O Palestra São Bernardo completa 85 anos em 2020. De lá pra cá foram inúmeras glórias, passagens importantes e, claro, títulos. Mas, apenas um deles é o de campeão pela Federação Paulista de Futebol. O de 1992 no Paulista de Juniores da 2º Divisão. Uma espécie de Sub-20.
A mais famosa taça na galeria palestrina é da Série B1b em
1997, porém, de vice-campeão. Na oportunidade o vencedor foi o Oeste de
Itápolis. Desde então o Palestra enquanto profissional passou a integrar a
Série B1 da época, hoje conhecida como Segunda Divisão, ou, o quarto nível
estadual.
Além da taça, um dos mais marcantes fatos dessa equipe é a
formação de um jovem garoto de apelido “Cacá”, dado pelo treinador Sérgio
Caiado. Um franzino habilidoso que jogava na meia esquerda com a camisa 8 e que
os colegas garantem já ter uma habilidade diferenciada de qualquer outro. Cacá
é Zé Roberto, nome que ficaria imortalizado na Portuguesa-SP, clube para o qual
seguiu antes mesmo do fim da competição e seria de fato revelado.
E aí também há uma questão curiosa. Até hoje Zé Roberto em
diversas entrevistas diz que o clube que o revelou foi a Lusa do Canindé. E de
fato foi aquele que lhe apresentou ao futebol, ou seja, o revelou. É muito
justo que a Portuguesa seja considerada o seu clube revelador, ainda que o
Palestra tenha sido o primeiro.
Em 1991 contam alguns atletas a equipe carecia de um pouco
mais de estrutura. Não tinham ajuda de custo e treinavam em um período mais
alternado, o que dificultou ir mais longe naquela competição. A ideia era
preparar atletas para os profissionais, algo que o Palestra sempre fez muito
bem. Em 1993, nos profissionais o Palestra voltou a pedir afastamento da
Federação para reorganizar a casa. Ou seja, sentiu o peso do profissionalismo,
algo que demorou mais de 30 anos para acontecer. Voltaria em 1997 com título como
mencionamos.
Já em 1992, o clube conseguiu apoio para investir um pouco
mais na categoria, e isso foi fundamental para a conquista. Os jogadores
passaram a ganhar vale transporte, refeição e uma ajuda financeira. Passaram a
treinar em dois períodos e a se alojar na sede do clube no Ferrazópolis. Há
muitos anos que o Palestra investia pesado na base como principal caminho de
estar nos profissionais.
Cristiano Pereira, que jogou nessa época, nos lembra um
pouco daquela época. Ele é conhecido como “Pereirinha”, já que é sobrinho do
Pereira, ex-zagueiro do clube de 1989 a 1992. Ele chegou ao Palestra em 1990,
um ano do clube disputar os torneios nas categorias de base. Ele lembra que em
1991 foi uma época bem difícil e havia pouca perspectiva. O clube saiu após uma
derrota para o Jabaquara de Santos por 5x1. Lembra ainda de uma vitória sobre o
Mauaense e uma derrota para o Guapira, outro clube licenciado do bairro do
Jaçanã em São Paulo, do qual o Alviverde enfrentou diversas oportunidades.
Técnico Sérgio Caiado, um grande nome do esporte batateiro
No ano seguinte, Caiado, um dos maiores nomes do esporte
são-bernardense, já debilitado, deu lugar a Benê, mais precisamente Benedito
Carlos de Souza, ex-jogador corintiano de 1963 a 1971. Benê mora atualmente em
Sorocaba onde tem uma escolhinha de futebol. Caiado faleceria pouco tempo
depois. Hoje ele dá nome ao estádio distrital do Olaria, no bairro Baeta Neves.
Benê também havia passado como técnico pelo rival EC São Bernardo.
Pereirinha em relato lembra que para 92 vieram atletas de
grande qualidade como o próprio Cacá, o Zé Roberto, que vinha do Pequeninos do Jóquei,
- um clube com foco no social muito tradicional que já ganhou diversos títulos
-, alguns atletas do Santo André, como Rocha, Neno e Josa, que fizeram o time
ganhar liga. Também havia o treinador Giba, que ainda atua como preparador e
eles treinavam em dois períodos e dormiam nos alojamentos do clube. Ele lembra
ainda dos almoços na casa de João Mulambo, que era roupeiro do clube.
Pereirinha entrando no gramado do Baetão |
Na
campanha vitoriosa de 1992, o Alviverde da Autocap disputou 14 jogos, com 7
vitórias, 5 empates e apenas 2 derrotas. Marcou 16 gols e sofreu apenas 8
tentos. A grande maioria dos jogos era no estádio da Vila Ferrazópolis, casa do
Palestra.
