segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Grandes nomes do Palestra: Alemão, o Pelé da Várzea

Uma das grandes fases do Palestra fora do futebol profissional foi certamente nos anos 70 quando o clube dominou o varzeano. O Alviverde foi referência no Amador de São Bernardo em um tempo em que a competição tinha um altíssimo nível competitivo. 


Nesta mesma época vencemos 4 dos seis títulos conquistados na competição. Um dos maiores nomes dessa época foi o inesquecível Alemão. Para alguns, ele foi o maior de todos os tempos. Não a toa ele teve o apelido de "Pelé da Várzea".
Na imagem o prefeito Geraldo Faria Rodrigues entrega a premiação pelo título do Amador Municipal de 1972 de forma invicta. Alemão fez 28 gols. 

 Nascido em Pirajuí, no interior de São Paulo, Primo Carlos Ranal se instalou em Diadema, onde viveu até o ano de 2020. Antes de chegar ao Palestra ele iniciou no juvenil da Portuguesa, mas, sem condições financeiras, ele não conseguiu dar sequência no clube do Canindé, passando então por Vila Baeta, Mercedes, Aliança Clube, Vila Rosa, 7 de Setembro de Santo André, Vila Lídia, este último por quem nutria grande amor. 


 Em 1972, ano em que voltamos a erguer o caneco do municipal, Alemão terminou a competição como umdos artilheiros com 23 gols. A base dessa equipe foi: China, Vado, Dequinha, Pedrinho, Azeitona, Jaú e Didi. Além deles tinha ainda Osmar Savordelli, Tonhão, Baianinho, Dinho e o técnico Belmiro Roman. Na final diante do Madureira ven cemos por 7x0 sendo ele marcador de três tentos. Nesse ano vencemos mais dois títulos: Torneio Amizade e campeão da Taça São Bernardo. 


 Em 1973 repetimos alcançamos o bi em um tempo em que a rivalidade com o Aliança era fortíssima. Já em 1974, ele jogou a partida diante do Santos de Pelé, na Vila Euclides, fato que contava orgulhoso. De tanta vontade nessa partida, acabou saindo de campo machucado. 


Sobre essa partida, Alemão deu diversos depoimentos. Em um dos mais recentes (1º de Maio - O estádio dos trabalhadores / YouTube), a estudantes de Jornalismo da Faculdade Metodista, Alemão se emociona ao recordar. Ele se machucou em uma chamada "cadeira de pista", algumas cadeiras que ficavam a beira do gramado e infelizmente precisou ser substituído.


No mesmo documentário, um dos maiores nomes do Palestra, Cyro Cassettari, diz que Alemão era o grande ídolo daquela época.


Equipe que marcou história e o coração dos palestrinos em 1972. Alemão é o sexto agachado


 Em 2010, ele foi homenageado nos 75 anos do clube em uma sessão solene na Câmara de São Bernardo e em 2020, ano de seu falecimento ganhou dos colegas de equipe uma camisa comemorativa nos 85 anos do Alviverde. Também recebeu uma medalha de honra na Câmara de Diadema em 2006.


 Fez história por onde passou encantando qualquer um que o encarasse ou assistia, seja rival ou torcedor. Alemão agora compõe o time estelar de Nandinho, Valdemar Fogosa, Teobaldo Coppini, Bó, Noronha e tantos e tantos outros craques.

Texto de Leandro Giudici

sábado, 8 de agosto de 2020

O título de 1992 e uma revelação para o futebol brasileiro

O Palestra São Bernardo completa 85 anos em 2020. De lá pra cá foram inúmeras glórias, passagens importantes e, claro, títulos. Mas, apenas um deles é o de campeão pela Federação Paulista de Futebol. O de 1992 no Paulista de Juniores da 2º Divisão. Uma espécie de Sub-20.

A mais famosa taça na galeria palestrina é da Série B1b em 1997, porém, de vice-campeão. Na oportunidade o vencedor foi o Oeste de Itápolis. Desde então o Palestra enquanto profissional passou a integrar a Série B1 da época, hoje conhecida como Segunda Divisão, ou, o quarto nível estadual.

Além da taça, um dos mais marcantes fatos dessa equipe é a formação de um jovem garoto de apelido “Cacá”, dado pelo treinador Sérgio Caiado. Um franzino habilidoso que jogava na meia esquerda com a camisa 8 e que os colegas garantem já ter uma habilidade diferenciada de qualquer outro. Cacá é Zé Roberto, nome que ficaria imortalizado na Portuguesa-SP, clube para o qual seguiu antes mesmo do fim da competição e seria de fato revelado.

