segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Os 10 anos em que o Palestra virou ‘PSB’

Na rica e gloriosa história octogenária do Palestra de São Bernardo não se pode deixar de abrir um parênteses para o ‘PSB’, que claro, também é Palestra, mas que foi uma tentativa frustrada de se mudar o nosso destino. A lição, no entanto, foi compreendida: O Alviverde Batateiro é eterno! Não há como se desconectar do passado.

A mudança aconteceu em 2005 e prometia ser a virada para um tempo de prosperidade. Na época, houveram críticas e elogios na mesma dosagem. Enquanto os mais saudosistas se revoltaram, muitos viram ali a chance do clube finalmente crescer. Como já diz o ditado, o tempo é o senhor da razão. E nesse caso foi, provou que uma revolução tão drástica como aquela não poderia dar certo. O Palestra se voltou contra o seu passado, negou suas origens, embora o projeto fosse ousado e bem elaborado. A mudança não é um orgulho, mas jamais devemos nos envergonhar do ocorrido.

Vamos voltar um pouco para relembrar o que ocasionou o projeto. 


Um Palestra desgastado

No fim dos anos 90, o Palestra bateu na trave dos acessos. O fim daquela década talvez tenha sido oficialmente os últimos anos em que os clubes pequenos conseguiram respirar sem ajuda de aparelhos, embora o profissionalismo já fosse algo difícil. Em 1997 o Palestra voltou na 5º divisão de onde estava ausente desde 1992 e logo conseguiu o acesso para a chamada ‘B1’ em um belo time montado pelo saudoso técnico Chico Formiga. O Paulistão chegou a ter até a 6º divisão (chamada de B3). Justamente em 2005 foi que as divisões se unificaram em apenas uma, a chamada ‘Segunda Divisão’.

Em 1999, com Paulo Leme, ex-Santos, como atleta e Lance, ex-atleta do Corinthians como treinador, o Palestra triscou o acesso ao perder nos últimos minutos para o Marília em pleno Estádio da Vila Euclides. Algo tão inacreditável quanto o acesso perdido em 2009 em Taubaté, recém retratado pelo blog ‘Palestra Sempre’.

Em 2000, 2001, 2002 e 2003 o Palestra fez campanhas semelhantes, sem passar nenhuma vergonha, porém não indo tão longe na competição. Infelizmente os registros dessa época são extremamente vagos. Tanto informações dos campeonatos quanto o de imagens, talvez porque na época a internet não fosse tão difundida até então. Em 2004, este que vos escreve já pode falar melhor, pois foi o ano que iniciou suas atividades como repórter e a ter um contato maior com o clube.

O Palestra foi, aliás, o meu segundo trabalho como repórter. O primeiro havia sido um jogo de futsal pela Copa São Bernardo de Futsal no Poliesportivo. Lembro bem de ter chegado tímido a um treino do clube na Vila Euclides durante a semana, era uma terça-feira. O primeiro a me receber – extremamente gentil, diga-se – foi o diretor de futebol, Antonio Schank. Uma pessoa muito amável e que infelizmente, como muitos, deixou de forma injusta o clube. O segundo foi o técnico Carlos Ling, a quem eu entrevistei naquele dia. Ling foi um dos grandes atletas palestrinos na década de 80 logo que o Alviverde retornou ao profissionalismo em 1986.

O Palestra era o único clube da cidade nos profissionais. O EC São Bernardo havia se licenciado em 2002, logo que rebaixado à última divisão, a B3, com uma das campanhas mais horríveis já feitas por um time profissional. Fato que fez o famoso pior time do mundo, o Íbis -PE  desafiá-los em rede nacional, no programa Globo Esporte para saber quem era o pior. O S.Bernardo FCLTDA seria fundado no fim de 2004, mas só entraria em campo em 2005. O fato de ser o único representante batateiro, no entanto, não empolgava nada a torcida que ia ao estádio em pouquíssimo número. Somente parentes, amigos e alguns curiosos.

