Loucos do Palestra: uma torcida sem time
Em 2016, parte dessa história
entre clube e torcida completa 10 anos, mas nem sempre um precisou exatamente
do outro para existir, o time já ficou sem torcida e a torcida já ficou sem seu
time. Estamos falando da ‘Loucos do Palestra’, torcida criada em 2006 em meio a
uma época difícil, que chorou e que sorriu com o clube e cujo nome já diz
bastante a seu respeito.
A Loucos não foi a única torcida
do Palestra. Antes da sua geração existir, outros eufóricos torcedores já
haviam se organizado nas arquibancadas para apoiar o Alviverde. A mais famosa
foi a ‘Ferrão da Vila’, feita por moradores da Vila Ferrazópolis, casa do
Palestra, que, inclusive teve o privilégio de ver fases muito melhores do clube
nos anos 70 e 80 principalmente.
No entanto, o que qualquer
torcedor do Palestra tem em comum é a dor da ausência. Não a ausência
melancólica e sem esperanças de não poder mais ver o time em campo, mas a dor
da saudade misturada à ansiedade de vê-lo novamente.
Falar da importância da torcida
palestrina não é mero chavão literário, é realidade. Ao longo de sua trajetória
várias foram as vezes em que os torcedores tornaram-se protagonistas no clube.
E o que torna o Palestra tão apaixonante é que ninguém está lá por outro motivo
que não seja o amor em seu estado bruto, puro, livre dos vícios das fases ou dos
simples momentos.
Não convém ir tão longe para
exemplificar, mas, para que o leitor tenha a ideia, quando o Palestra esteve
prestes a se acabar no mais duro golpe que recebeu até os dias de hoje, com a
perda do seu estádio na década de 50 foram os atletas palestrinos quem
futuramente lutariam pela recuperação de sua casa alguns anos mais tarde.
Nenhum simples atleta faria isso pelo seu time se não fosse um grande torcedor.
Estes mesmos personagens foram, aliás, a geração mais realizadora na história.
Quando comparamos essas épocas e
as torcidas na verdade precisamos abrir aspas e especificar que cada um viveu
um momento peculiar, assim como foi cada uma dessas fases. O sentimento e as
motivações eram outras.
No caso dos torcedores que
começaram no clube como atletas, na década de 50, a razão da torcida era que o
clube continuasse existindo. Eram moradores da então pequena e pacata São
Bernardo, membros de famílias tradicionais da cidade e também outros que se
sentiram bem acolhidos no clube.
O Palestra ficaria 35 anos
afastado dos profissionais, de 1952 até 1986, essa estiagem, portanto, se estendeu
a mais de uma geração. Quase no seu fim, o Palestra não só era praticamente
outro clube, como tinha um perfil bem diferente de torcedores. Esta segunda
geração era representada em sua maioria por moradores da Vila Ferrazópolis,
gente que nasceu no clube desde menino, fez parte das escolhinhas de futebol e
adotou o Alviverde como ‘casa’.
A segunda geração, da década de
70 e 80 pode ver um excelente clube amador em campo, campeões em quase tudo que
disputava em uma época que o amador era um grande campeonato. Em outros
oportunidades iremos explorar ainda melhor a história da ‘Ferrão da Vila’.
O fato mais interessante é que a
‘Loucos do Palestra’, a mais contemporânea das torcidas poucas vezes teve
grandes motivos de ir ao estádio e mesmo assim sempre mostrou imensa
fidelidade. O embrião dessa história é em 2004, ano que antecedeu a ‘trágica’
mudança do clube de Palestra para ‘PSB’, que nós já destrinchamos aqui em outro
artigo.
Confira: http://palestrasbsempre.blogspot.com.br/2015/01/os-10-anos-em-que-o-palestra-virou-psb.html.
O embrião
Aquela campanha de 2004, como
conta o artigo citado, começou bem, assim como várias outras dos anos
anteriores, mas terminou de forma frustrante para o Palestra. Essa campanha foi
o ponto de mudança nos projetos do clube.
"Nesse mesmo tempo, este
jornalista que vos fala, então com 18 anos estava iniciando seu primeiro
trabalho no jornalismo. Eu já sabia que
queria seguir a profissão do jornalismo e comecei como repórter voluntário da
equipe do STI Esporte. Na época, como só havia o Palestra como clube
profissional de São Bernardo, fui designado a cobrir os treinos do time, às
terças, quintas e eventualmente às sextas-feiras. Foi meu primeiro contato com
o clube, que antes eu só havia lido nos jornais. Era uma época em que eu estava
mergulhado de cabeça no futebol, lia, assistia e estudava tudo a respeito. O
primeiro a me recepcionar foi o diretor Anôntio Schank, que foi extremamente
amável e solícito. A primeira entrevista da minha vida foi inclusive com o
técnico Carlos Ling. Aquele contato dia-dia me fez criar carinho pelo clube,
fui fazendo amizades com jogadores, dirigentes técnicos, até que
inesperadamente o Ling, em uma ótima fase, deixou o comando do time”.
Rotta e Ling no comando do time em 2004. Mudança não fez bem ao time |
A mudança de treinadores foi horrível naquele momento, já que pairou um sentimento de injustiça no ar. Assumiu o técnico Geimes Rotta, que havia vencido meses antes, em janeiro a Copa São Paulo de Futebol Júnior pelo Santo André em cima do Palmeiras no Pacaembu. Rotta chegava com moral, mas nada do planejado se concretizou. Na segunda fase da Série B1 – a última com essa nomenclatura – foi um fracasso completo.
“Eu acompanhava os jogos do Palestra do banco de
reservas, ficava mais fácil para anotar as escalações, mudanças, cartões, etc.
Sabe como é jovem repórter, não quer deixar escapar nada. Teve até uma certa
vez que o Rotta – que sempre foi muito turrão – me disse que eu poderia ficar
lá, desde que não anotasse os seus palavrões...”.
Em uma dessas partidas da segunda
fase, diante do Monte Azul (que seria o campeão), onde fomos derrotados por 4x0,
na segunda etapa, um grupo de três torcedores apertavam uma buzina estridente
no estádio da Vila Euclides, semelhante a essas de caminhões. Isso de cara já
irritou o técnico Rotta, que do banco já mandava esses torcedores enfiarem a
buzina em outro lugar.
Como a partida estava perdida,
aqueles torcedores, que claramente estavam lá para passar o tempo, assim como
os poucos presentes ali, pais e parentes de jogadores, começaram a entoar: “Ô
Rotta, seu viadinho, coloca o Cicinho”, certamente por sugestão de algum
conhecido do atleta da arquibancada. Cicinho, jogador de fato, muito ligeiro,
que estava no banco de reservas, entrou. A cobrança, no entanto irritou
grandemente o técnico que não poupou xingamentos aos torcedores.
Estádio da Vila Euclides, na época casa do Palestra |
“Eu achei aquela situação muito engraçada. Coloquei
na matéria o pedido dos torcedores e coloquei a reportagem nas redes sociais da
época, o Orkut, na comunidade do Palestra. Logo na sequência fui procurado pelo
Heitor Miguel, que era o dono da comunidade dizendo que os dois torcedores da
arquibancada era ele e os amigos. À partir dali nos fizemos uma baita amizade
que dura até os dias de hoje”
Mas, o Palestra não passaria da
segunda fase na competição, logo cessaram os jogos e veio o anúncio de mudança
de Palestra para PSB no ano seguinte.
Os jogos de 2004:
1º fase:Palestra 2x1 Capivariano, ECUS 2x0 Palestra, Palestra 3x2 Velo Clube, XV de Novembro 0x1 Palestra, Palestra 2x3 Santa Ritense, Palestra 1x4 Grêmio Barueri, União 1x4 Palestra. Returno: Capivariano 1x3 Palestra, Palestra 1x0 ECUS, Velo Clube 3x3 Palestra, Palestra 2x1 XV de Novembro, Santa Ritense 4x1 Palestra, Grêmio Barueri 4x2 Palestra, Palestra 0x3 União.
2º fase:
Palestra 0x2 Ferroviária, Grêmio Barueri 2x1 Palestra, Santa Ritense 2x0 Palestra, Palestra 2x2 Jalesense, Linense 5x2 Palestra, Palestra 0x4 Monte Azul, ECUS 4x0 Palestra. Returno: Palestra 0x2 ECUS, Monte Azul 5x0 Palestra, Palestra 2x1 Linense, Palestra 4x0 Santa Ritense, Palestra 0x4 Grêmio Barueri, Ferroviária 5x1 Palestra.