E aí também há uma questão curiosa. Até hoje Zé Roberto em diversas entrevistas diz que o clube que o revelou foi a Lusa do Canindé. E de fato foi aquele que lhe apresentou ao futebol, ou seja, o revelou. É muito justo que a Portuguesa seja considerada o seu clube revelador, ainda que o Palestra tenha sido o primeiro.

Desde 1986 o Palestra havia retornado ao futebol profissional. Viveu uma excelente fase de forma especial em 1987 e 1988 e conseguiu manter boa parte do elenco até 1992. À partir deste as categorias de base passaram a jogar também o Paulista de Juniores 2º Divisão, onde conseguiu montar um bom elenco para a disputa sob o comando de Caiado.

Em 1991 contam alguns atletas a equipe carecia de um pouco mais de estrutura. Não tinham ajuda de custo e treinavam em um período mais alternado, o que dificultou ir mais longe naquela competição. A ideia era preparar atletas para os profissionais, algo que o Palestra sempre fez muito bem. Em 1993, nos profissionais o Palestra voltou a pedir afastamento da Federação para reorganizar a casa. Ou seja, sentiu o peso do profissionalismo, algo que demorou mais de 30 anos para acontecer. Voltaria em 1997 com título como mencionamos.

Já em 1992, o clube conseguiu apoio para investir um pouco mais na categoria, e isso foi fundamental para a conquista. Os jogadores passaram a ganhar vale transporte, refeição e uma ajuda financeira. Passaram a treinar em dois períodos e a se alojar na sede do clube no Ferrazópolis. Há muitos anos que o Palestra investia pesado na base como principal caminho de estar nos profissionais.

Cristiano Pereira, que jogou nessa época, nos lembra um pouco daquela época. Ele é conhecido como “Pereirinha”, já que é sobrinho do Pereira, ex-zagueiro do clube de 1989 a 1992. Ele chegou ao Palestra em 1990, um ano do clube disputar os torneios nas categorias de base. Ele lembra que em 1991 foi uma época bem difícil e havia pouca perspectiva. O clube saiu após uma derrota para o Jabaquara de Santos por 5x1. Lembra ainda de uma vitória sobre o Mauaense e uma derrota para o Guapira, outro clube licenciado do bairro do Jaçanã em São Paulo, do qual o Alviverde enfrentou diversas oportunidades.

Técnico Sérgio Caiado, um grande nome do esporte batateiro

No ano seguinte, Caiado, um dos maiores nomes do esporte são-bernardense, já debilitado, deu lugar a Benê, mais precisamente Benedito Carlos de Souza, ex-jogador corintiano de 1963 a 1971. Benê mora atualmente em Sorocaba onde tem uma escolhinha de futebol. Caiado faleceria pouco tempo depois. Hoje ele dá nome ao estádio distrital do Olaria, no bairro Baeta Neves. Benê também havia passado como técnico pelo rival EC São Bernardo.

Pereirinha em relato lembra que para 92 vieram atletas de grande qualidade como o próprio Cacá, o Zé Roberto, que vinha do Pequeninos do Jóquei, - um clube com foco no social muito tradicional que já ganhou diversos títulos -, alguns atletas do Santo André, como Rocha, Neno e Josa, que fizeram o time ganhar liga. Também havia o treinador Giba, que ainda atua como preparador e eles treinavam em dois períodos e dormiam nos alojamentos do clube. Ele lembra ainda dos almoços na casa de João Mulambo, que era roupeiro do clube.

Pereirinha entrando no gramado do Baetão

Na campanha vitoriosa de 1992, o Alviverde da Autocap disputou 14 jogos, com 7 vitórias, 5 empates e apenas 2 derrotas. Marcou 16 gols e sofreu apenas 8 tentos. A grande maioria dos jogos era no estádio da Vila Ferrazópolis, casa do Palestra.

A competição teve início em maio e acabou no fim de setembro e era regionalizada, portanto, o Palestra caiu em um grupo de clubes que frequentemente encararamos em outras competições, como o próprio rival, EC São Bernardo, o Jabuca, de Santos e o Monte Negro de Osasco, por exemplo. A propósito, 1992 seria o último ano da equipe de Osasco com esse nome. Neste mesmo ano, ele daria lugar ao Osasco Futebol Clube, que permanece até os dias de hoje.

Outro que fez parte desse equipe foi o jogador Alexandre, conhecido como Lins na época. Atualmente ele mora  em Sumaré. Os relatos dele e de Pereirinha são bem semelhanças com algumas pequenas contradições.