Desde que deixara de ser um clube de ‘bairro’, o Palestra nunca arrastou um grande público aos campos. Quando voltou aos profissionais no fim dos anos 80 o time já jogava no Baetão, porém, a sua casa mesmo, ainda era o bom e velho Ferrazópolis. Com a decadência de sua sede, pouco a pouco o Palestra se afastaria dela, até que no início dos anos 2000 essa ligação se romperia de vez com a invenção do chamado IPEC (Instituto Palestra de Educação e Cultura) construído no espaço do campo e das arquibancadas do seu estádio. Um episódio triste na nossa história e que marcou o fim de uma era gloriosa.
O fim do campo do Ferrazópolis tornou a Vila Euclides a  nova casa do Palestra (Prefeitura SBC)

A obra do IPEC foi embargada pela Prefeitura que questionou a sua legalidade. Segundo a Câmara dos Vereadores, como o local foi cedido em comodato para uso da comunidade, não poderia ser transformado em um local de uso particular. No entanto, o que muita gente ainda discute erroneamente, é que o contrato de uso do Palestra sobre o espaço mudou ao longo dos anos, passando a ser em outro termo, diferente do comodato, já que foi dado como ‘indenização’ pela perda do seu estádio na Rua Marechal Deodoro onde hoje está a Praça Lauro Gomes. O responsável pela mudança foi o prefeito Aron Galante.

Muitos tentaram tomar a área do Palestra. Se não fosse o novo contrato, certamente o clube já a teria perdido. Hoje, embora a coletividade palestrina não faça real uso do patrimônio do ‘seu’ clube – alguns nem sabem se aquilo pertence ainda, ou não, ao Palestra – o espaço é patrimônio da instituição. Pena que tão mal usado e para o benefício de pouquíssimos.

Voltando a 2004, o Alviverde fizera aquele ano uma bela primeira fase se classificando com antecedência para a fase seguinte. O time tinha Césinha, Marcinho, Le, Ale, Léo, Índio, Cicinho e alguns outros. Na virada de turno uma imbecilidade colocou tudo a perder: a troca de técnico e a chegada de alguns ‘medalhões’ à equipe.
Ling tornou-se auxiliar. Veio o técnico Rotta, que acabara de ser campeão da Copa São Paulo de Juniores com o Santo André sobre o Palmeiras no começo daquele ano e que também conduzira o Grêmio Barueri, em franca ascensão. Junto a ele vieram Roque (ex-Portuguesa de Desportos), o goleiro Gustavo filho do técnico Luis Carlos Ferreira e o veterano Betinho, ex-Palmeiras, que depois viraria técnico.

O linha dura Rotta. Jogadores se queixavam do estilo do técnico (internet)

O resultado das mudanças foi desastroso. O Palestra que fizera uma ótima primeira fase seria a vergonha da segunda. Mas, como a reportagem não se trata de 2004 vamos deixar a campanha deste ano para outra oportunidade. O que devemos lembrar é que a diretoria errou feio, tanto nas mudanças quanto na administração, já que um erro de registro de um atleta fez o clube perder cinco pontos na competição sendo o lanterninha da segunda fase. Foi nessa fase terrível, aliás, que surgiu o embrião da torcida ‘Loucos do Palestra’. Mas essa história fica para 2016 quando ela completa 10 anos.


O ABC no auge... Faltava o Palestra!

Em 2004 o ABC estava no auge do futebol como nunca antes. O São Caetano, que já havia se consagrado um fenômeno desde o início da década com as duas finais seguidas, na João Havelange em 2000, o Brasileirão de 2001 e o vice da Libertadores em 2002 era o atual campeão Paulista. No mesmo ano, o Santo André vencera a Copa do Brasil sobre o Flamengo em pleno ‘Maracanã’, uma conquista homérica. Faltava São Bernardo do Campo... O responsável por preencher essa lacuna só poderia ser o Palestra.

Santo André e São Caetano estavam no auge. Enquanto o Azulão era o atual campeão paulista, o Ramalhao era campeão da Copa do Brasil (internet)

Uma reportagem da finada Gazeta Esportiva se pautava exatamente nessa questão. O título da matéria falava: ‘O santo que falta no ABC’, contando um pouco da história do Palestra, dos seus planos e suas dificuldades. O clube não contava – como quase sempre em toda a história e ao contrário dos seus vizinhos que estavam no ápice – com apoio da administração municipal. Na própria matéria da Gazeta Esportiva, o presidente Fábio Cassettari contava que era difícil manter o elenco com o único patrocínio de uma fábrica de zíperes.

Aquele final de campeonato em 2004 para o Palestra foi amargo. Várias goleadas para um time que sabia que tinha um bom potencial. Alguma coisas precisavam ser mudadas nos métodos e nos conceitos do clube caso a equipe não quisesse seguir os rumos do rival EC São Bernardo.