A competição teve início em maio e acabou no fim de setembro e era regionalizada, portanto, o Palestra caiu em um grupo de clubes que frequentemente encararamos em outras competições, como o próprio rival, EC São Bernardo, o Jabuca, de Santos e o Monte Negro de Osasco, por exemplo. A propósito, 1992 seria o último ano da equipe de Osasco com esse nome. Neste mesmo ano, ele daria lugar ao Osasco Futebol Clube, que permanece até os dias de hoje.
Outro que fez parte desse equipe foi o jogador Alexandre, conhecido como Lins na época. Atualmente ele mora em Sumaré. Os relatos dele e de Pereirinha são bem semelhanças com algumas pequenas contradições.
Técnico Benê atualmente (site Milton Neves)
Segundo
ambos relatam, a equipe fazia algumas preliminares do profissional. Uma dessas
preliminares foi diante do AD São Caetano, que anos mais tarde ficaria
nacionalmente famoso com suas fabulosas equipes no fim dos anos 90 e início dos
anos 2000. A grande estrela do Azulão era o zagueiro Luís Pereira, o Luís Chevrolet,
que antes do fim da carreira atuaria também no EC São Bernardo e também
Serginho Chulapa.
A
foto dessa partida no estádio Anacleto Campanella é uma das mais famosas dessa
mesma equipe. Sobre a presença de Zé Roberto na equipe, eles contam a mesma versão.
Ele não chegou a ser campeão com o Ferrão da Vila.
Lins
lembra também que a equipe profissional era muito forte e que havia um grande
estímulo a ser promovido a equipe principal. Ele revela certa mágoa por certa
vez ter se machucado e ter tido pouco apoio da diretoria, mas, lembra também de
um jogo que foi uma verdadeira “guerra” em campo, diante do União Suzano, em 25
de julho pela 2º fase da competição. O Palestra fez 1x0 e manteve o resultado
até o fim com muito custo, relembra. Ele recorda que teve câimbras e jogou de
centroavante parado, enquanto o atacante foi pra zaga. Lins chegou a atuar no
profissional naquele mesmo ano em uma única partida contra o XV de
Caraguatatuba. O Palestra estava ganhando e ele entrou para segurar o
resultado.
Jogo no Baetão diante do rival EC São Bernardo |
A
final, quem recorda com mais precisão é Pereirinha. Ele lembra que foi um jogo
que movimentou a cidade, sobretudo o Ferrazópolis, onde o clube era mandante. O
primeiro jogo foi na cidade de Lins, no interior a 20 de setembro, em um sábado.
Zé Roberto, na época apelidado de Cacá |
O
Palestra viajou na sexta-feira e se hospedou na cidade de Cafelândia. Era um
clima de bastante festa e um calor infernal, segundo ele. O estádio Gilberto
Siqueira Lopes, o Gilbertão estava lotado. Ainda assim, lembra que foram muito
bem recebidos. Foi um jogo muito pegado, mas o esquadrão batateiro segurou um
0x0.
A
segunda final foi na Vila Ferrazópolis que estava lotada de torcedores. O time
da Linense era um time forte, mas prevaleceu a experiência dos jogadores do
Palestra. Pereirinha lembra que o time jogou desfalcado de alguns como Viola e
Maia. Havia festa, fogos e faixas.
Não há precisão na informação, mas, segundo ele os gols saíram apenas no 2º
tempo. O técnico Benê foi para o vestiário muito bravo e fechou a equipe para a
segunda etapa. A partida acabou 3x1 para o Palestra e os jogadores correram
para abraçar a torcida. Um desses gols foi de Josa, relembra o ex-atleta. Foi
uma imensa alegria. Josa, Nene e Rocha jogavam também na equipe principal. E é
possível imaginar o que aquele título simbolizava ao Palestra naquele instante.
Alexandre, Ricardo, Maia, Pereirinha, Lins, Capixaba, Farinha e Boni. Agachados: Caniggia, Marcelo, Da Lua, Zé Roberto, Goiano, França e Rick. |
A
maioria dos atletas acabou subindo, porém, em 1993 o Alviverde deu uma pausa
nos profissionais. Era uma época de transição na presidência. Estava saindo
Domingos Nóbrega Fernandes e estava entrando o jovem Fábio Cassettari, filho de
Zeca Cassettari.
A
tabela desse campeonato é uma raridade garimpada pelos queridos amigos do blog
Jogos Perdidos, que já falaram da competição no seu canal.