Técnico Benê atualmente (site Milton Neves)


Segundo ambos relatam, a equipe fazia algumas preliminares do profissional. Uma dessas preliminares foi diante do AD São Caetano, que anos mais tarde ficaria nacionalmente famoso com suas fabulosas equipes no fim dos anos 90 e início dos anos 2000. A grande estrela do Azulão era o zagueiro Luís Pereira, o Luís Chevrolet, que antes do fim da carreira atuaria também no EC São Bernardo e também Serginho Chulapa.

A foto dessa partida no estádio Anacleto Campanella é uma das mais famosas dessa mesma equipe. Sobre a presença de Zé Roberto na equipe, eles contam a mesma versão. Ele não chegou a ser campeão com o Ferrão da Vila.

Lins lembra também que a equipe profissional era muito forte e que havia um grande estímulo a ser promovido a equipe principal. Ele revela certa mágoa por certa vez ter se machucado e ter tido pouco apoio da diretoria, mas, lembra também de um jogo que foi uma verdadeira “guerra” em campo, diante do União Suzano, em 25 de julho pela 2º fase da competição. O Palestra fez 1x0 e manteve o resultado até o fim com muito custo, relembra. Ele recorda que teve câimbras e jogou de centroavante parado, enquanto o atacante foi pra zaga. Lins chegou a atuar no profissional naquele mesmo ano em uma única partida contra o XV de Caraguatatuba. O Palestra estava ganhando e ele entrou para segurar o resultado.

Jogo no Baetão diante do rival EC São Bernardo


Ele lembra que Zé Roberto era torcedor do Santos desde menino e tinha um domínio diferente da bola. Na vitória sobre o EC São Bernardo, Pereirinha recorda que ele anotou dois gols.

A final, quem recorda com mais precisão é Pereirinha. Ele lembra que foi um jogo que movimentou a cidade, sobretudo o Ferrazópolis, onde o clube era mandante. O primeiro jogo foi na cidade de Lins, no interior a 20 de setembro, em um sábado.

Zé Roberto, na época apelidado de Cacá

O Palestra viajou na sexta-feira e se hospedou na cidade de Cafelândia. Era um clima de bastante festa e um calor infernal, segundo ele. O estádio Gilberto Siqueira Lopes, o Gilbertão estava lotado. Ainda assim, lembra que foram muito bem recebidos. Foi um jogo muito pegado, mas o esquadrão batateiro segurou um 0x0.

A segunda final foi na Vila Ferrazópolis que estava lotada de torcedores. O time da Linense era um time forte, mas prevaleceu a experiência dos jogadores do Palestra. Pereirinha lembra que o time jogou desfalcado de alguns como Viola e Maia. Havia festa, fogos e faixas.

Não há precisão na informação, mas, segundo ele os gols saíram apenas no 2º tempo. O técnico Benê foi para o vestiário muito bravo e fechou a equipe para a segunda etapa. A partida acabou 3x1 para o Palestra e os jogadores correram para abraçar a torcida. Um desses gols foi de Josa, relembra o ex-atleta. Foi uma imensa alegria. Josa, Nene e Rocha jogavam também na equipe principal. E é possível imaginar o que aquele título simbolizava ao Palestra naquele instante.

Alexandre, Ricardo, Maia, Pereirinha, Lins, Capixaba, Farinha e Boni. Agachados: Caniggia, Marcelo, Da Lua, Zé Roberto, Goiano, França e Rick.

A maioria dos atletas acabou subindo, porém, em 1993 o Alviverde deu uma pausa nos profissionais. Era uma época de transição na presidência. Estava saindo Domingos Nóbrega Fernandes e estava entrando o jovem Fábio Cassettari, filho de Zeca Cassettari.

A tabela desse campeonato é uma raridade garimpada pelos queridos amigos do blog Jogos Perdidos, que já falaram da competição no seu canal.