“Eu acompanhei bem de perto todo esse processo de mudança, desde o anúncio feito na sede do clube (de Palestra para PSB), até os primeiros treinos. A essa altura eu já torcia pelo clube. Fui me empolgando cada vez mais em estar lá e acompanhava inclusive jogos fora de casa. Quando criaram o São Bernardo FC e todos se empolgaram com eles, aí eu tive ainda mais certeza que queria estar daquele lado. Era um sentimento de injustiça com o PSB depois de tanto sofrimento ver aquele outro clube da cidade nascer nas entranhas da administração municipal. Isso é o que ficava evidente entre todos do time”.
Os primeiros movimentos
O ano de 2005 passou, o time saiu
na segunda-fase assim como no ano anterior e mesmo com toda empolgação pela mudança e com a boa equipe formada que lotou os jogos na Vila Euclides, especialmente nos jogos da Copinha, não houve nenhum movimento por uma torcida ou algo parecido. Então na comunidade do clube no Orkut surgiu a ideia da criação de uma torcida
organizada para o Palestra, abraçada de cara principalmente por três membros: Fellipe
Gardinal, Heitor Miguel e Leandro
Giudici. Alguns outros se entusiasmaram com a ideia, mas foram os três quem
correram atrás de tornar realidade. A essa altura o PSB já ficara para trás, o
nome voltaria a ser Palestra.
O primeiro passo para a formação
da mesma era o nome. E ele foi escolhido no próprio Orkut por votação. Quem deu
a ideia foi outro membro, Evandro Sousa: ‘Loucos do Palestra’. Foi de longe o
nome que ornou melhor e resumiu bem o propósito.
O segundo passo era a confecção
de uma faixa. Fellipe Gardinal montou uma arte com o personagem dos desenhos Simpsons,
o Hommer tomando uma cerveja. O dinheiro para a tal faixa também foi outro ponto
difícil e quem se dispôs foi Heitor Miguel. Alguns dias depois e a faixa de 15
metros estava pronta. Foi confeccionada no popular ‘Blitz’, do Baeta Neves.
“Essa época
eu estava na rádio 107,1, atual Paraty FM e participava do programa ‘A hora do
esporte’, que existe até hoje, na época com Guina Moreira e o Antônio
Eustáquio. Eu ficava responsável por cobrir o Palestra. Muita gente dizia que o
Palestra não voltaria a campo em 2006, mas voltou", lembra Leandro.
Ainda sobre o nome ‘Loucos do
Palestra’, houve uma coincidência monumental. Na década de 70, durante a
construção do ginásio de esportes, batizado de Geraldo Faria Rodrigues, houve
um grupo de torcedores que lutou muito por aquele objetivo e em sua inauguração
o prefeito que deu nome ao ginásio mencionou: “Gostaria de ter esses loucos do
Palestra trabalhando comigo”. E o nome pegou. Aquela ficou conhecida como a
geração dos ‘loucos do Palestra’. Nenhum
dos membros da torcida organizada sabia desse fato à época. Foi pura e feliz
coincidência.
“Comecei a acompanhar o Palestra com mais frequência
em 2005. Não tinha muito público, mas os poucos que frequentavam sempre estavam
presente. No início de 2006, quando conheci o Leandro Giudici, começamos a
pensar em uma torcida, para transmitir nosso carinho pelo clube em forma de
incentivo”, conta Fellipe, outro fundador. Familiares de atletas se juntavam a torcida para vibrar |
A diretoria de então deu o maior apoio para a iniciativa. Saiu a tabela e coube aos membros se organizarem. A estreia seria fora de casa diante do Jabaquara. Compunham o grupo: Palestra SB; Jabaquara; Guarujá; Barcelona Capela; Osasco FC e Votoraty. Havia uma enorme expectativa para a estreia do Palestra e da torcida, mas tudo seria diferente do idealizado.
“Chegara o dia da estreia, 8 de abril de 2006. Eu fui com a delegação
de ônibus. No dia, vários daqueles que queriam ir não puderam ou não quiseram.
O Fellipe ficou encarregado de levar a faixa e foi de ônibus turismo. Nos
encontramos lá no Espanha, ele já havia estendido a faixa e também havia feito
uma camiseta para cada um. E assim começou tudo. Com vitória de 2x1 do Palestra
e desde já um sentimento ainda mais especial pelo clube”.
O jogo seguinte seria a partida
ideal para uma estreia de gala da torcida, já que a partida seria na Vila
Euclides. Quase todo mundo já havia confirmado presença, mas... Quem disse que
as coisas são fáceis ao Palestra? A partida seria contra o Taboão da Serra, um
adversário quase sempre problemático para o time.
A sexta-feira que antecedia a
partida era feriado e – proposital ou não – a Prefeitura informou o Palestra na
quinta-feira a tarde que o estádio 1° de Maio estava interditado pelos
bombeiros. Na época a Vila Euclides era um estádio largado pela administração,
cheio de problemas estruturais que nada lembram o belo estádio dos dias de
hoje. Ou seja, a diretoria entrou em desespero. Mas, na correria, conseguiram
que a partida ocorresse lá, porém, com portões fechados. Muita gente desistiu
da ideia de ir ver o time, menos Fellipe e Leandro.
“Nós comparecemos mesmo assim, levamos a faixa e
fomos procurar onde estendê-la. Havia um prédio em construção atrás do estádio
e pedimos aos pedreiros se podíamos ficar lá, eles não deixaram e nós fomos
para o campo do DER. Lá ficamos em uma marquise, estendemos a faixa e ficamos o
tempo todo. O clube perdeu por 2x1, mas nós vibramos como nunca”.
Jogo em Embu das Artes contra o Pão de Açúcar, uma das primeiras caravanas fora de casa |
Este foi o início da torcida. Quase nunca se arregimentou uma multidão. Embora fosse um sonho evidentemente, com o passar do tempo isso deixou de ser uma prioridade. Sabíamos que seríamos poucos por muito tempo, mas isso não importava, desde que aqueles poucos fossem fieis ao clube.
O amor pelo clube foi crescendo
cada vez mais. Fellipe, antes são paulino, assim como Leandro, tornou-se
torcedor apenas do Palestra e um fanatismo saudável foi dominando os corações. Uma das principais filosofias era
cantar o tempo inteiro, sem parar. Apoiar em qualquer momento ou circunstância.
No quase sempre vazio estádio da Vila Euclides, o barulho que vinha da Loucos
do Palestra ecoava distante. Os jogos eram quase sempre nas típicas manhãs
frias e chuvosas de São Bernardo.
Fora de casa, é claro, que a
torcida acompanhava, de um jeito ou de outro. E a ida a esses locais quase
sempre rendia uma boa história. Sem ajuda financeira nenhuma, viajar para
locais distantes eram verdadeiras odisseias.
O início da torcida. Primeiro jogo do returno em 2006, Vila Euclides |
Esse foi o primeiro ano da
torcida, acompanhando e incentivando a equipe. Era difícil arrebanhar qualquer
outro torcedor já que a fase pouco ajudava. Alguns iam por curiosidade, mas
poucos permaneciam fieis em todas as partidas. Muitas vezes os torcedores
acompanhavam a própria delegação nas viagens, fato que desagradava alguns
dirigentes, mas quase sempre sem maiores problemas.
A primeira partida no entanto, em
casa, onde se juntou um número maior de torcedores foi contra o Osasco na Vila
Euclides. O Palestra jogou muito e venceu por 2x1 com uma chuva torrencial que
caiu em São Bernardo.
A princípio a torcida ficava nas
antigas tribunas ao lado das cabines de rádio. Depois mudou-se para as
arquibancadas do outro lado, bem na ‘curvinha’ próxima ao estacionamento.Um dos primeiros jogos fora de casa, com mais torcedores foi contra o Pão de Açúcar em Embu das Artes-SP. Embora não tenha ultrapassado a primeira fase, em 2006 o time demonstrava muita garra em campo. Mesmo as vitórias adversárias foram quase sempre com uma grande luta em campo e esse sempre foi um elemento especial aos torcedores da Loucos. O resultado não era o mais importante, mas sim a vontade de vencer.
