Um palestra revigorado
1974: Nessa época o Palestra já possuía uma vida mais sadia. Havia recuperado sua forma e o prestígio depois de anos lutando para se consolidar após a mudança de casa, algo que lhe tomou muita energia. Havia voltado a ser uma das potências no futebol da cidade e era um dos mais respeitados clubes amadores da região.
1974: Nessa época o Palestra já possuía uma vida mais sadia. Havia recuperado sua forma e o prestígio depois de anos lutando para se consolidar após a mudança de casa, algo que lhe tomou muita energia. Havia voltado a ser uma das potências no futebol da cidade e era um dos mais respeitados clubes amadores da região.
Era
o atual campeão. Aliás, bicampeão em 1972 e 73. Dois títulos
inesquecíveis não só pelas ótimas campanhas - em um tempo em que o Amador tinha
peso e um nível técnico praticamente equivalente aos profissionais de hoje – mas, pelo simbolismo de reerguer uma taça que não vinha desde a década de 50.
Neste
ano, o campeão seria o Aliança. O clube do Ferrazópolis ficaria em terceiro
atrás também do Baeta. Era o auge dessa rivalidade entre Palestra e Aliança.
Tanto que o time do Rudge Ramos iria à Justiça neste mesmo ano denunciar a
arbitragem de ter favorecido o Alviverde no ano anterior. Perdeu a briga.
Poucas
outras vezes o clube mobilizou e mexeu tanto com São Bernardo como naquela
época. Os jornais davam grande destaque para o Municipal. Nenhum clube da
região disputava o profissionalismo até então. E o Palestra ‘ousou’ - como
mencionou o presidente de honra do clube Cyro Cassettari no livro de Ademir
Medici - trazer o Santos de Pelé para jogar em casa. Nos
dias de hoje seria algo como trazer o Barcelona da Espanha para jogar diante do
Triângulo Esporte Clube, com todo respeito evidentemente ao clube grená do bairro Assunção.
Jogador Alemão recebendo premiação pelo título de 1972 invicto das mãos do prefeito Geraldo Faria Rodrigues. O Palestra era o clube mais venerado da cidade |
As tratativas
O Santos era nada mais nada menos do que uma das melhores equipes do mundo. Pelé, que quatro anos antes vencera a Copa do México pela Seleção em um dos times mais encantadores de todos os tempos havia anunciado que encerraria sua carreira no Peixe e que não atuaria mais com a Amarelinha. Uma decisão acertada. Iria parar no auge de sua forma.
O Santos era nada mais nada menos do que uma das melhores equipes do mundo. Pelé, que quatro anos antes vencera a Copa do México pela Seleção em um dos times mais encantadores de todos os tempos havia anunciado que encerraria sua carreira no Peixe e que não atuaria mais com a Amarelinha. Uma decisão acertada. Iria parar no auge de sua forma.
O
Palestra tinha uma diretoria comprometida, séria e competente, formada a
maioria por ex-jogadores. Homens que acompanharam o Palestra em seus momentos
mais difíceis e que nutriam grande sentimento pelo clube.
Um desses
diretores era Cláudio e José Tofanello, dois irmãos há muitos anos donos de uma
loja de móveis na Rua Marechal Deodoro, os Móveis Fátima, que existe até hoje próximo a Rua Américo Brasiliense.
Cláudio e Zezinho tinham um cliente famoso, que segundo eles, dormiu em muitas
camas fabricadas pela loja: o Rei Pelé.
Os
irmãos que também foram bons jogadores do Alviverde na década de 50
contribuíram na intermediação deste sonho de trazer o Rei para São Bernardo.
Coube ao então presidente da época, Zeca Cassettari a negociação.
Cláudio e Zezinho Tofanello foram importantes no convite ao Rei. Pelé era cliente da loja de móveis deles |
Segundo
Zeca, a Federação Paulista colocou barreiras. Não queria em hipótese alguma que
o Santos fizesse um amistoso contra um clube amador. O Departamento de Esportes
de São Bernardo, como não é novidade, não foi grande parceiro dos palestrinos e
também dificultou. O certo é que o Alviverde persistiu e conseguiu ainda lucrar
com a partida. Zeca
diz que em uma de suas visitas à Federação lhe disseram que não havia a menor
chance de haver o jogo, mas ele informou que todos os ingressos já estavam
vendidos e eles não tiveram opção senão liberar a partida
Foi
uma grande correria realizar um jogo deste porte. O Palestra pagou ao Santos 30
mil cruzeiros e mais 10 mil ao Pelé. A renda da partida foi de 106 mil
cruzeiros. Cerca de 6.352 mil pessoas assistiram aquela partida que oorreu no então estádio Presidente Arthur da Costa e Silva, a primeira denominação do atual estádio Primeiro de Maio, às 21h no dia 9 de janeiro de 1974 com refletores acesos. Tanto
é que a foto do jogo saiu prejudicada pela iluminação. Foi uma festa para a cidade, um grandioso evento cujo resultado pouco importaria.