Os jogos foram esses:

1º Fase:

24/05/1992 – Monte Negro 4x3 Palestra

30/05/1992 – Palestra 1x0 Jabaquara

07/06/1992 – EC São Bernardo 0x2 Palestra

13/06/1992 – Palestra 0x0 EC São Bernardo

21/06/1992 – Jabaquara 1x0 Palestra

27/06/1992 – Palestra 3x2 Monte Negro

2º Fase
19/07/1992 – Palestra 0x0 USAC

25/07/1992 USAC 0x1 Palestra

01/08/1992 – Palestra 0x0 Esportiva de Guaratinguetá

08/08/1992 – Esportiva  de Guaratinguetá 0x2 Palestra

Semifinais

29/08/1992 -Palestra 0x0 Amparo

05/09/1992 – Amparo 0x1 Palestra

Final 20/09/1992 – Linense 0x0 Palestra

26/09/1992 – Palestra 3x1 Linense

 

Zé Roberto, um silêncio que entristece

O fato de Zé Roberto não mencionar o Palestra como seu clube revelador é totalmente compreensível, mas ele quase nunca lembrar de sua passagem no Alviverde até hoje magoa muitos torcedores.

Nós procuramos ele e a assessoria para falar sobre esse episódio, mas ele jamais respondeu. Em nenhuma reportagem dada por ele até hoje, o nome do Palestra foi sequer mencionado. Por três oportunidades, reportagens procuraram pelo clube para procurar saber mais do fato, mas de uma forma estranha, ele nunca toca no assunto.


Na Lusa do Canindé

O único retorno dado até hoje por ele, foi em 2011. O então diretor Fabio Modolo fez contato com alguém ligadoao atleta. Pensava-se em dar o nome da sala de troféus pra ele, já que ele estava em alta. Ele mandou avisar que até ajudaria com os custos se necessário, mas nunca saiu disso. O Alviverde não tocou a ideia adiante e ele nunca retornou.

Anos depois despontou no cenário nacional jogando pela Portuguesa de Desportos, onde, em 1996, chegou ao vice-campeonato Brasileiro.

Com a Seleção Brasileira, conquistou os títulos da Copa América e Copa das Confederações. Em 1998 disputou o seu primeiro mundial. Reserva de Roberto Carlos, fez parte do grupo de Zagallo na Copa do Mundo. Sem grandes oportunidades, amargurou o banco na França e acabou de fora da Família Scolari pentacampeã do mundo em 2002.

Na Alemanha, país em que viveu os melhores momentos da carreira, deixou sua marca de forma incontestável. Titular absoluto de Carlos Alberto Parreira na Copa do Mundo de 2006, foi considerado pela crítica esportiva um dos principais jogadores do mundial. A combinação de técnica apurada e explosão física lhe garantiu o tão esperado reconhecimento internacional.

Na partida contra Gana, jogo que consagrou o recorde de Ronaldo Nazário como maior goleador da história das Copas, foi eleito pela FIFA o melhor atleta em campo e, ao lado da dupla de ataque formada por Adriano e pelo próprio Fenômeno, balançou as redes para anotar um dos 3 gols brasileiros na goleada da equipe canarinho por 3 a 0. Foi a última vitória do elenco verde-amarelo no mundial da Alemanha, que acabou para o Brasil nas quartas-de-final diante da França. 


Ao término do mundial, Zé Roberto retornou ao Brasil para jogar pelo Santos. Durante os 10 meses em que esteve na Vila Belmiro, foi apontado como o melhor jogador em atividade no país. Na temporada de 2007, levou o Peixe ao título do Campeonato Paulista e ao terceiro lugar da Taça Libertadores da América. Ao término do contrato foi negociado com o Bayer de Munique e depois acertou com o Hamburgo.

Antes do clube alemão, com seu estilo absolutamente requintado, deixou saudades aos torcedores do Bayer Leverkusen, Bayer de Munique e Real Madrid.

Em 2010 seguiu para o Al Gharafa, do Qatar, onde ficou por duas temporadas até acertar sua volta ao futebol brasileiro, mais precisamente com o Grêmio, em 4 de maio de 2012. Permaneceu no Grêmio até 9 de dezembro de 2014, dia em que a diretoria do clube gaúcho anunciou a saída do jogador. Ele não perdeu tempo e ainda em 2014, acertou contrato com o Palmeiras aos 40 anos de idade e em ótima forma física.


Texto de Leandro Giudici

terça-feira, 21 de abril de 2020

Palestra encarou o Palmeiras em 1990

Em 1990, com uma grande equipe formada há vários anos nas bases do clube e jogando junto há bastante tempo, o Palestra, comandado pelo técnico Coppini, que infelizmente nos deixou em 2018, encarou a Sociedade Esportiva Palmeiras que, neste ano também possuía uma forte equipe dirigida ao recém chegado técnico Telê Santana.

O amistoso contra a equipe da Barra Funda foi aguardada com muita ansiedade pelos torcedores palmeirenses na cidade, assim, claro, como para os palestrinos. Assim que o amistoso se confirmou a imprensa local registrou o evento.