Ainda com uma campanha instável,
o Palestra chegou a última rodada com chances de avançar, a partida foi no
estádio Antônio Fernandes no Guarujá e lá fomos nós. Bandeira estendida e muito
incentivo. Jogo duro, não só em campo, mas pela enorme maioria de torcedores
deles presentes. Os jogos no Guarujá, em um dos estádios mais precários da
competição costumavam serem difíceis.
O jogo ficou o primeiro tempo no
0x0, mas, o 2° tempo aguardava uma surpresa. O Palestra marcou com Giliard, que
saiu do banco para salvar a pele. Comemoração com a pequena torcida. No
entanto, a arbitragem viu pênalti onde não havia e voltamos a São Bernardo com
um empate (1x1) com sabor de derrota.
Poucas coisas para o torcedor de
um time pequeno são mais gratificantes do que quando um atleta faz o gol e
vibra com os torcedores, é um dos maiores reconhecimentos que se pode ter. Terminamos com 12 pontos em 3°
(classificavam-se apenas os 2 primeiros), mesma pontuação do Guarujá, apenas
com o saldo de gols inferior. Não foi
uma má campanha, ao contrário. Se vitaminada, aquela equipe daria muito
trabalho.
Veio o fim da competição e o que
quase sempre prejudicava o animo da torcida era a longa estiagem pelo o qual
passávamos de um campeonato para o outro. São quase 9 meses parado, uma
eternidade. "Neste meio tempo também o presidente Fábio Cassettari me chamou para ser assessor de imprensa do clube. Ele me disse: Leandro, você é o único que permanece do nosso lado, e me fez o convite que foi aceito na hora”., lembra Giudici
Os jogos de 2006:
Jabaquara 1x2 Palestra,
Palestra 1x2 Taboão da Serra, Osasco 0x3 Palestra, Palestra 0x2 Votoraty,
Palestra 1x1 Guarujá, Barcelona 1x2 Palestra. Returno: Palestra 2x2
Jabaquara, Taboão da Serra 2x1 Palestra, Palestra 2x1 Osasco, Votoraty 1x1
Palestra, Guarujá 1x1 Palestra e Palestra 1x0 Barcelona.
2007 – ano difícil
Em 2007, o Palestra estendeu uma
parceria que já havia com o Mesc (Movimento de Expansão Social Católica),
tradicional clube de campo são-bernardense e passou a utilizar seus atletas
também nos profissionais. A parceria já ocorria nas divisões de base desde 2005
treinada pelo grande palestrino Eduardo Batista, ex-goleiro do clube nos anos
80.
O início de 2007 até empolgou mais pessoas a torcer, mas a equipe não ajudava em quase nada
|
Com a experiência do primeiro ano
e tempo para organizar, a torcida começou o ano levando bem mais gente para os
jogos e de empolgação renovada. Na primeira partida do ano, em Ibiúna, diante
do Barcelona, antigo Barcelona Capela (de Capela do Socorro) fretamos uma van
cheia. Muita festa, buzina e um barulho bem maior que o da torcida local.
Faltou apenas combinar com o time para a festa ser maior, levamos um 5x1 de
cara.
Os resultados da sequência seriam
igualmente péssimos. A equipe até demonstrava esforço, mas os resultados foram
ainda piores. Para piorar, uma escalação irregular diante do Guarujá na 2°
rodada (1x0 Palestra), no fim ainda faria a equipe perder 6 pontos, o que quase
eliminava as chances palestrinas. Claro que o torcedor faz conta até o último
minuto, mas era praticamente impossível que aquela equipe reagisse. Foi um dos
piores anos da história, talvez só superior a 2011, o último no profissionalismo.
Mesmo assim, acompanhamos
praticamente todos os jogos do campeonato. Jabaquara, no Espanha (2x1),
Elosport, na Vila Euclides (1x0), Pão de Açúcar, fora (2x0), São Vicente, no
Mansueto Pierotti (4x1), Barcelona, na Vila Euclides (2x0), Guarujá, no litoral
(2x2), Jabaquara, na Vila Euclides (1x1), Elosport, em Capão Bonito (1x1), Pão
de Açúcar, na Vila Euclides (0x4), São Vicente, na Vila Euclides (0x1) e Taboão
da Serra, em Taboão (3x2).
Os poucos torcedores na Vila Euclides |
Como o tema aqui é a torcida,
lembramos que viajamos a Capão Bonito, mais de 200 km de São Paulo junto a
equipe e lá também incentivamos muito contra o Elosport (1x1). Contra o Barcelona em casa, uma vitória
gostosa e diante do Jabaquara, também no estádio 1° de Maio, uma enorme torcida
atrás do gol que fez ao atleta do Jabuca errar o pênalti. Sensacional!
Contra o Elosport em Capão Bonito-SP. Torcida presente sempre |
Entre 2006 e 2007 surgiu também o maior ídolo dos torcedores palestrinos, o jogador Beto. Um atleta muito raçudo que quando não conseguia ir com a bola ia na raça. Ele foi capitão do time diversas vezes nesses anos e evitou derrotas vergonhosas do time. Chegou a jogar em 2007 ao lado do irmão Guilherme. Em 2010 a torcida criou uma campanha para que ele voltasse a campo, mas não deu certo. Beto sabia do quanto aqueles torcedores amavam o clube, até por conhecer parte da história palestrina. Ele era parente do ex-presidente Cyro Cassettari.
Se 2007 terminava mal, 2008 seria pior. De que forma? Após 12 anos consecutivos nos profissionais, o Palestra se licenciaria da Federação Paulista. Os sócios desistiram de tocar o clube por mais um ano conforme previsto e o futebol voltou para as mãos da diretoria.
Se 2007 terminava mal, 2008 seria pior. De que forma? Após 12 anos consecutivos nos profissionais, o Palestra se licenciaria da Federação Paulista. Os sócios desistiram de tocar o clube por mais um ano conforme previsto e o futebol voltou para as mãos da diretoria.
Daquele ano de 2007 levamos o
espírito que deveria prosseguir. Nós sabíamos que a fase era ruim, mas que nós
estaríamos lá em qualquer hipótese. Veio o ano seguinte, e o que seria da nossa
torcida? Precisávamos manter a chama acesa.
Mantivemos nosso vínculo de
amizade. Fazíamos reuniões periódicas na sede do clube e acreditávamos que
aquela fase passaria logo. Em 2008, o Palestra disputou o Campeonato Paulista
de Handebol e chegamos a frequentar alguns jogos, mas obvio que sem a mesma
empolgação, até porque a equipe reclamava do barulho.
Os jogos de base
Quase sempre acompanhávamos também
os jogos das categorias de base. Em 2005 e 2006 eles ocorriam no campo do Clube
da Ford, onde o Palestra profissional se concentrou nestes mesmos anos. A base
era muito boa comandada como já dito pelo técnico Eduardo Batista com boas
promessas.
Jogos da base eram no campo da AR Ford |
Em 2006 em um jogo contra o
Santos na Ford pelo sub-17 começamos vencendo, mas no fim do 2º tempo em um
pênalti que não existiu o Peixe empatou a partida e ficou um gosto amargo de
derrota. Um menino chamado Neymar estava no banco de reservas dos santistas sendo
poupado pelo técnico. No fim do jogo a revolta de pais e torcedores do lado de
fora foi geral e começaram os insultos e ameaças do lado de fora. O técnico do
Santos começou a gritar com nossos jogadores e a confusão aumentou ainda mais.
Resultado: árbitro e o Santos só conseguiram sair de campo escoltados com a
chegada da polícia.
Outro episódio curioso ocorreu em
2007 na Vila Euclides contra o São Bernardo FC. Nossa equipe estava perdendo e
muitos dos atletas profissionais estavam em campo. Tínhamos na torcida uma
música que dizia "Ole, olê, quebra ele, mata ele, é o Palestra no
estilo Peñarol...." que entoávamos quase sempre que estávamos perdendo
e pedíamos ainda da arquibancada: Pega, quebra, mata... E não dava outra, os
jogadores iam com tudo pra cima dos rivais. Era uma série de botinadas que eram
euforicamente aplaudidas.
As agruras de ser ‘organizada’
A ‘Loucos’ nunca quis ser uma torcida organizada no mesmo molde que as outras. Muito menos realizar as mesmas práticas se envolvendo em brigas. A rivalidade que existia com o São Bernardo FC era natural e inevitável, mas nunca partia para o campo da provocação. Ao menos era essa a filosofia dos seus membros. Até por isso jamais pensou em fazer parcerias com outras organizadas para que nenhuma outra torcida encarasse aquilo como uma afronta ou coisa parecida.