O grande dia
O jornal "O Estado de São Paulo" destacou em seu caderno de Esportes: "Quase 18 anos depois, ABC volta a ver Pelé", fazendo uma referência a sua estreia em Santo André em 1956, quando estreou no futebol profissional diante do Corinthians local.
O grande dia
O jornal "O Estado de São Paulo" destacou em seu caderno de Esportes: "Quase 18 anos depois, ABC volta a ver Pelé", fazendo uma referência a sua estreia em Santo André em 1956, quando estreou no futebol profissional diante do Corinthians local.
Caderno de Esportes do Estadão destacava a partida em São Bernardo |
O Santos iniciava o ano se preparando para a fase final do Campeonato Nacional de 1973 contra o Santa Cruz no estádio Arruda em Recife, que só terminaria em 20 de fevereiro daquele ano sendo vencido pelo Palmeiras. Aos jornais o técnico Pepe relativzava o amistoso, embora destacasse ser importante uma vitória após uma longa pausa do campeonato que tinha um regulamento pra lá de confuso e um calendário imenso com 40 participantes. O Peixe perderia a partida contra o Santa por 3x2. Ramón, da equipe pernambucana seria o artilheiro daquele campeonato com 21 gols.
Alguns
contam que os presentes não acreditavam que se tratava do Rei, pensavam que
podia ser um sósia, afinal, Pelé afirmara aos jornais que não jogaria mais pela
Seleção, e, no entanto fazia uma partida amistosa em São Bernardo. O jornal
Estado de São Paulo chegou a publicar na semana anterior: ‘Pelé anuncia que não
joga mais pela Seleção, mas atuará em São Bernardo”.
O
Santos venceu o Palestra por 4x0. Um bom resultado se é que se pode dizer isso
de uma derrota por quatro gols. Mas, vale lembrar: o Santos era uma das maiores
equipes do planeta, já o Palestra disputava o Amador municipal.
Estádio da Vila Euclides lotado para ver a única apresentação do Rei em S.B. do Campo |
O
Alviverde do técnico Jaú atuou completo com Tarcísio (Ricardo), Zé Pedro (Manu), Azeitona,
Leme e Didi; Caiuba (Licinho) e Jaime; Baiano, Alemão (Claudinho), Teleco e
Peiroca. O Santos de Pepe atuou com Cejas; Marinho, Vicente (Roberto) e Zé Carlos;
Clodoaldo (Leo) e Brecha; Mazinho (Piter), Nenê, Pelé (Babá) e Edu. Árbitro: Alberto Isidoro.
Carlos Alberto Torres, que havia sido suspenso pelo Tribunal dias antes não atuou, pois estaria fora dos próximos jogos do Nacional. No seu lugar atuou Hermes.
Carlos Alberto Torres, que havia sido suspenso pelo Tribunal dias antes não atuou, pois estaria fora dos próximos jogos do Nacional. No seu lugar atuou Hermes.
Pelé
fez o segundo gol e participou dos dois primeiros de Nenê e Piter. Piter, aliás, vinha emprestado do Botafogo-SP e estava a testes no Peixe. Foi a primeira e única exibição
do Rei em São Bernardo do Campo, um feito que coube ao Alviverde Batateiro
realizar.
A matéria do Estadão de 10 de janeiro relata:
O Palestra começou com excessiva preocupação defensiva fazendo com que os jogadores do Santos atacassem. Mas, a tática não funcionou muito bem, logo aos 6 minutos, o Santos teve uma boa oportunidade de marcar numa triangulação de Clodoaldo, Nenê e Brecha. Aos 22, quando Nenê marcou o primeiro gol, o domínio da equipe santista já era completo. Mas, depois do primeiro gol todo time santista resolveu recuar um pouco. Isso permitiu a reação do Palestra que quase chegou ao empate numa tabela entre Jaime e Baiano aos 32, que Marinho mandou para escanteio.