A chegada de Telê dava novo fôlego ao Palmeiras que, logo após o fim da Copa na Itália estava nas finais do Campeonato Paulista. Algumas semanas antes, havia encarado e vencido um combinado carioca por estonteantes 9x0, o que deixou o clube do Ferrazópolis, obviamente preocupado. O Alviverde Batateiro era, no entanto, líder da Série B da Terceira Divisão. O técnico Telê não estaria na partida, pois, estava comentando a Copa do Mundo pelo SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). O treinador seria Dudu, ex-jogador do Verdão.



O atleta palmeirense Edson Boaro contra o jogador Pereira do Alviverde Batateiro


A partida ocorreu em um sábado no dia 9 de junho e os ingressos custaram Cr$300,00 cruzeiros. Mesmo momento em que a seleção italiana entrava em campo diante da Áustria em Roma. O Palmeiras vinha completo, incluindo o retorno do jovem goleiro Veloso.

A reportagem do jornalista Paulo de Tarso, do Diário do Grande ABC, registra que o diretor do Palestra, Nicola Racciopi, sequestrou o radinho de pilha de um jornalista para acompanhar a partida.

O Palmeiras jogando com seu tradicional uniforme verde e branco contra um Palestra todinho de branco – um belíssimo uniforme – teve dificuldades por conta da dimensão menor do Baetão que sequer sonhava em possuir grama sintética.


Aos 12, os batateiros tiveram a primeira oportunidade com Luís Carlos Gaúcho, veterano e um dos líderes daquele Palestra. A equipe visitante alternava seriedade e displicência, relata a reportagem, nos pés de Júnior, Bandeira e Betinho (cujo último clube foi o Palestra em 2004), enquanto o Alviverde buscava incessantemente o gol com Zetti e Gaúcho. Aliás, o gol palestrino aconteceu. E foi anulado injustamente pelo árbitro Willian Ricci Filho, segundo vários atletas. O jogo terminou em 0x0.

"O Junior recebeu a bola na ponta e fez um lançamento de aproximadamente 25 a 30 metros nas costas do Biro ( lateral esquerdo que estava no lugar do Dida na seleção). Eu cheguei primeiro e mais alto que ele na bola e cabeceei em direção ao chão no lado esquerdo do Veloso que ficou parado vendo só bola bater na trave antes de entrar", conta Hamilton, autor do gol invalidado.

O Palestra atuou com: Eduardo, Luciano, Hilton e Pereira; Eurico (Nenê), Zetti, Luís Pedro (Flávio); Hamilton (Marcelo), Junior (Campioto) e Paçoca (Marga). Tec.: Coppini. A Socieade Esportiva Palmeiras foi de: Veloso, Edson Boaro, Toninho Cecílio, Eduardo, Biro, Junior (Celso Gomes), Betinho e Bandeira, Careca, Bianchesi, Roger (Bulão) e Arnaldo. Tec.: Dudu

O jogador Pereira lembra que o jogador Mirandinha era quem mais preocupava, mas, ele acabou não indo para o amistoso.

A partida ocorreria no estádio do Baetão, onde o clube vinha mandando seus jogos pela Segunda Divisão na oportunidade. Antes, Ferrão da Vila já havia encarado o Santos de Pelé em 1974 e anos antes o Corinthians de Rivelino em 1983. O público ao todo foi de 3. 943 pagantes e o desempenho palestrino foi muito positivo, lembram os atletas.



Na imagem, Pereira, Eurico, Nenê, Marquinhos e Marcelo. Um timaço que deu muito trabalho ao primo rico da Capital.


O diretor à época, Cyro Cassettari, lembra que quem intermediou a vinda do Palmeiras foram os irmãos Cláudio e Zezinho Tofanello, que eram muito amigos do Dudu. Ele lembra ter ido ao Palestra Itália em São Paulo acompanhar o então presidente Domingos Nóbrega Fernandes para a negociação da vinda do Palmeiras.

Palestra, primeiro campeão da Liga Sambernardense

Antes de existir a Liga de Futebol de São Bernardo, a partir de 1947, o Palestra e alguns outros clubes da cidade disputaram competições por outras ligas.
A pioneira foi a Liga Municipal Sambernadense (LEMS), isso quando São Bernardo compreendia a toda região do ABC. A liga durou de 1931 a 1938.
Posteriormente veio a LESA (Liga Esportiva de Santo André), apenas com equipes andreenses. Na sequência, foi criada também a Liga Varzeana de Futebol, com equipes de S.Bernardo.
O Palestra aparece apenas na década de 40 na Liga de Futebol do Estado de São Paulo ao lado de Primeiro de Maio, Corinthians, EC São Bernardo, Cerâmica e São Caetano. Neste mesmo ano o clube disputou o 1° campeonato de sua história.