A torcida do Santo André, clube parceiro do Palestra que outrora já havia sido parceira do São Bernardo FC, manifestou interesse em ser parceira da Loucos, mas logo de cara, a ideia foi recusada pelo torcedores palestrinos. Ninguém seria impedido de torcer, evidentemente, mas nada formal. A recusa gerou desconforto em alguns e a diretoria pediu que houvesse a parceria, novamente negada.
Se realizada a parceria, a ‘Loucos’ herdaria as rivalidades da torcida andreense, assim como qualquer outra. E o que havia em mente exclusivamente era torcer para o Palestra e nada mais. Era isso que era reafirmado nas reuniões. Não podíamos, - até mesmo pela pequena quantidade de gente envolvida - e principalmente, não queríamos estar em confusão alguma. Não era o foco. Apesar disso haviam tentativas de brigas vindas do outro lado e todos sabiam que mais cedo ou mais tarde, teríamos que lidar com essa situação. Não porque queríamos, mas seríamos forçados a isso. O medo disso era também algo que afastava novos membros.
Loucos nunca quis parceria com nenhuma torcida |
Quem sempre foi muito simpático a torcida palestrina, até pela origem semelhante dos dois clubes, foram os torcedores do AD São Caetano, que da mesma forma sabiam que jamais haveria parceria, mas que seriam bem-vindos em nossos jogos. Até hoje existe amizade entre os membros.
Em 2007, em um campeonato sub-15 e sub-17, já havia ocorrido dois episódios tristes a respeito de brigas, ambas com o São Bernardo FC.
Na primeira, o líder da torcida rival partiu para cima de alguns membros sem nenhum motivo alegando terem sido provocados. Embora ficasse só na ofensa verbal, mas foi um alerta do que viria. Na segunda, no mesmo ano, a mesma pessoa rasgou uma faixa do clube no Baetão que estava com duas crianças e uma idosa. Um absurdo total.
“Eu havia combinado com eles (os jovens) que faria minha participação na transmissão do jogo na primeira partida e na segunda iria para a arquibancada. No entanto, lá pela metade do primeiro tempo este rapaz claramente alcoolizado apareceu acompanhado de um bando partiu em direção a eles e rasgou a faixa da Loucos. Eu vi tudo da cabine e fui para a arquibancada defender eles, eram praticamente duas crianças acompanhados da avó. Tirei satisfação com o rapaz, xinguei todo mundo, fui até os policiais e o os fiz escoltar aqueles meninos. Fiquei completamente transtornado com aquela covardia. Ninguém no estádio se mexeu”.
O ex-deputado, Edinho Montemor, então presidente do São Bernardo FC jogou panos quentes, acalmou o clima e foi muito bom. Ele conhecia bem a torcida do seu clube e sabia do risco que correríamos. São fatos que lamentavelmente não está na escolha de quem quer torcer de forma organizada. São inerentes, infelizmente. Se a torcida do Palestra não fosse diferenciada certamente não faltariam confusões a se meter.
“Aquela foi a última partida que narrei pela emissora. Embora entendesse que não foi um ato profissional, jamais deixaria aquelas crianças desamparadas em uma situação daquela. Até porque eu não sabia do que mais aquele rapaz seria capaz de fazer”.
Embora acontecimentos como esse façam parte, este artigo quer destacar outro lado da Loucos do Palestra, uma torcida obstinada, perseverante e que nunca quis outra coisa que não fosse o bem do seu clube de coração. “A filosofia é o Palestra. Tudo em prol ao clube. Nada mais do que isso”, diz Fellipe Gardinal.
2009, o melhor dos anos
Ao longo de 2009 chegou a torcida outro torcedor curioso e simpático ao Palestra que se integrou a torcida e foi idealizador de uma mudança muito positiva para o grupo: Sandro Maniezo.Sandro trouxe a ideia inovadora até então – pelo menos na região – das tais ‘barras’, semelhantes as torcidas argentinas, que ao invés do ‘samba’ fazem cantos com poucos instrumentos durante todo o jogo. O samba acaba cansando os torcedores, até mesmo as grandes torcidas. Já os cantos, duram o jogo todo. Houve a adaptação com muito sucesso.
2009, o melhor dos anos
Ao longo de 2009 chegou a torcida outro torcedor curioso e simpático ao Palestra que se integrou a torcida e foi idealizador de uma mudança muito positiva para o grupo: Sandro Maniezo.Sandro trouxe a ideia inovadora até então – pelo menos na região – das tais ‘barras’, semelhantes as torcidas argentinas, que ao invés do ‘samba’ fazem cantos com poucos instrumentos durante todo o jogo. O samba acaba cansando os torcedores, até mesmo as grandes torcidas. Já os cantos, duram o jogo todo. Houve a adaptação com muito sucesso.
Em 2009, voltamos aos campos com
uma boa parceria com o Santo André. Um ótimo time e a recompensa pelos três
primeiros anos ruins. O Palestra, já novamente verde e branco voltava a campo
com a promessa de subir. A notícia foi um presente para a torcida. Fellipe, um
dos integrantes estava na Irlanda e a essa época haviam outros componentes como
Evandro, Fábio, Jorge, Daniel, Pedro Faian, Rodrigo e alguns outros simpatizantes quase sempre
presentes. Fellipe não se aguentava de vontade de voltar ao Brasil quando soube do retorno do Palestra aos campos. O fato pode não ter sido fundamental no seu retorno, mas pesou muito.
Volta do Palestra aos campos levou torcedores a loucura |
Antes da estreia na competição
houve um amistoso com a Seleção de São Bernardo e lá estávamos nós novamente
vibrando muito pelo time em nova casa, agora no Baetão. A essa altura a velha
Vila Euclides servia apenas ao São Bernardo FC. Seria praticamente entregue a
eles como se fossem concessionários do local. Sem problema algum. O Palestra se
adaptou muito bem ao Baetão, uma casa mais aconchegante e fácil de pressionar
os adversários.
A primeira partida do Paulista
Série B era diante do São Vicente no litoral, mas com portões fechados. E nós
combinamos que iríamos da mesma maneira ao jogo, nem que fosse para ficar fora
do estádio. Não tínhamos como ir, não havia condução e o técnico do Palestra,
Sandro Gaúcho, já havia dito que não gostava da ideia dos torcedores viajarem
junto com a equipe. Estávamos em cinco e fomos então até o centro de
treinamento do clube no Riacho Grande de onde sabíamos que encontraríamos
alguma carona. Cada um foi de um jeito. Um Ford Ka saiu com seis pessoas dentro. Chegando lá, a surpresa: os portões
seriam abertos. Teríamos o prazer de ver nosso Palestra jogar do lado de dentro
do estádio. E começaria um campeonato que seria o melhor das nossas vidas, 3x0
Palestra.
“E fui sem saber como iria voltar, só me importava em ver o jogo. Não
tinha nem R$10 reais na carteira, não dava para voltar a São Bernardo e também
não conseguia localizar minha carona. Ai me deu um estalo e eu lembrei que meu
avô morava na Praia Grande, então fui de ônibus e dormi por lá”, conta
Leandro.Persistência premiada. Portões foram abertos em São Vicente. Voltar para casa é que foi o problema. |
A segunda partida foi no Baetão
contra o Jabaquara e apesar da festa e do estádio lotado perdemos por 3x2. Um banho de água
fria, mas sabíamos que aquele time ainda nos daria muitas alegrias
A torcida foi diversas vezes tema de reportagens pela sua fidelidade ao clube. Foto da Revista Placar |
Nesse período a torcida foi ganhando novos componentes. O destaque do Palestra na mídia, por conta da parceria e da expectativa foi aos poucos atraindo mais curiosos. Mais um jogo em casa e nova
derrota, dessa vez para o rival regional, Mauaense (1x0). Começou a haver então um
drama sobre o fato do Palestra não vencer em casa. Mas a festa era cada vez
mais bonita, fumaça, bumbo e muita festa nas arquibancadas do Baetão. O pequeno
e acanhado estádio acabou sendo muito melhor para a pressão da torcida.