No final do mesmo ano, logo após o fim do Paulista em meados de setembro, a diretoria começou a pensar em uma estratégia de mudança. Uma das principais metas era se aproximar da política. Uma habilidade que o Palestra nunca teve.

O velho Palestra já não empolgava como na década anterior e poucas soluções pareciam suficientes. A imagem do clube estava cansada, desgastada. Era preciso criar a ideia de algo quase totalmente novo para gerar credibilidade. 

Embora a nova roupagem ao já veterano clube viesse a causar uma enorme ferida no coração dos palestrinos, especialmente os da velha guarda, o projeto de marketing era bem feito, embora fosse uma aposta arriscada demais. Para arregimentar mais torcida, patrocínios e parceiros o Palestra precisava começar vencendo e empolgar para que ‘talvez’ os torcedores mais antigos conseguissem alguma simpatia. Se não emplacasse, além de não conquistar os novos adeptos, perderia os veteranos.


A nova roupagem

Não temos os detalhes dos acordos políticos, mas o fato é que o Palestra seria o novo clube da cidade com o apoio da prefeitura. Curiosamente, o então Secretário de Esportes e um dos homens fortes da administração municipal, Edinho Montemor – que viria a ser o presidente do S.Bernardo FC – foi quem sugeriu que o clube abandonasse o nome ‘Palestra’ e mudasse as cores para que acabasse a eterna associação do Palestra à Sociedade Esportiva Palmeiras, algo inevitável e corriqueiro em nossa história. O nome pensado foi ‘PSB’, siglas das iniciais do nome. Um nome simples, fácil de ser decorado, assim como PSV e PSG, por exemplo.
O que se dizia nos bastidores era que o nome tinha outra razão de ser: o partido do prefeito Willian Dib (PSB), mas o fato não procede. A idéia era mesmo apenas diminuir o nome antigo. Edinho, que foi jogador do Palestra e campeão nos anos de 77, 78 e 79 no Amador, confirma a informação. A sugestão foi dada em uma conversa entre Cassettari e ele.

Se deixaria de ser ‘Palestra’ para evitar comparações com o Palmeiras, não teria sentido manter as cores verde e branca. As cores escolhidas foram o vermelho e o branco que, segundo anunciado oficialmente representavam as cores do município. O vermelho também está na bandeira da Itália, as cores que inspiraram a fundação da Societá Palestra Itália e consecutivamente também o nosso Alviverde.

Mudou também o mascote, um ‘cão São Bernardo’ desenhado pelo cartunista Juarez Correa, substituindo o pouco popular periquito que o palestrino e palmeirense Cyro Cassettari havia inventado, e o hino, que ganhou uma letra bonita, bem composta por Wagner Donizeti Lima, um conhecido jornalista da TV Gazeta, que agora integrava a diretoria. O hino antigo, composto pelo eterno professor das escolinhas, José Rossi, poucas vezes foi ouvido, embora a letra esteja no livro do cinqüentenário do clube e a partitura guardada na sede.

O Periquito deu lugar ao Cão São Bernardo (palestra.webs)

Todas essas novidades foram anunciadas em uma solenidade na sede do clube no Ferrazópolis com a presença maciça da imprensa no início de janeiro. A velha guarda também compareceu, mas ficou evidente com o passar do tempo que havia um certo desconforto com a mutação do velho Palestra.


O planejamento previa alcançar as divisões superiores logo. Haveriam divisões de base, sub-15, sub-17 e sub-20, bem organizadas, com comissão técnica, centro de treinamento e até patrocínio. O próprio IPEC estaria na camisa listrada em vermelho e branco – semelhante a do Bangu-RJ. A promessa era ser auto-sustentável.

O estádio da Vila Euclides, que há anos estava bastante obsoleto passou por uma boa reforma e os jogos eram transmitidos pela TV local, a TV+, que também estampava as camisas da equipe. Uma nova diretoria foi montada, inclusive com a vinda do experiente cardeal são paulino, Carlos Caboclo, que vinha passar um pouco do seu conhecimento na montagem da comissão e do time.