Na imagem: Tonhão Guazzelli, Nelson Marson, Osmar Galafassi, Bebé, Zeca Cassettari e Noronha; Achados: Nena, Russinho Galafassi, Anjolete, Teleco, Frederico, Baraldi e Vicente Galafassi.

Em 1945, o 2° quadro palestrino foi o campeão da LSF (Liga Santoandreense de Futebol), que era fundada por clubes com sede em São Bernardo. Primeiro título de expressão do Alviverde.
Um ano antes, São Bernardo havia se emancipado, mas, ainda continuou disputando campeonatos organizados pela LSF até 1946, um ano antes da fundação da Liga de Futebol de São Bernardo, que foi criada em 30 de janeiro.
Palestra, ECSB, Meninos, ACE S.Bernardo, Juventude Unida, XX de Setembro, Vila Baeta, União e Guarany foram os clubes fundadores. Adelelmo Setti foi escolhido presidente e Alfredo Sabatini, vice. Adelelmo, pois, abriu mão para que Higino de Lima assumisse.
E o primeiro campeão da Liga foi o Palestra de São Bernardo. Não há registros que detalham a campanha, mas, a final foi diante do União, 0x0. O clube tinha: Tonhão, Nelson Marson, Osmar Galafassi, Bebe, Zeca Cassettari, Noronha, Wladimir Galafassi, Anjolete, Teleco, Frederico Mateus e Angelo Baraldi treinado por Nena, Alfredo Principeza.
Há quem diga que a final ocorreu em 1948, mas, não há comprovação. Em 1949, o campão foi o Vila Baeta e, em 1950, o clube voltou a ser campeão quando já disputava os profissionais. Em breve vamos relacionar todos os campeões municipais.
Não se sabe ao certo, já que a Liga não tem documentos oficiais sobre todos os torneios. Um compêndio que o ex-funcionário municipal e esportista, Divaldo Bizzoto, no entanto, levantou recentemente. O certo é que o Alviverde venceu pelo menos em 1947, 1950, 1972, 1973, 1977 e 1978. São pelo menos seis títulos. O maior vencedor é o Vila Baeta.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Os 10 anos da torcida mais fiel do ABC


Loucos do Palestra: uma torcida sem time

O Palestra sempre teve em sua galeria de troféus um espaço especial para a sua torcida. Poucas coisas valem mais na história palestrina do que a fidelidade desses apaixonados pelo clube. Mas, torcer para o Alviverde é claro que não é tarefa fácil e isso não cabe apenas para os dias de hoje. Desde o início, escolher o Palestra é algo bem mais complexo e insensato.

Em 2016, parte dessa história entre clube e torcida completa 10 anos, mas nem sempre um precisou exatamente do outro para existir, o time já ficou sem torcida e a torcida já ficou sem seu time. Estamos falando da ‘Loucos do Palestra’, torcida criada em 2006 em meio a uma época difícil, que chorou e que sorriu com o clube e cujo nome já diz bastante a seu respeito.

A Loucos não foi a única torcida do Palestra. Antes da sua geração existir, outros eufóricos torcedores já haviam se organizado nas arquibancadas para apoiar o Alviverde. A mais famosa foi a ‘Ferrão da Vila’, feita por moradores da Vila Ferrazópolis, casa do Palestra, que, inclusive teve o privilégio de ver fases muito melhores do clube nos anos 70 e 80 principalmente.

No entanto, o que qualquer torcedor do Palestra tem em comum é a dor da ausência. Não a ausência melancólica e sem esperanças de não poder mais ver o time em campo, mas a dor da saudade misturada à ansiedade de vê-lo novamente.

Falar da importância da torcida palestrina não é mero chavão literário, é realidade. Ao longo de sua trajetória várias foram as vezes em que os torcedores tornaram-se protagonistas no clube. E o que torna o Palestra tão apaixonante é que ninguém está lá por outro motivo que não seja o amor em seu estado bruto,  puro, livre dos vícios das fases ou dos simples momentos.