Vale lembrar das provocações da
torcida aos adversários, a maioria das vezes sadias e que tiravam os atletas e
especialmente os técnicos do sério. Uma mais engraçada que a outra. Em uma
delas, quando o time era do interior provocava-se: “Sua cidade não tem nem Bradesco!”. Era só risada nas
arquibancadas. Os técnicos também sofriam barbaridade com a tiração de sarro de
torcedores atrás dos bancos reserva. Haviam vezes em que os torcedores urinavam
nos copos plásticos e jogavam no banco de reservas para que o cheiro da urina
incomodasse os visitantes.
Na partida de volta contra o
Barcelona Esportivo, no estádio Ulrico Mursa, em Santos, os torcedores foram de
Brasília ao jogo. Detalhe: o carro estava sem freio. Depois do jogo ainda
aproveitaram para passear pela praia de Santos e São Vicente.
Seu Nelson era uma figura caricata que dançava, gritava e divertia toda arquibancada |
Ainda nessa época surgiu no
estádio uma das figuras mais lendárias até os dias de hoje, o Seu Nelson. Figura caricata, símbolo da
torcida. Sempre com a mesma camisa, uma bela camisa, diga-se, da década de 90,
guarda chuva em uma das mãos e uma garrafa de pinga na outra. Quando a torcida
cantava ele não só acompanhava as músicas como fazia questão de dança-las. Um
espetáculo a parte! Infelizmente anos depois soubemos do seu falecimento. Uma
pena! Nelson tinha até comunidade no também finado Orkut.
Os jogos da primeira fase foram: 1º turno: São Vicente 0x3 Palestra, Palestra 2x3 Jabaquara, Palestra 0x1 Mauaense, Taboão da Serra 1x1 Palestra, Barcelona Esportivo 1x3 Palestra, Guarulhos 2x2 Palestra. 2º turno: Palestra 1x1 São Vicente, Jabaquara 0x1 Palestra, Mauaense 0x4 Palestra, Palestra 0x1 Taboão da Serra, Palestra 5x1 Barcelona e Guarulhos 2x4 Palestra.
No segundo turno Palestra devolveu derrota ao Mauaense com juros e correção: 4x0. |
A Loucos do Palestra viveu então a sua melhor fase, aonde chegava, apesar do pequeno número, impressionava. Os panos verde e branco, as fumaças e os luminosos aprimoraram o espetáculo. Posteriormente surgiram outros do mesmo modelo no ABC. Sandro era também um dos que melhor adaptava as músicas. Foram várias. Era impossível não se notar e admirar a torcida palestrina no estádio.
Mudança pioneira no estilo deram um 'up' na torcida |
No início da parceria com o Santo André, como poucos atletas conheciam o clube, havia um distanciamento deles com os torcedores. Em um programa na web rádio Vozes da Cidade, o locutor Leandro Giudici cobrou o técnico Sandro Gaúcho desse fato e o distanciamento imediatamente acabou. Os atletas passaram a cumprimentar e agradecer os torcedores palestrinos em todos jogos.
Com o passar das fases, os atletas vibravam nos alambrados junto a torcida, uma enorme e inesquecível festa. Nos intervalos, os jogadores entoavam os mesmos cantos das arquibancadas. O mais famoso deles era: “O Palestra vai sair campeão, o Palestra vai sair campeão... Contra tudo e contra todos sempre estará no meu coração!”.
Vieram as outras fases e também a dificuldade em se acompanhar o clube. Difícil, mas não impossível. Outro momento curioso foi na ida a Porto Ferreira contra o Palmeirinha, 300 km distante de São Paulo. A diretoria havia prometido ajudar a torcida. A semana foi se passando e nada da ajuda chegar. Já havíamos desistido de ir, mas no sábado, véspera do jogo, a angústia de poder ver o Palestra tomou conta dos torcedores. Haviam poucas opções. Cogitou-se ir com a Brasília do Leandro, mas o carro não estava bom. Então Fellipe conseguiu emprestado o Escort do seu pai. Fomos em cinco no velho automóvel. Saímos às 3h da manhã de São Bernardo, contamos cada centavo de moeda para pagar os vários pedágios e chegamos lá, bem antes da partida, às 7h da manhã.
A viagem para Porto Ferreira. Persistência e recompensa |
Ao chegarmos fizemos um buzinaço na cidade acordando a população e fomos para o estádio que já estava aberto. Montamos as barras, mas fomos obrigados a tirar até a abertura oficial do estádio às 9h30. Vibramos e cantamos muito aquele dia sob um sol escaldante do interior. Eles tinham chamado uma bateria de escola de samba e nós em cinco abafamos eles. Vencemos por 4x0 e mesmo assim fomos aplaudidos e parabenizados. Até uma cervejinha nos pagaram na saída. A diretoria ficou claro, muito envergonhada ao nos ver no estádio mesmo sem ajuda e durante a semana resolveu nos reembolsar pela viagem.
Demais jogos da 2º fase: Palestra 1x0 Barretos, Santacruzense 0x2 Palestra. Returno: Palestra 0x0 Santacruzense, Barretos 2x0 Palestra e Palestra 4x1 Palmeirinha.
Com o avanço para as fases finais e jogos durante a semana não dava para acompanhar todos os jogos. Assim como nos jogos contra o Barretos, Santacruzense e o Red Bull Brasil no Moisés Lucarelli em Campinas, este último um jogo incrível, 4x4.
Jogo duro contra o Desportivo Brasil. Torcida empurrando o tempo todo. (Foto: Jogos Perdidos) |
Nos jogos em casa vimos nesse tempo jogos arrebatadores como contra o Barretos (1x0) e Desportivo Brasil (1x1) com gols no finzinho, sofrido e vibrante do jeitinho que a Loucos sempre adorou. Festa do início ao fim sem parar e empolgando o estádio todo. Contra o Desportivo em uma noite de sexta no Baetão uma chuva torrencial que paralisou a partida por pelo menos 20 minutos e acabou virando matéria do Globo Esporte.
O caminho do Palestra rumo ao acesso aliás parecia muito difícil, mas fomos superando cada um deles. Nada nos tirava a certeza de que era o ano do glorioso acesso.
Jogos da 3º fase: Atlético Mogi 0x2 Palestra, Palestra 2x2 Desportivo Brasil, Atlético Araçatuba 2x2 Palestra. Returno: Palestra 3x0 Atlético Araçatuba, Desportivo Brasil 2x1 Palestra, Palestra 2x2 Atlético Mogi.
Palestra x Taubaté: um jogo inesquecível
Chegara o momento tão sonhado. Se vencesse o Taubaté na partida de volta, no estádio Joaquinzão, o Palestra conquistaria o acesso à Série A3. Um ano depois do licenciamento os torcedores estavam vivendo a melhor fase desde a existência da torcida. Todo mundo estava empolgado, mesmo esperando muita dificuldade dessa partida. O Taubaté é um clube tradicional e certamente favorito contra o Palestra São Bernardo, mesmo que tivéssemos feito uma campanha impecável.
Palestra x Taubaté foi o auge do clube no período da torcida palestrina |
Esperamos pelo jogo a semana inteira de forma ansiosa. O diretor do Palestra, Wanderley Salatiel cedeu um ônibus a torcida. Na verdade para as ‘duas’. Ao longo da competição houve uma tentativa da diretoria de se criar uma torcida chamada ‘Corujão do Palestra’, patrocinada e incentivada por eles, sem o menor sucesso. Torcer para o Alviverde Batateiro exige muito mais do que patrocínio e incentivo. Mas, a maioria da outra torcida não compareceu. Muita gente faltou na verdade. Levamos 20 pessoas ao Joaquinzão, o que já foi um feito.
Havia na verdade uma descrença no fundo com o feito do Palestra. Isso porque palestrino é gato escaldado que sempre sofreu muito com as derrotas. No fundo, embora houvesse esperança tinha um medo de todos. Mas, logo que começou o jogo ele foi se esvaindo.
Muito se falava que a torcida taubateana podia ser uma ameaça caso vencêssemos, já que o estádio estava lotado com 5 mil torcedores, mas isso em nada preocupava os alviverdes. Fizemos festa o tempo todo e o Palestra saiu na frente, 1x0 com Pio. Willian, nosso goleiro, ainda defendeu uma penalidade e assim fomos para o intervalo. Quase como um sonho, melhor impossível.
Depois do intervalo a sorte mudaria de lado. O Taubaté empatou e depois virou. Com a tensão, os jogadores caíram na provocação dos torcedores e a confusão se ampliou. O jogo foi paralisado devido a invasão de campo. O Burro da Central ainda marcaria mais uma vez, sacramentando o fim do sonho palestrino.