Se todos planos tivessem progredido, certamente o PSB teria feito um grande sucesso, mas nada na vida do Palestra é fácil. O comentário de que outra ‘nova’ equipe surgiria já corria solto nos bastidores do futebol da cidade e logo na sequência do anuncio do Palestra repaginado veio a notícia do surgimento de outro clube, o São Bernardo FC. Enfim, o desfecho desse capítulo da nossa história, em se tratando do Alviverde não é tão imprevisível. Retrataremos lá na frente.
A equipe que disputou a Copinha. PSB caiu no difícil grupo de Galo e Furacão, mas lotou o estádio (Acervo Palestra SB)


Antes, no intervalo entre o anúncio e a estreia da equipe criou-se uma boa expectativa. O técnico seria o mesmo que havia encerrado a temporada passada, o durão Rotta. Este que vos escreve, ainda um iniciante no rádio, escolheu continuar cobrindo o cotidiano do clube que estava alojado e treinando no Clube da Ford, no bairro Alvarenga. Ia a pé aos treinos. A paixão pelo clube efervesceu naquela época. 

Enquanto isso, estreava a equipe na Copa São Paulo. O PSB caiu no grupo de Atlético-MG, Atlético-PR e Tocantinópolis. A estreia foi contra os nordestinos em um jogo cheio de pompa e com o estádio lotado de gente, 10 mil pessoas. Nas arquibancadas todos queriam ver o novo time de São Bernardo. O Palestra perdeu, assim como perderia os dois jogos seqüentes. Mesmo assim, as derrotas não desanimaram a expectativa de ver os profissionais do clube jogar.

Uma lembrança inesquecível daqueles jogos foi o gol olímpico – possivelmente um dos mais bonitos da história da Vila Euclides – anotado pelo lateral direito Césinha, remanescente de 2004, neto do jogador Riberto do São Paulo.


Começa a competição

 O novo São Bernardo também estaria no Paulista da Segunda Divisão naquele ano. Saiu a tabela da competição que, como já dito, seria unificada e divida em grupos. O PSB estaria no grupo 6, ao lado dos times litorâneos, além do Barcelona de Capela do Socorro e Osasco.

Primeiro time a vestir o uniforme do 'PSB'. Vitória diante do novato Cubatense por 2x1 (Jogos Perdidos)


Foram 40 equipes divididas em seis grupos, alguns com sete times outros com 0ito. A estreia seria diante do Cubatense no dia 11 de abril de 2005. O primeiro da história dos adversários. 

O PSB venceria por 2x1 com gols de Césinha e Daniel. A campanha na primeira fase, aliás, seria muito boa. Mas a essa altura o Palestra já não contava com a principal aposta daquele ano, a ajuda da administração municipal. O novo time já nascera em berço de ouro, cercado de privilégios e preferências. Eram vários os políticos que compunham a sua diretoria.

Veio depois a partida diante do Jabaquara, também em casa. O PSB era uma equipe bem arrumada, bem treinada e com um bom elenco à disposição. O Leão da Caneleira tinha naquele ano uma parceria com o time do Rei Pelé, o Litoral FC e começou o jogo abrindo o placar por 2x0. Ainda na mesma etapa o Palestra fez mais três gols e o goleiro Carlos Luna ainda defendeu um pênalti.

O jogador Mineiro, hoje fora do futebol, lembra com saudades daqueles tempos. Ele relata que na partida diante do Jabaquara um empresário engordou o bicho dos atletas. “Nunca tinha visto tantos empresários em um mesmo vestiário. Ai um deles levantou a voz e disse que pagaria mil reais para ser dividido entre os jogadores se o empate permanecesse, e dois mil caso virássemos. Na segunda-feira chegou o nosso dinheiro”, conta.

Mineiro vinha justamente do Jabuca, onde ficou por dois anos. Atuou ao lado de Dick, que em 2014 foi campeão Paulista jogando pelo Ituano.

A terceira rodada foi contra o Guarujá fora de casa no estádio Antonio Fernandes. Viria a primeira derrota por 3x2. A quarta rodada, novamente em casa foi contra o Barcelona, empate em 2x2.
Palestra empatou com o Barcelona por 2x0 (Jogos Perdidos)


O 1º derby da cidade

No dia 21 de maio aconteceria o primeiro derby da cidade. Os jornais deram grande destaque ao duelo. O Palestra perderia por 2x1 em um jogo duro, onde o agora ‘alvirrubro’ deu o máximo de si. O PSB jogou com Carlos Luna, Marcelo, Samuel, Thiago Locatelli, Mineiro e Leandro Ono, Da Silva, Jardel, Clóvis e Piu-Piu. O jogador Thiago, ou ‘Piu-Piu’, como era chamado foi o autor do único gol palestrino. 

