chuteiras aos atletas.
Quando o Palestra completou seu cinquentenário, em 1985, Alfredo foi quem deu o pontapé inicial da partida entre o Alviverde e o grande rival, EC São Bernardo em um amistoso realizado no estádio Baetão. O jogo teve grande repercussão na época e reuniu veteranos de todas épocas das duas equipes. 

Falando em EC São Bernardo, muitos devem se perguntar sobre o tal sentimento que o motivou a fundar o Palestra na década de 30. Sabatini tratava o rival com grande respeito em todos os depoimentos possíveis. Aliás, essa sempre foi a grande marca dessa rivalidade: respeito mútuo. As duas diretorias sempre foram cordiais uma com a outra.
Alfredo, ao centro, deu pontapé inicial da partida amistosa entre Palestra e Esporte na comemoração dos 50 anos do clube

Alfredo faleceu aos 73 anos em 1990 em plena Copa do Mundo na Itália. O filho Maurício conta com riqueza de detalhes que faria um passeio com a família em São Lourenço-MG e avisou aos pais que na época moravam à rua Giácomo Versolato sobre sua ida. Alfredo disse que iria junto para a surpresa do filho, pois ele não gostava de locais pacatos.
Após dois dias se divertindo nas termas, haveria o jogo da semifinal entre Argentina e Itália. O jogo foi 1x1 no tempo normal no estádio San Paolo, em Napoli e, 4x3 nos pênaltis. Caniggia fez para os argentinos e Schillac para os donos da casa. Na final, a Alemanha venceria os 'hermanos' por 1x0 e se sagrariam tricampeões. A Itália seria a terceira colocada ao vencer a Inglaterra  por 2x1.

Nem é preciso dizer que Alfredo era apaixonado pela 'Azurra' e já havia ficado muito nervoso dias antes com a eliminação do Brasil para a mesma Argentina. Quando o jogo foi para as cobranças de pênalti, Mauricio lembrou o pai que ele deveria manter-se calmo. Pois, os argentinos venceram nos pênaltis e Alfredo parecia tranquilo, relata Mauricio. Ambos ainda fizeram comentários sobre o jogo e Sabatini pediu para descansar antes de passearem a noite.
Esse trecho, o próprio Maurício relata: “Enquanto ele foi para o quarto fui para a sauna. Quando estava a caminho, algo na minha cabeça falou para que eu voltasse, quando voltei o encontrei no corredor do sua suíte parado escorado na parede. Perguntei o que estava acontecendo e ele me disse que não tinha ar no corredor. Neste momento dei um grito ao porteiro do hotel que me atendeu de pronto. Solicitei a ele que chamasse um médico, e que por sinal era um dos donos do hotel e eu havia conhecido na noite anterior. O doutor tinha o consultório duas casas pra frente do hotel, largou uma consulta no meio e veio no mesmo instante. Ao examiná-lo, disse-me que precisaríamos levá-lo urgentemente ao hospital, pois estava enfartando”, conta.
Mesmo com o tratamento adequado e o socorro imediato, Alfredo Sabatini faleceu 24 horas depois no dia 04 de julho de 1990. Os restos mortais do grande fundador do nosso querido Palestra repousa em um belo túmulo no tradicional cemitério da Vila Euclides, em São Bernardo.
Sabatini, no entanto deixou uma grande família, que hoje está ainda maior. Além da esposa Ildegarda Zobolli Sabatini, com quem teve seis filhos (José Samuel, Eli, Alfredo, Amauri, Tarcísio e Maurício), teve ainda 17 netos (Fabrizio, Alessandra. Eloísa, Roque, Leandro, Alfredo, Fabiana, Gustavo, Tatiana, Samuel, Guilherme, Rafael, Henrique, Thaís, Simone e Patrícia) e 19 bisnetos (Sophia, Lorenzo (faleceu logo após nascer), Victória, Arthur, Mariana, Rocco, Giovanni, Cauê, Enzo, Lucas, Pedro, Luigi, Théo, André, Lucca, Laura, Beatriz, Felipe e Mirela).
A esposa Ildegarda, filha de José Zoboli e Domenica Zoboli  faleceu em novembro de 2012 já bastante idosa, aos 94 anos de idade, assim como Alfredo deixando um grande vazio na família.
Os descendentes de Alfredo nunca mais tiveram contato com o Palestra. Apesar do carinho pelo clube deixado a eles como herança, nenhum ocupou qualquer cargo na diretoria ou fez mera participação. Anos mais tarde, em 2010, no advento das comemorações dos 75 anos do clube, em uma sessão solene na Câmara de São Bernardo, o filho Alfredo Sabatini Filho, o ‘Alfredinho’, como é chamado, representou o pai na mesa de honra em um ato realizado pelo vereador Wagner Lino.
Alfredinho Sabatini representou a família e o pai na sessão solene dos 75 anos do Palestra em 2010 na Câmara de São Bernardo

Alguns anos depois foi criado o Movimento ‘Palestra Sempre’, um grupo idealizado por torcedores que tinha entre os objetivos reunir palestrinos de todas as épocas incluindo descendentes. Deste grupo fez parte a neta de Alfredo, filha de Maurício, Simone Sabatini. Muitas dessas informações inclusive, tiveram também a sua contribuição.
Imaginem você fundar um clube sentado ao meio fio de uma calçada junto a outros dois amigos revoltado por ter sido injustiçado e poder olhar 80 anos depois no que ele se transformou? Não estamos falando de sede social, de condição financeira, de categoria, divisão ou até se ele está em campo ou não, estamos falando do que o Alviverde Batateiro representou na vida de centenas de pessoas direta e indiretamente.
Sabatini sendo lembrado pela torcida 'Loucos do Palestra'

Alfredo Sabatini merece nessas comemorações de 80 anos do Palestra todas as nossas reverências, pois foi ele quem nos proporcionou tudo aquilo que o Alviverde ainda nos proporciona. Foi um idealista, um teimoso visionário, que fez a sua causa se tornar a paixão de tantas pessoas. Para muitos, um clube para torcer, para outros, simplesmente uma vida inteira de dedicação. Alfredo é a razão de muitos sentimentos, amores, amizades, tristezas, gratidão, lealdade inclusive a razão deste texto!
Por tudo isso, obrigado, Alfredo!