A frustração com a derrota para o Taubaté não tirou o ânimo dos torcedores |
Apesar da tristeza não deixamos de cantar e apoiar um só instante. Um torcedor sugeriu que saíssemos antes do fim do jogo para evitar briga. “Eu disse que só iríamos sair dali no fim do jogo, nem que fosse em cima de uma maca”.
Os jogadores do Palestra estavam indo para o vestiário quando alguém os fez lembrar da torcida. Eles então atravessaram todo o campo e foram até nós. Cada um deles nos aplaudiu e reverenciou. Vários deles arrancaram as camisas e atiraram para nós. Camisas que estão muito bem guardadas até hoje por cada um deles.
Já os torcedores do Taubaté que haviam invadido o campo, ao invés de briga, também foram cumprimentar a torcida do Palestra pela festa e pela persistência em ficar até o fim do jogo. Algo muito bonito de se ver. Alguns trocaram camisas e até uma famosa foto do acesso taubateano tem um dos torcedores com a camisa da Loucos do Palestra. Até os dias atuais a relação das torcidas é muito boa. Na volta, a tristeza foi dando espaço ao bom humor. Quase deixamos um torcedor para trás e na parada final, em São Bernardo, ainda tomamos muita cerveja.
"Na saída encontrei o presidente Fábio Cassettari descendo das tribunas, ele estava inchado de tanto chorar, me deu um abraço forte e comovido como se fosse um torcedor dos nossos. Aquele momento era um sonho que acabava pra todos nós", lembra Leandro
Os jogos da 4º fase: Palestra 0x0 Taubaté, Red Bull 4x4 Palestra, Palestra 1x1 Desportivo Brasil. Returno: Desportivo Brasil 3x0 Palestra, Palestra 1x0 Red Bull e Taubaté 3x1 Palestra.
2010: um ano na raça
Veio 2010, novamente sem parceria. O Palestra voltava a disputar as competições na raça. Aliás, raça era a palavra que mais imperava. Era uma boa equipe formada sobretudo por jogadores raçudos.
Em 2010 retornou também o verdadeiro clássico batateiro, o quase octagenário ‘Palestra x EC São Bernardo’. O Bernô retornou aos campos e trouxe brilho a competição gerando atenção da mídia que deu ótima cobertura aos dois jogos da primeira fase entre as equipes. O Palestra perdeu a primeira, mas venceu a segunda por 2x1 de virada com um golaço do meio de campo do meia Igor Feijão.
O gol de Feijão do meio da rua foi um dos momentos mais arrebatadores para os torcedores |
O técnico inicial foi Paulo Roberto Liló que apesar do ótimo início e de ter montado um bom e experiente elenco caiu após uma derrota para o São Vicente. Paulo Leme deveria assumir, mas não assumiu. Quem veio foi Daniel Vieira, um técnico jovem e motivador que caiu como uma luva para aquele momento. A indicação foi do preparador físico Kaue Berbel. Daniel encarnou o espírito palestrino da garra e da raça. Se o time de 2010 não tinha as estrelas e as mordomias de 2009, sobravam aos jogadores vontade e alma palestrina.
Em uma partida contra o Taboão da Serra fretamos uma Kombi. Não era uma Kombi qualquer, era uma Kombi muito velha cheia de ferramentas e que morria em todos os faróis. O preço era atraente, até porque o motorista imaginava que íamos para o bairro do Taboão em São Bernardo e não para Taboão da Serra-SP. No fim deu tudo certo.
O motorista confundiu o bairro do Taboão em São Bernardo com Taboao da Serra-SP... |
Aquele ano foi especial. A sintonia entre torcedores e jogadores era muito grande. Assim como a música que a equipe de 2009 sempre cantava, este sim era o verdadeiro ‘time da virada’. No returno da competição três viradas incríveis, simplesmente inesquecíveis. A primeira sob o comando interino de Flávio Alves foi contra o Mauense por 3x2.
Logo na chegada de Daniel Vieira vencemos o Guarulhos. O Palestra perdia de 2x1 no Baetão até os 46 minutos do 2º tempo. Tiago Lopes diminui empatando o jogo. Dois minutos depois aos 48 minutos viramos o jogo fazendo 3x2 com Rafael Boi, que a um estilo 'Hulk' rasgou o uniforme na comemoração. Sensacional! As imagens de torcedores e atletas se abraçando através dos alambrados mostram essa ligação. Esse time merece até escalação: Vinícius, Cássio, Felipe Gaspar, Phillipe, Mizaell, Tiago Lopes, Robson, Rafael Boi, Alessandro, André e Aloísio.
“A torcida do Palestra era
essencial para nós jogadores , me lembro como se fosse hoje , nunca esqueço da
força que que eles nos davam em campo nos dias de jogos e também nos treinos. Apesar
da dificuldade de estrutura que o clube enfrentava , em salários , em
transportes para dia de jogos, sempre que entravamos em campo e víamos na
arquibancada o pessoal com sinalizadores , rojões, faixas e vibrando por nós, nos motivávamos muito e esquecíamos de todas
dificuldades. Só queríamos saber de dar alegria a torcida e às pessoas que saiam
de casa para nos ver jogar. Independente do resultado eles nunca nos
abandonavam , não xingavam a gente , muito pelo contrario, apoiavam muito e isso
fazia que nós saíssemos de campo de cabeça erguida com o dever de que lutamos e
jogamos de igual pra igual sempre. Tenho orgulho de ter feito parte daquele elenco
, ter participado da história do Palestra e ter conhecido de perto o Leandro
que é um cara fantástico . Muito obrigado Palestra e torcida Loucos do Palestra
por nunca terem nos abandonado”, relembra o jogador Rafael ‘Boi’.
Virada contra o Guarulhos foi uma das mais saborosas vitórias da história |
Ainda havia o rival EC São Bernardo pela frente e devolvermos a derrota do 1º turno era quase obrigação. O Palestra estava há muito tempo sem perder para o Esporte antes da derrota de 2x1. Coube a Daniel Vieira mais essa missão e vencemos! Igor Feijão fez o primeiro aos 15 minutos do 1º, Daniel do rival empatou aos 33 e Wilton desempatou aos 40. Uma enorme comemoração nos alambrados.
Palestra e Guarulhos. VT da Net TV
Nesta partida contra o Mauaense, que tinha parceria com o São Bernardo FC, houve uma briga na parte externa do estádio. Queriam tomar a faixa dos nossos torcedores. Um símbolo de vitória para as torcidas. Uma bobagem sem fim. Não conseguiram. Porém, o episódio forçou uma reflexão sobre o futuro da torcida. Nosso pequeno número e a constante provocação e ameaças começou a desmotivar o estilo de torcer. Nos reunimos mais de uma vez em um bar em frente ao Palestra no Ferrazópolis e abordamos a questão. Sandro chegou a ser seguido nas ruas por torcedores do rival. Então decidimos que nos reuniríamos antes, durante e depois nos jogos, mas sem faixas, bandeiras, barras e instrumentos. E este foi o fim dos espetáculos nas arquibancadas.
Nenhuma equipe como a de 2010 manteve mais sintonia com os torcedores |
Acompanhamos o ano todo. Uma bela equipe, diga-se e que teria certamente passado de fase se não fosse – mais uma vez – um erro grotesco e comprometedor da diretoria. Na penúltima partida da primeira fase, faltou o médico em uma partida contra o Jabaquara em pleno Baetão. Não cabe a nós julgarmos. Dificilmente tal fato seria premeditado, no entanto foi avassalador para o clima no elenco.
“O Renan Quintanilia que me auxiliava na assessoria de imprensa do clube e eu pegamos o carro e fomos atrás de um médico. Percorremos vários hospitais, mas era quase impossível. Eu nunca tive médico conhecido”, conta Leandro.
Restava apenas uma partida contra o Taboão da Serra na última rodada e perdemos de 2x0. Ficamos de fora da segunda fase. Nada de lamentações. O Palestra fora heroico e mereceu muito aplausos aquele ano. Os erros ficaram mais uma vez na conta da diretoria.