O PSB saiu derrotado do primeiro duelo contra o seu novo rival, 2x1 em um jogo eletrizante (Jogos Perdidos)


As fotos do pessoal do site Jogos Perdidos, do qual retiramos grandes informações e fotos para esta matéria (desde já agradecemos) comprovam que, embora a torcida dos rivais fosse maioria, a do Palestra não decepcionou neste duelo.

Aquela derrota doeu muito no PSB, A rivalidade entre os dois times ia muito além do campo. Era política pura envolvida. Tanto que custou o cargo do técnico. 

Rotta estava em uma ótima fase da carreira; veio ao Palestra com bagagem e a tarimba de ter levado o Santo André e o Barueri ao sucesso, porém, internamente, perdia cada vez mais o comando por sua personalidade muito forte. 

Aquela semana foi de mudanças na equipe. O clima no Clube da Ford ficou tenso. Junto com Rotta, alguns atletas deixaram o PSB e vieram reforços. Muitos boatos rondavam o elenco. Alguns deles diziam que os atletas se envolviam em constantes ‘festas’. Todo o planejamento e esforço não poderia ir por ralo abaixo. 

Carlos Caboclo, com vivencia no Tricolor indicou o técnico José Nogueira. Um treinador no melhor estilo são-paulino, calmo, estudioso e disciplinador. Nogueira caiu como uma luva naquele momento.

No jogo seguinte, em Registro, comandado por um interino, o Palestra foi derrotado pelo Comercial, 1x0.

Veio o returno, e o Palestra sofreu uma revanche do Cubatense por 1x0 já sob o comando de Nogueira. Era cedo para tirar conclusões, mas o resultado preocupou a diretoria. Na 9º rodada, no entanto, o PSB retomou as vitórias goleando o Osasco FC por 4x1 na Vila Euclides. O clima era de reabilitação na concentração.

Fomos ao estádio Espanha encarar o Jabaquara e voltamos a perder: 2x0. Nesse jogo, uma passagem até irrelevante, mas curiosa:

O assessor de imprensa do PSB, o jornalista José Isaías, muito conhecido no meio, não gostou do fato deste repórter viajar com a delegação no ônibus, como fiz muitas vezes desde então, embora autorizado pelo técnico. Em Santos, na cabine de imprensa ele afirmou que eu deveria ‘voltar a pé’, mas acabei defendido pelo sempre zeloso diretor Antonio Schank. Aquele fato me chateou muito. Cheguei até a pensar em deixar o Palestra, mas eu nunca esqueci o carinho do veterano Schank. O fato curioso é que este mesmo novato seria a partir do ano seguinte o assessor de imprensa do clube por cinco anos.

Em casa, vencemos o Guarujá por 1x0 e o Barcelona por 2xo. 


A revanche sobre o rival

No segundo turno, os palestrinos estavam ansiosos para encarar o rival. De vermelho ou de verde, curiosamente, o espírito da garra e da raça palestrina prevaleceu. A determinação e a união eram talvez os únicos resquícios herdados do Palestra. Sempre o mesmo espírito: lutar contra tudo e contra todos. 

Atacante Clóvis do PSB tenta marcar (Jogos Perdidos)


Assim como no jogo de ida, o duelo ganhou as páginas dos jornais. Ao contrário do outro time da cidade, o Palestra não tinha nenhuma torcida organizada, muito menos patrocinadas pelo próprio clube. Na arquibancada palestrina apenas pais, parentes, amigos de jogadores e alguns curiosos. Um número razoável.
Nessa época este repórter pertencia ao STI Esporte cobrindo dia-dia do PSB e acabei não sendo  escalado para compor a equipe que transmitiria a partida pela web e por uma rádio que transmitia apenas local para os aparelhos que estivessem nas imediações do estádio. Poderia ver o jogo das arquibancadas, o que eu achei ótimo, pois queria muito poder ver o jogo como torcedor.

“Nessa altura eu já tinha um envolvimento forte com o Palestra. A gente convive vários dias da semana com aquelas pessoas, partilha da ansiedade, das dificuldades, alegrias, enfim, já estava contaminado pelo palestrianismo e torcia muito para que vencesse aquele jogo”.

A partida, além da recente rivalidade e dos fatores políticos, valia também continuar na briga pela classificação à segunda fase. Para avançar o Palestra necessitava vencer. E... Venceu!