Não convém ir tão longe para exemplificar, mas, para que o leitor tenha a ideia, quando o Palestra esteve prestes a se acabar no mais duro golpe que recebeu até os dias de hoje, com a perda do seu estádio na década de 50 foram os atletas palestrinos quem futuramente lutariam pela recuperação de sua casa alguns anos mais tarde. Nenhum simples atleta faria isso pelo seu time se não fosse um grande torcedor. Estes mesmos personagens foram, aliás, a geração mais realizadora na história.

Quando comparamos essas épocas e as torcidas na verdade precisamos abrir aspas e especificar que cada um viveu um momento peculiar, assim como foi cada uma dessas fases. O sentimento e as motivações eram outras.

No caso dos torcedores que começaram no clube como atletas, na década de 50, a razão da torcida era que o clube continuasse existindo. Eram moradores da então pequena e pacata São Bernardo, membros de famílias tradicionais da cidade e também outros que se sentiram bem acolhidos no clube.

O Palestra ficaria 35 anos afastado dos profissionais, de 1952 até 1986, essa estiagem, portanto, se estendeu a mais de uma geração. Quase no seu fim, o Palestra não só era praticamente outro clube, como tinha um perfil bem diferente de torcedores. Esta segunda geração era representada em sua maioria por moradores da Vila Ferrazópolis, gente que nasceu no clube desde menino, fez parte das escolhinhas de futebol e adotou o Alviverde como ‘casa’.

A segunda geração, da década de 70 e 80 pode ver um excelente clube amador em campo, campeões em quase tudo que disputava em uma época que o amador era um grande campeonato. Em outros oportunidades iremos explorar ainda melhor a história da ‘Ferrão da Vila’.

O fato mais interessante é que a ‘Loucos do Palestra’, a mais contemporânea das torcidas poucas vezes teve grandes motivos de ir ao estádio e mesmo assim sempre mostrou imensa fidelidade. O embrião dessa história é em 2004, ano que antecedeu a ‘trágica’ mudança do clube de Palestra para ‘PSB’, que nós já destrinchamos aqui em outro artigo.


O embrião

Aquela campanha de 2004, como conta o artigo citado, começou bem, assim como várias outras dos anos anteriores, mas terminou de forma frustrante para o Palestra. Essa campanha foi o ponto de mudança nos projetos do clube.

"Nesse mesmo tempo, este jornalista que vos fala, então com 18 anos estava iniciando seu primeiro trabalho no jornalismo. Eu já sabia que queria seguir a profissão do jornalismo e comecei como repórter voluntário da equipe do STI Esporte. Na época, como só havia o Palestra como clube profissional de São Bernardo, fui designado a cobrir os treinos do time, às terças, quintas e eventualmente às sextas-feiras. Foi meu primeiro contato com o clube, que antes eu só havia lido nos jornais. Era uma época em que eu estava mergulhado de cabeça no futebol, lia, assistia e estudava tudo a respeito. O primeiro a me recepcionar foi o diretor Anôntio Schank, que foi extremamente amável e solícito. A primeira entrevista da minha vida foi inclusive com o técnico Carlos Ling. Aquele contato dia-dia me fez criar carinho pelo clube, fui fazendo amizades com jogadores, dirigentes técnicos, até que inesperadamente o Ling, em uma ótima fase, deixou o comando do time”.
Rotta e Ling no comando do time em 2004. Mudança não fez bem ao time


A mudança de treinadores foi horrível naquele momento, já que pairou um sentimento de injustiça no ar. Assumiu o técnico Geimes Rotta, que havia vencido meses antes, em janeiro a Copa São Paulo de Futebol Júnior pelo Santo André em cima do Palmeiras no Pacaembu.  Rotta chegava com moral, mas nada do planejado se concretizou. Na segunda fase da Série B1 – a última com essa nomenclatura – foi um fracasso completo.

“Eu acompanhava os jogos do Palestra do banco de reservas, ficava mais fácil para anotar as escalações, mudanças, cartões, etc. Sabe como é jovem repórter, não quer deixar escapar nada. Teve até uma certa vez que o Rotta – que sempre foi muito turrão – me disse que eu poderia ficar lá, desde que não anotasse os seus palavrões...”.

Em uma dessas partidas da segunda fase, diante do Monte Azul (que seria o campeão), onde fomos derrotados por 4x0, na segunda etapa, um grupo de três torcedores apertavam uma buzina estridente no estádio da Vila Euclides, semelhante a essas de caminhões. Isso de cara já irritou o técnico Rotta, que do banco já mandava esses torcedores enfiarem a buzina em outro lugar.