Em 2010 a equipe foi guerreira, mas erro da diretoria mais uma vez prejudicou o time
|
Os jogos de 2010:
1° turno: Palestra 2x1 São Vicente, Mauaense 1x1 Palestra, Palestra 0x0 Nacional, Guarulhos 0x0 Palestra, Jabaquara 0x1 Palestra, Palestra 1x2 EC São Bernardo, Taboão da Serra 3x1 Palestra. Returno: São Vicente 5x0 Palestra, Palestra 2x1 Mauaense, Nacional 2x1 Palestra, Palestra 3x2 Guarulhos, Palestra 0x3 Jabaquara (WO), EC São Bernardo 0x1 Palestra, Palestra 0x2 Taboão.
Rivalidades
O EC São Bernardo é sem dúvidas o grande rival palestrino, mas essa rivalidade merece um parênteses só dele. Nossa torcida não pegou a melhor fase da rivalidade. Aliás, há muito tempo ela não existia. Os dois alternaram licenciamentos enquanto o outro disputava competições profissionais.
Havia um grande coleguismo com os torcedores do Esporte, que costumávamos chamar de ‘Esportinho’ para tirar sarro. Thiago Teixeira era amigo de longa data de Leandro e Pedro Faian torceu muitos anos pelo Palestra antes de seu clube voltar a campo. Este fato nós sempre lembrávamos, mas claro, de forma sadia. Nunca houve entre os torcedores nada que não fossem brincadeiras e debates para se saber quem era o melhor.
Torcedores de Palestra e EC São Bernardo sempre se respeitaram apesar da rivalidade |
Em 2011, em um dos dois clássicos
atravessamos o estádio todo e fomos até a torcida bernardino cumprimenta-los. Alguém
na arquibancada até imaginou que fossemos brigar, mas ao contrário. Um sinal de
diplomacia que inclusive foi registrado pelos veículos locais.
Contra o São Bernardo FC, apesar
de não haver história entre ambos, sobraram provocações e brigas, tanto entre
diretorias como entre torcedores. Na verdade, o que a diretoria do Tigre sempre
sonhou era em ter um único clube na cidade e seus torcedores não admitiam
dividir atenções com os palestrinos, até porque o Palestra por ser mais
tradicional, simpático e alternativo sempre despertou atenção da mídia, o que
definitivamente os irritava.
Por parte dos palestrinos o que
havia era inconformismo e revolta pelos privilégios que o time sempre teve
desde sua fundação, o que nunca houve para o Alviverde. O Palestra se afastou e
o ECSB continuou, porém, os dois (EC São Bernardo e São Bernardo FC) raramente
se estranharam. Quem incomodava o São Bernardo FC era o Palestra, até pelo
início de ambos (uma longa história já abordada aqui) e , talvez um pouco por
conta dos protestos frequentes da sua torcida.
Um dos espetáculos mais bonitos já feito pela Loucos |
O último time em campo
Dai por diante o Palestra voltava a sua velha realidade recente. Em 2011 novamente voltaríamos a campo com um elenco muito jovem e algumas parcerias. No começo do ano até parecia ser diferente. Encaramos o São Paulo em um jogo amistoso no CT de Cotia e empatamos em 2x2. Mas não. Como técnico o escolhido foi o comentarista esportivo, Lombardinho, filho do famoso Lombardi dos programas do Silvio Santos. Além da experiência como comentarista ele também comandara equipes amadoras em Santo André.
Aquele ano seria o mais trágico de todos os demais. Pior do que aquilo só mesmo o licenciamento que viria na sequencia. Nossa torcida apenas se reunia nas arquibancadas para assistir juntos. Só não fomos os últimos do grupo porque o Nacional, tradicional clube paulista, perdeu pontos e permaneceu quase todo o tempo na lanterna. Nossa única vitória, aliás, foi sobre eles no primeiro turno. Vexatório!
Time de 2011 não deu liga e o Palestra foi humilhado várias vezes em campo |
Lombardinho foi embora e Daniel Vieira voltou, mas não teve jeito, a equipe não deu liga. Até quando jogávamos melhor perdíamos. Pior: sem nenhuma demonstração de garra e raça que o elenco de 2010 demonstrou. Pela primeira vez na sua história, contra os princípios que idealizamos como torcida passamos a xingar o time em campo. Era pura vergonha ver o Alviverde jogar.
Em uma partida diante da Mauaense no Pedro Benedetti fomos humilhados, perdemos de 7x1 e xingamos muito o elenco. Alguns jogadores acharam que estávamos ali para brigar, mas é obvio que jamais isso passou em nossa cabeça em hipótese alguma. A única coisa que cobrávamos era que eles honrassem nossa gloriosa camisa. Vexatório. Fomos o 7° do grupo com 4 pontos, o Nacional com 2 em 8º. Além de tudo perdemos os dois clássicos. Era muita humilhação para um só ano.
O técnico Daniel Vieira conseguiu entender o espírito palestrino, mas equipe não deu conta do recado |
Palestra 0x1 EC São Bernardo, Portuguesa Santista 3x0 Palestra, Palestra 1x2 São Vicente, Guarujá 3x0 Palestra, Palestra 2x1 Nacional, Palestra 1x1 Mauaense, Jabaquara 2x1 Palestra. 2º turno: EC São Bernardo 2x0 Palestra, Palestra 0x2 Portuguesa Santista, São Vicente 5x0 Palestra, Palestra 1x2 Guarujá, Nacional 3x1 Palestra, Mauense 7x1 Palestra e Palestra 0x4 Jabaquara.
Dois fatos curiosos nesse ano,
ambas contra o Nacional no Baetão: O primeiro deles foi que o técnico
nacionalino era José Nogueira, treinador que comandou o Palestra em 2005 depois
da saída de Rotta. Um grande técnico, aliás. E na arquibancada começaram as
provocações. Um torcedor já rouco de tanto gritar avisou que se tratava do
técnico Nogueira que já comandara nossa equipe. Enfim. O jogo terminou e no fim
o presidente Fábio Cassettari foi até ele o cumprimentar. Para surpresa de
Cassettari, Nogueira disse que dispensava os cumprimentos, pois fora ele quem
havia dito seu nome para a torcida, já que o ex-presidente também tem um
vozeirão. Resultado: foi preciso separar para que não houvesse briga.
O outro: as duas equipes eram
respectivamente as últimas da tabela e as que menos tinham pontos em toda a
competição. O fato chamou a atenção do Globo Esporte que foi até o estádio
certamente fazer chacota de ambos. A torcida ciente da gozação que viria
adiante se antecipou e tratou de hostilizar o repórter Marco Antonio. Deu
certo. No dia seguinte a matéria que foi para o ar foi bem mais amena,
destacando inclusive o jogador Brito, ex-Santos.
Paciência da torcida acabou após humilhação |
Vale lembrar uma outra passagem
em que a torcida fugiu à velha regra. Na verdade, o que havia acabado era a
paciência. Naquele mesmo ano, o Palestra faria no sub-20 (2º
divisão) um péssimo primeiro turno. Péssimo mesmo. Mas, no 2º turno reagiria de
forma inesperada, vencendo a maioria dos jogos e inclusive alcançando de forma
surpreendente a 2º fase após uma vitória de 9x0 sobre o São Vicente. Na outra
fase, as quartas de finais encontrou o rival EC São Bernardo que já havia
nos vencido nas duas partidas da primeira fase. Pelo arranque dos dois times
dizia-se que quem passasse dali seria o campeão. E foi, o Esporte venceu o
campeonato.
Dava para sentir no ar que o Palestra venceria. Esse tipo de sensação é fácil de perceber para quem acompanha e ama um clube. O jogo é obvio que começou muito quente. Brito do Alviverde fez 1x0 aos 20 do 1º. Alexson fez 2x0 aos 38. Já no segundo tempo mesmo com uma enorme pressão do rival ampliamos fazendo 3x0 aos 36 min. com o baixinho Jackson. Que festa linda! O Esporte ainda fez dois gols no fim, mas um pênalti errado por Brito irritou demais a torcida. Vencemos, mas não levamos a passagem para outra fase.
Loucura total na comemoração do gol contra o EC São Bernardo |
Um jogo de sub-20 que mais parecia final de Champions League. Quase no fim do jogo, pênalti para o Alviverde. Era a chance de ampliarmos e passarmos adiante, já que no primeiro jogo havíamos perdido por 2x1. O técnico Daniel Vieira mandou Fellipe Casarin para a cobrança, mas Brito, um atleta que já jogara até no Santos ao lado de Neymar e que vinha mal na competição sendo muito criticado pela torcida, pegou a bola na mão e foi para marca do pênalti.