Vitória palestrina foi 'banho de sal grosso' na competição(Jogos Perdidos)


Novo técnico, novo espírito

O Palestra já contava com reforços que deram peso ao time como a subida de alguns atletas da base - Uma bela base, diga-se de passagem - e o zagueiro Rancharia, por exemplo. Jogador clássico que vinha do São Caetano. O feito de derrotar aquele rival coube a Richard.

O gol, é claro, não teria graça se não fosse quase aos 42 minutos do segundo tempo depois de um jogo muito duro, tático, com o dedo dos técnicos Sousa e Nogueira. Vitória por 1x0 e uma comemoração interminável de jogadores e torcida. Ninguém apostava no PSB. O maior número e a ‘empolgação’ de momento dava o favoritismo total ao adversário.

Após um contra ataque ele encobriu o goleiro na intermediária e fez um baita golaço. Do lado da social foram só grito e festa da diretoria. O diretor Schank era um dos mais efusivos junto ao presidente Cassettari. Aquela vitória no dia 09 de julho lavou a alma do Palestra.

“Eu não aguentei na hora do gol e comemorei bastante. O pessoal do São Bernardo não gostou e até reclamou para a direção da emissora, mas eu sinceramente nem liguei”.

No último jogo da primeira fase o PSB venceu o Comercial por 2x0 e confirmou sua ida para a próxima fase. Neste ano eram apenas três fases. Além de Palestra, classificaram-se no mesmo grupo o rival São Bernardo FC e Jabaquara.

Na próxima fase, o clima foi outro. Vários fatores mudaram o clima da equipe, parecia final de festa. Alguns jogadores deixaram o time, subiram mais atletas da base e a história dos anos anteriores se repetiu: Todo esforço acabou sendo em vão.


A decadência do projeto

O PSB já não tinha mais bala na agulha. No decorrer do campeonato os parceiros foram se distanciando e o orçamento teve que encolher. Passar para uma outra fase, e até divisão, seria um custo da qual o Palestra não tinha garantias. A campanha foi sofrível, apenas um ponto em seis jogos. Palestra 0x3 Guaçuano; Santacruzense 2x0 Palestra; Penapolense 1x0 Palestra; Palestra 3x4 Penapolense; Palestra 1x1 Santacruzense e Guaçuano 5x0 Palestra.

Equipe da segunda fase já bastante diferente da primeira. (Jogos Perdidos)

O diretor da equipe na época, Antonio Schank, hoje com 80 anos e muita experiência diz que faltou ‘vitaminar’ o time naquela fase “Toda vez que o clube passa de fase é preciso aumentar o dinheiro, nosso futebol hoje funciona assim”, comenta ele, que relata tudo com cautela. O Palestra ainda lhe causa certa mágoa. Não o clube, mas as pessoas “É uma pena que o Palestra hoje não esteja no futebol, é um clube muito tradicional. Os outros clubes vão fechar, acabar e o Palestra não, é um clube eterno”, lamenta. 

Schank permaneceu no Palestra de 2001 a 2010. “Desde que sai do Santo André eu fui para o Palestra, fazia de tudo lá, tomava as providencias necessárias, urgentes, ônibus, pagamento, campo...”, lembra. Schank perdeu um pouco do seu espaço aquele ano com a chegada de Carlos Caboclo, mas era leal ao clube, não desistiu e prosseguiu seu trabalho com afinco. Foi treinador das escolinhas do IPEC, zelou pelo patrimônio do clube como fotos, troféus, quadros e camisas. Manteve tudo sobre a mais perfeita ordem na sede do clube e choraria hoje se visse onde tudo isso foi parar. Um amontoado de relíquias tratadas com entulho pela atual diretoria.

O veterano, ex-jogador de Corinthians de Santo André e Juventus-SP, e também treinador do falecido Aliança Clube, acha que São Bernardo do Campo não possui espaço para dois clubes. “Um atrapalha o outro. Dois times em uma mesma cidade quase nunca dá certo”, afirma.
Schank era o 'faz tudo' do Palestra (Metodista)


O campeão da Segunda Divisão aquele ano foi o São Carlos FC, um clube novo, com nenhuma ligação com o tradicional Grêmio Sãocarlense. O vice foi o Osvaldo Cruz. Subiram além do campeão e do vice o novato e o rival São Bernardo FCLTDA, além da Santacruzense, que por ironia do destino aquele ano contava com Carlos Ling como técnico. 