Aos 39, depois de um cruzamento de Mazinho da linha de fundo, Pelé fez o segundo depois do goleiro Tarciso soltar a bola. Após este gol as duas equipes tiveram boas oportunidade de marcar, como num hute de Marinho aos 41 que a bola bateu na trave.
No segundo tempo, o Santos limitou-se a trocar passes, mas mesmo assim fez dois gols. Aaos 29 Nenê aproveitou um passe de Pelé e chutou cruzado de pé direito. O último foi marcado por Peter, que havia substituido Mazinho e só teve o trabalho de empurrar para dentro.
Praticamente a mesma formação do Peixe campeão Paulista de 73: Cejas, Marinho, Zé Carlos, Vicente, Clodoaldo e Turcão. Jair da Costa, Brecha, Eusébio, Pelé e Edu. |
A matéria do Estadão de 10 de janeiro relata:
O Palestra começou com excessiva preocupação defensiva fazendo com que os jogadores do Santos atacassem. Mas, a tática não funcionou muito bem, logo aos 6 minutos, o Santos teve uma boa oportunidade de marcar numa triangulação de Clodoaldo, Nenê e Brecha. Aos 22, quando Nenê marcou o primeiro gol, o domínio da equipe santista já era completo. Mas, depois do primeiro gol todo time santista resolveu recuar um pouco. Isso permitiu a reação do Palestra que quase chegou ao empate numa tabela entre Jaime e Baiano aos 32, que Marinho mandou para escanteio.
Aos 39, depois de um cruzamento de Mazinho da linha de fundo, Pelé fez o segundo depois do goleiro Tarciso soltar a bola. Após este gol as duas equipes tiveram boas oportunidade de marcar, como num hute de Marinho aos 41 que a bola bateu na trave.
No segundo tempo, o Santos limitou-se a trocar passes, mas mesmo assim fez dois gols. Aaos 29 Nenê aproveitou um passe de Pelé e chutou cruzado de pé direito. O último foi marcado por Peter, que havia substituido Mazinho e só teve o trabalho de empurrar para dentro.
O
jogador Alemão (Alfredo Ranal), um dos melhores atletas palestrinos na
oportunidade, conta que deu o Rei Pelé lhe deu um drible desconcertante por
entre as pernas, mas aquilo não o chateou nem um pouco. Alemão conta ainda que
haviam as ‘cadeiras de pista’, que ficavam quase dentro do gramado. Uma delas
até o fez sair machucado de campo. Tomou 14 pontos no joelho.
Zeca Cassettari, Pelé, Cyro Cassettari e Carlos Zimmerman |
Segundo Cyro Cassettari, o anúncio de que Pelé não atuaria mais na Seleção Brasileira foi feito neste jogo entre Palestra e Santos no intervalo. Ele pediu que alguém chamasse o repórter da Gazeta, Peirão de Castro e concedeu a entrevista.
O jogo também teve uma marca incrível na carreira de Pelé. Ele que fizera na região o seu primeiro gol, fez neste jogo o gol 1200 e foi substituído no segundo tempo pelo jogador Babá. O Rei foi tratado como tal por todas as autoridades e a imprensa local. Recebeu das mãos do então prefeito Geraldo Faria Rodrigues a estatueta de João Ramalho, uma das condecorações mais simbólicas da cidade.
O prefeito Geraldo Faria Rodrigues entrega a estatueta João Ramalho a Pelé em meio aos microfones. (Acervo da Família) |
No mesmo ano o Palestra enfrentaria ainda outra equipe de peso, o Corinthians de Rivellino no estádio do Baetão. A década de 70 seria quase inteira formada por grandes equipes palestrinas. Em 77 e 78 um novo bicampeonato amador, e o Palestra começava a não caber mais dentro do amadorismo, viria o projeto de retornar aos profissionais. Mas essa já é outra história.
Em
2014, a data completa 40 anos. Um feito que poderia e deveria ser comemorado
por nossa diretoria. Porém, os tempos são outros. Nada nos faz lembrar aquela
diretoria atuante, apaixonada e abnegada. De feitos como esses só nos restam
lembranças e poucas esperanças de mudança.
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