Brito errou o pênalti e ai é claro que a torcida não perdoou. Antes do fim ainda foi expulso injustamente acusado de ter calçado o goleiro rival Jéferson. No fim do jogo foi extremamente hostilizado. Todos pediam que ele abandonasse o Palestra. Ele chorando prometeu que o faria, mas ainda continuaria. Do lado de fora do vestiário a ofensa continuou, mas nada além disso ocorreu. Na saída do estádio ele se encontrou com a torcida e acabou até amparado por alguns. Coisas do futebol.
Foi a última vez em que nossa equipe entrou em campo. Depois daquilo seriam apenas saudades que duram até hoje.
O trágico afastamento
Em 2012 o Palestra anunciou que estava fora das competições. Manteve tudo em segredo até o instante da confirmação pela Federação Paulista. Embora a notícia não fosse uma novidade total, pegou todo mundo de surpresa. O ano anterior havia sido traumático. Nem mesmo 2007 se comparava a uma equipe como aquela, sem raça, sem garra e que só acumulou péssimos resultados.
“Assim que soube eu mandei um e-mail para o clube me desligando. Aquilo para mim foi a gota d’água. Não dava mais para concordar com aquilo. Eu nunca deixei de apoiar nem nos piores momentos. Foi assim em 2008, mas dessa vez o Palestra saía humilhado. Faltavam projetos, bons projetos e diálogo com a diretoria. Embora sempre tive um bom relacionamento com o Fábio (Cassettari), mas de um tempo para cá as conversas com o Neto (atual presidente) já não eram as mesmas. Ele nunca gostou de futebol e meu medo era justamente que aquele dia chegasse, o do nosso afastamento. Eu imaginei que do lado de fora poderia cobrar mais. Chegamos a nos desentender, trocar ofensas, mas inclusive acho que exageramos, não precisava chegar a tanto. Não guardo mágoa alguma deles. Ao contrário. Hoje se pudesse até me desculparia”, conta Leandro Giudici
Palestra Sempre
Aquele sentimento era um vazio enorme. Algo como se um ente querido tivesse partido. Não haviam torcedores que não sentissem aquela mesma tristeza profunda de não mais poder ver o Palestra em campo. Havia também uma sensação semelhante na maioria e que se confirmaria: o Alviverde não retornaria em breve.
Todos os jornais destacaram a saída do Palestra da competição e a frustração dos torcedores. Aquele vazio motivou um movimento chamado ‘Palestra Sempre’. A ideia era excelente, pena que não foi adiante. O objetivo era criar um grupo de palestrinos que cobrariam resultados e auxiliariam o clube o quanto fosse necessário, já que a diretoria jamais deu qualquer abertura para novos sócios. O clube social do Palestra na verdade só existe no papel.
E iniciamos o grupo realizando inclusive duas reuniões. O ‘Palestra Sempre’ visava reunir novamente todas as gerações de palestrinos, desde os mais antigos aos contemporâneos, torcedores, filhos e netos de atletas, dirigentes, enfim. A primeira foi na Brasilitália e a segunda no campo do Ferrazópolis, local onde ainda estão muitos da segunda geração. Conseguimos trazer para o grupo os filhos e netos do fundador, Alfredo Sabatini, o que demonstrava a seriedade do grupo.
Reunião do grupo 'Palestra Sempre' no Ferrazópolis reuniu ex-atletas do clube |
Mas, como se diz sempre nesse blog, nada para o Palestra é fácil. E não foi. Na parte de projetos, ideias e opiniões tudo fluiu bem. Ocorre que na parte derradeira, onde levaríamos isso para a diretoria, muitos se opuseram alegando que aquilo seria inútil. Fácil não seria, mas, na verdade, todo o grupo seria inútil se isso não ocorresse, afinal, não éramos nada além de um grupo disposto a cobrar e auxiliar o Palestra. Não tínhamos poderes efetivos para realizar nada sem permissão da diretoria. E o grupo foi se diluindo.
Só saudades
Lá se vão seis anos em que o Palestra permanece licenciado e essa saudade só aumenta. O clube melhorou de forma geral. A sede, que antes possuía um convênio com uma grande empresa passou novamente a ser gerido pelo clube, passou a ter novas modalidades e finalmente conseguiu em pequena proporção o que o movimento Palestra Sempre sonhava: abrir suas portas para a comunidade. Ainda não o suficiente, mas já um avanço.
Não há no entanto nada, nenhum aceno que queira aproximar ou trazer os torcedores para perto do clube. Nunca houve uma intenção parecida. Os torcedores fiéis ainda mantém uma esperança, mas os outros simpatizantes vão diminuindo pouco a pouco.
“O clube fechou as portas para os seu torcedores. Não há conversa ou algo parecido. São poucos, assim como eu, que ainda tem esperança de ver o Palestra novamente em um campeonato profissional. Somos amigos (torcedores), conversamos frequentemente. Nos conhecemos através do Palestra, mas claro que as coisas ficam mais difíceis, pois são poucos que realmente continuam a pensar no Palestra hoje em dia”, diz Fellipe.
“Antes, eu listava momentos. Hoje, percebi que o momento marcante é jogo a jogo. Só de ver o Palestra em campo é uma satisfação inexplicável”, completa.
Essa torcida apaixonada não pede nada além de rever seu time em campo, não importa se ganhando, empatando ou perdendo. “Sonho em ver o clube forte, disputando sempre as competições. Licenciamento é algo muito doído de aceitar”, acrescenta Fellipe. E sabe também a dura realidade que vive não só o Palestra São Bernardo como também todos os clubes do mesmo porte e da mesma divisão, mas acreditam que com projeto é possível realizar.
Diário do Grande ABC destacou a paixão que levou Fellipe a ter três tatuagens do Palestra |
Os anos em que a Loucos do Palestra esteve nas arquibancadas muito se tirou como aprendizado. O principal deles é que o amor por um clube justifica muitas loucuras, muita insensatez, brigas com a família, namorada, viagens intermináveis, falta de dinheiro, de que é possível empurrar um clube; de que uma torcida é sim peça importante para um time, desde que ele consiga entender a mensagem e o espírito das arquibancadas. O outro, e esse negativo, é de que ‘torcida organizada’ no Brasil é algo completamente contaminado pelo vício da violência e da selvageria. Na arquibancada, do mesmo modo que alguns – como os loucos – extrapolavam seu amor ao clube, outros usam tudo isso para o mal. Ali é uma terra sem dono. A sensação de estar em grupo torna muita gente valente. Por mais que você tenha boas intenções.
Não foram poucas as vezes em que veículos destacaram o amor incondicional da torcida palestrina
|
“Fui assessor de imprensa do Palestra por cinco anos. Fiz muitas homenagens a veteranos, uma sessão solene na Câmara em homenagem aos nossos 75 anos, enfim. Fiz o que estava ao meu alcance, mas ficou a impressão que muito mais poderia ter sido feito. Eu nunca fui nada além de diretor de comunicação. Certa vez até fui incluído na lista de conselheiros, mas não sei ao certo se foi sacramentado. Conversava muito com os Cassettari, mas tudo sempre foi muito difícil. A família tem muitos méritos quando se fala de Palestra, mas as vezes penso que eles não querem mudar a situação atual”, diz Leandro.
O jornalista Antonio Kurazumi, com passagens por vários
veículos da região e que já escreveu por mais de uma oportunidade sobre a
torcida comenta sua impressão sobre a Loucos “Torcer pelo Palestra é muito mais do que ter simpatia pelo time. Sem
exceções, o torcedor do alviverde batateiro conhece cada detalhe da história do
clube. História - como a do quase acesso contra o Taubaté - que é contada com
amor indescritível para um familiar, um amigo, que logo se comove e vira mais
um louco pelo Palestra. É uma torcida seletiva na essência, qualitativa.
Simples assim. Para os palestrinos, pouco importa o resultado de um jogo ou
campeonato, até porque não há time para torcer atualmente”, diz ele.
O fato é que em São Bernardo ninguém foi mais fiel que os palestrinos acompanhando tão de perto todos os jogos, vibrando, incentivando e fazendo uma linda festa com um clube que por poucas vezes viu uma boa fase. Palestrino não tem outra razão para sê-lo que não seja amor, pura e simplesmente. Palestra não é fase boa, moda, empolgação, etc. A história da nossa torcida imita a história do seu próprio clube. Todos que ali chegam é porque admiram a nossa bela e gloriosa história. Nem tanto assim de glórias, mas de muita luta.