Os
jogos foram esses:
1º
Fase:
24/05/1992
– Monte Negro 4x3 Palestra
30/05/1992
– Palestra 1x0 Jabaquara
07/06/1992
– EC São Bernardo 0x2 Palestra
13/06/1992
– Palestra 0x0 EC São Bernardo
21/06/1992
– Jabaquara 1x0 Palestra
27/06/1992
– Palestra 3x2 Monte Negro
2º
Fase
19/07/1992 – Palestra 0x0 USAC
25/07/1992
USAC 0x1 Palestra
01/08/1992
– Palestra 0x0 Esportiva de Guaratinguetá
08/08/1992
– Esportiva de Guaratinguetá 0x2
Palestra
Semifinais
29/08/1992
-Palestra 0x0 Amparo
05/09/1992
– Amparo 0x1 Palestra
Final
20/09/1992 – Linense 0x0 Palestra
26/09/1992
– Palestra 3x1 Linense
Zé Roberto, um
silêncio que entristece
O
fato de Zé Roberto não mencionar o Palestra como seu clube revelador é
totalmente compreensível, mas ele quase nunca lembrar de sua passagem no
Alviverde até hoje magoa muitos torcedores.
Nós
procuramos ele e a assessoria para falar sobre esse episódio, mas ele jamais
respondeu. Em nenhuma reportagem dada por ele até hoje, o nome do Palestra foi
sequer mencionado. Por três oportunidades, reportagens procuraram pelo clube
para procurar saber mais do fato, mas de uma forma estranha, ele nunca toca no
assunto.
O único retorno dado até hoje por ele, foi em 2011. O então diretor Fabio Modolo fez contato com alguém ligadoao atleta. Pensava-se em dar o nome da
sala de troféus pra ele, já que ele estava em alta. Ele mandou avisar que até
ajudaria com os custos se necessário, mas nunca saiu disso. O Alviverde não
tocou a ideia adiante e ele nunca retornou.Na Lusa do Canindé
Anos depois despontou no cenário nacional jogando pela Portuguesa de
Desportos, onde, em 1996, chegou ao vice-campeonato Brasileiro.
Com a Seleção Brasileira, conquistou os títulos da Copa América e Copa
das Confederações. Em 1998 disputou o seu primeiro mundial. Reserva de Roberto
Carlos, fez parte do grupo de Zagallo na Copa do Mundo. Sem grandes
oportunidades, amargurou o banco na França e acabou de fora da Família Scolari
pentacampeã do mundo em 2002.
Na Alemanha, país em que viveu os melhores momentos da carreira, deixou
sua marca de forma incontestável. Titular absoluto de Carlos Alberto Parreira
na Copa do Mundo de 2006, foi considerado pela crítica esportiva um dos
principais jogadores do mundial. A combinação de técnica apurada e explosão
física lhe garantiu o tão esperado reconhecimento internacional.
Na partida contra Gana, jogo que consagrou o recorde de Ronaldo Nazário
como maior goleador da história das Copas, foi eleito pela FIFA o melhor atleta
em campo e, ao lado da dupla de ataque formada por Adriano e pelo próprio
Fenômeno, balançou as redes para anotar um dos 3 gols brasileiros na goleada da
equipe canarinho por 3 a 0. Foi a última vitória do elenco verde-amarelo no
mundial da Alemanha, que acabou para o Brasil nas quartas-de-final diante da
França.
Ao término do mundial, Zé Roberto retornou ao Brasil para jogar pelo
Santos. Durante os 10 meses em que esteve na Vila Belmiro, foi apontado como o
melhor jogador em atividade no país. Na temporada de 2007, levou o Peixe ao
título do Campeonato Paulista e ao terceiro lugar da Taça Libertadores da
América. Ao término do contrato foi negociado com o Bayer de Munique e depois acertou
com o Hamburgo.
Antes do clube alemão, com seu estilo absolutamente requintado, deixou
saudades aos torcedores do Bayer Leverkusen, Bayer de Munique e Real Madrid.
Em 2010 seguiu para o Al Gharafa, do Qatar, onde ficou por duas
temporadas até acertar sua volta ao futebol brasileiro, mais precisamente com o
Grêmio, em 4 de maio de 2012. Permaneceu no Grêmio até 9 de dezembro de
2014, dia em que a diretoria do clube gaúcho anunciou a saída do jogador. Ele
não perdeu tempo e ainda em 2014, acertou contrato com o Palmeiras aos 40 anos
de idade e em ótima forma física.
Texto de Leandro Giudici
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