Mais uma vez vivíamos o mesmo dilema: a falta de continuidade. Os projetos eram ótimos, realmente revolucionários, como citava um certo trecho do nosso novo hino, mas não tinha sequência. Se o Palestra quisesse novamente entrar em campo no ano seguinte teria que pensar em uma nova fórmula. E tudo aquilo desgastava ainda mais a imagem do Palestra. Ou seja, a roupa era nova, mas o modelo ainda era o mesmo!
Havia ainda em disputa os campeonatos Sub-20, Sub 17 e Sub-15 aonde o PSB também fez boas campanhas. Só para citar um dos resultados, o time aplicou uma goleada no EC São Bernardo - tão frágil quanto suas últimas equipes profissionais - um suntuoso 7x1.

 
Vitória por 7x1 diante do EC São Bernardo no Clube da Ford (Jogos Perdidos)

Houveram ainda bons jogos a se acompanhar naquele ano, como os dois derbys entre PSB x São Bernardo FC no sub 15, 17 e sub-20. No sub-20 atuaram jogadores do profissional de muita qualidade, como por exemplo, o lateral Leandro Ono, o volante Éder e os jogadores Willian – remanescente de 2004 e que permaneceria para 2006 – e o meia Amauri, um jogador diferenciado que depois passaria por São Caetano, Guarani, Corinthians e Santo André, onde atuava quando veio a falecer precocemente aos 21 anos envolvido em um acidente de moto em 2008. 

A notícia foi dada com muito pesar nos jornais da época. Amauri era uma grande promessa do futebol. Outro jogador já falecido desta temporada foi meia esquerda Ricardinho, que segundo relatos morreu no vestiário vítima de um mal súbito em meados de 2010.

Equipe Sub-20 do PSB. Amauri é o quinto da esquerda para a direita (Jogos Perdidos)

O fim do PSB

O ano se encerrou e a frustração foi inevitável. Com o acesso conquistado pelo São Bernardo FCLTDA, o Palestra estava fadado a viver o escanteio na cidade. Certamente sobraria pouco espaço para o Alviverde. 
Cogitou-se nos bastidores de que com a debandada de parceiros, patrocínios e pessoas do clube, o PSB poderia até mesmo se licenciar em 2006, um golpe muito duro para quem acaba de anunciar tantos planos para o futuro. Seria vergonhoso.

O clube então resolveu em 2006 terceirizar o futebol. Três empresários tocariam o departamento por três temporadas: Otto Giorgi, Marcelo Muoio e Milene Castilho. Todos advogados e com alguma ligação com o Palestra. Otto chegou inclusive a ser atleta das escolinhas do clube nos anos 80 no Ferrazópolis, comandadas pelo professor José Rossi.

O Palestra de 2006 voltou a usar o verde e branco, mas como terceiro uniforme (Jogos Perdidos)


A boa notícia: O PSB voltaria a ser Palestra, porém com a mesma roupagem atual. A camisa verde também ia voltar, porém como terceiro uniforme. Hoje, vemos que insistir naquele projeto de marketing elaborado em 2005 não fazia o menor sentido, porém a idéia era não confundir o público com tantas mudanças constantes. 
Vermelho ou não, o certo é que os problemas ainda eram os mesmos: falta de investidores.

Os três novos sócios do futebol do Palestra eram bem intencionados. Tentaram por vários meios articular parcerias e estratégias de marketing, mas como já dissemos aqui e dizemos sempre, nada é fácil na vida do Palestra. Aquele ano, embora o time não fosse ruim e tivesse feito bons jogos no melhor estilo da ‘raça palestrina’, o time dessa vez não passaria para a segunda fase.

Se 2006 parecia ter sido ruim,embora com alguns destaques para o jogador Danilo, que chamou atenção de toda grande mídia por ser surdo e mudo, a parceria com o Clube Mesc nas divisões de base e pela criação da torcida organizada, o ano 2007 foi ainda pior, só sendo superado pela campanha trágica de 2011.

Com a camisa vermelha, o já 'Palestra' conquistou dois únicos títulos, a Copa Bandeirante - Sub-15 em 2006 e 2007 em uma parceria com o Clube Mesc.

Palestra campeão da Copa Bandeirante organizada pela Associação Paulista de Futebol (Acervo Palestra SB)


Este já não era mais o PSB como relatamos acima, porém ainda era um Palestra com algumas mutações. Mutações que só se encerrariam em 2008 quando o Palestra anunciou o rompimento da parceria e o licenciamento do profissionalismo.

Foi triste se licenciar após 10 anos consecutivos no profissionalismo. Mas a promessa era de que o Palestra se ausentaria para retornar mais forte em 2009. E voltou! A história deste retorno está relatada neste blog. A palavra na época foi ‘Não é um Adeus , e sim um até logo!’.
A equipe de 2007 foi uma das lanternas da competição (Jogos Perdidos)


O retorno do eterno Alviverde Batateiro

Quem é palestrino - e talvez apenas os palestrinos saibam - deve ter tido a mesma sensação. Existia nesse período de 2005 a 2007 um clima desconfortável aos torcedores. Muito parecido com aquela sensação de quando você sai de casa com alguma roupa que você não gosta ou se sente bem. Por mais que o tempo tivesse aliviado aquela mágoa da mudança, havia ainda certa inquietação de que aquele não era o bom e velho Palestra de São Bernardo. É como passar uma temporada na casa de algum primo. Por melhor que seja - e não foi – nada é como voltar a casa da gente.

Torcedores mais antigos, veteranos, ex-jogadores, gente do Ferrazópolis, enfim, muitos diziam que haviam ‘matado’ o glorioso Palestra, que aquele novo time não era o simpático ‘Ferrão da Vila’. Ou seja, a situação anterior a 2005 se agravou ainda mais. Além de não arregimentar novos torcedores, o clube havia perdido os que restavam. O Palestra necessitava voltar a suas origens, voltar a ser o Palestra que muitos aprenderam a amar. Até então, tudo isso era meramente uma sensação.

Nessa ocasião, este que vos escreve teve a grande honra de participar da decisão de devolver ao Palestra sua verdadeira identidade. “Era um momento difícil, pois há muito tempo não ficávamos de fora do futebol, toda a imprensa lamentou muito aquela ausência. Como assessor de imprensa posso dizer que o Palestra sempre foi muito querido pela mídia de forma geral. Aquela dificuldade do momento nos uniu em torno do clube. Certo dia, em uma longa conversa com o presidente Fábio Cassettari em seu escritório ele me perguntou o que eu achava em voltar a ser verde e branco como antes. Minha grande preocupação era na repercussão de se fazer mais uma mudança em um curto intervalo, mas colocando os fatos na balança concordei prontamente e, ali, naquele instante o Palestra voltou ao seu escudo e camisa verde”.

A camisa com o escudo novamente verde foi apresentada em um evento na sede do clube (Acervo Palestra SB)


Foi a melhor decisão que poderíamos ter tomado nos últimos anos. Em um evento na sede do clube anunciamos a programação do ano e a grande novidade, a volta do verde e branco. Cassettari prometeu abertamente que jamais o Palestra mudaria novamente suas cores e símbolo. A imprensa repercutiu a notícia. Um boletim do clube chamado ‘Gazzetta Palestrina’ destacava a novidade.

Se o grande feito de continuar Palestra mesmo após o período da Segunda Guerra, ao contrário de Palmeiras e Cruzeiro pertenceu ao nosso clube, como ter vergonha, negar ou simplesmente querer mudar isso? O verde e branco é sim inspirado na Sociedade Esportiva Palmeiras, até então Palestra Itália, mas isso não cria elo com a agremiação, a não ser o fator histórico. Ao contrário, o Palestra nunca teve sequer parceria com o Palmeiras. Algo que claramente não teria problema algum, mas o fato é que nunca houve. Ser ainda hoje ‘Palestra’ é sem dúvida um dos maiores orgulhos do palestrino.

A evolução dos símbolos do Palestra
Do PSB sobraram o hino – que depois o autor da nova composição, Vágner Donizetti Lima – adaptou com novas estrofes exaltando o verde e branco, o mascote, o ‘cão São Bernardo’, bem mais original que o antigo periquito e, a grande lição de que jamais podemos nos desligar de nossa história, das nossas tradições, independente da fase. O Palestra será Palestra, sempre!

3 comentários:

  1. Olá!!! Alguém sabe por onde anda o Raul Zanata? Éramos amigos nos tempos em que ele jogava no Palestra, mas nunca mais soube dele.

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    1. Raul Zanata faz parte de grupo de Whatsapp de Santistas que tbm faço parte.

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    2. Que legal!!! Bom saber que ele está bem!!

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