Como a partida estava perdida, aqueles torcedores, que claramente estavam lá para passar o tempo, assim como os poucos presentes ali, pais e parentes de jogadores, começaram a entoar: “Ô Rotta, seu viadinho, coloca o Cicinho”, certamente por sugestão de algum conhecido do atleta da arquibancada. Cicinho, jogador de fato, muito ligeiro, que estava no banco de reservas, entrou. A cobrança, no entanto irritou grandemente o técnico que não poupou xingamentos aos torcedores.


Estádio da Vila Euclides, na época casa do Palestra


“Eu achei aquela situação muito engraçada. Coloquei na matéria o pedido dos torcedores e coloquei a reportagem nas redes sociais da época, o Orkut, na comunidade do Palestra. Logo na sequência fui procurado pelo Heitor Miguel, que era o dono da comunidade dizendo que os dois torcedores da arquibancada era ele e os amigos. À partir dali nos fizemos uma baita amizade que dura até os dias de hoje”

Mas, o Palestra não passaria da segunda fase na competição, logo cessaram os jogos e veio o anúncio de mudança de Palestra para PSB no ano seguinte.

Os jogos de 2004:
1º fase:Palestra 2x1 Capivariano, ECUS 2x0 Palestra, Palestra 3x2 Velo Clube, XV de Novembro 0x1 Palestra, Palestra 2x3 Santa Ritense, Palestra 1x4 Grêmio Barueri, União 1x4 Palestra. Returno: Capivariano 1x3 Palestra, Palestra 1x0 ECUS, Velo Clube 3x3 Palestra, Palestra 2x1 XV de Novembro, Santa Ritense 4x1 Palestra, Grêmio Barueri 4x2 Palestra, Palestra 0x3 União.
2º fase:
Palestra 0x2 Ferroviária, Grêmio Barueri 2x1 Palestra, Santa Ritense 2x0 Palestra, Palestra 2x2 Jalesense, Linense 5x2 Palestra, Palestra 0x4 Monte Azul, ECUS 4x0 Palestra. Returno: Palestra 0x2 ECUS, Monte Azul 5x0 Palestra, Palestra 2x1 Linense, Palestra 4x0 Santa Ritense, Palestra 0x4 Grêmio Barueri, Ferroviária 5x1 Palestra. 

“Eu acompanhei bem de perto todo esse processo de mudança, desde o anúncio feito na sede do clube (de Palestra para PSB), até os primeiros treinos. A essa altura eu já torcia pelo clube. Fui me empolgando cada vez mais em estar lá e acompanhava inclusive jogos fora de casa. Quando criaram o São Bernardo FC e todos se empolgaram com eles, aí eu tive ainda mais certeza que queria estar daquele lado. Era um sentimento de injustiça com o PSB depois de tanto sofrimento ver aquele outro clube da cidade nascer nas entranhas da administração municipal. Isso é o que ficava evidente entre todos do time”.

Os primeiros movimentos
O ano de 2005 passou, o time saiu na segunda-fase assim como no ano anterior e mesmo com toda empolgação pela mudança e com a boa equipe formada que lotou os jogos na Vila Euclides, especialmente nos jogos da Copinha, não houve nenhum movimento por uma torcida ou algo parecido. Então na comunidade do clube no Orkut surgiu a ideia da criação de uma torcida organizada para o Palestra, abraçada de cara principalmente por três membros: Fellipe Gardinal,  Heitor Miguel e Leandro Giudici. Alguns outros se entusiasmaram com a ideia, mas foram os três quem correram atrás de tornar realidade. A essa altura o PSB já ficara para trás, o nome voltaria a ser Palestra.

O primeiro passo para a formação da mesma era o nome. E ele foi escolhido no próprio Orkut por votação. Quem deu a ideia foi outro membro, Evandro Sousa: ‘Loucos do Palestra’. Foi de longe o nome que ornou melhor e resumiu bem o propósito.

O segundo passo era a confecção de uma faixa. Fellipe Gardinal montou uma arte com o personagem dos desenhos Simpsons, o Hommer tomando uma cerveja. O dinheiro para a tal faixa também foi outro ponto difícil e quem se dispôs foi Heitor Miguel. Alguns dias depois e a faixa de 15 metros estava pronta. Foi confeccionada no popular ‘Blitz’, do Baeta Neves.

 “Essa época eu estava na rádio 107,1, atual Paraty FM e participava do programa ‘A hora do esporte’, que existe até hoje, na época com Guina Moreira e o Antônio Eustáquio. Eu ficava responsável por cobrir o Palestra. Muita gente dizia que o Palestra não voltaria a campo em 2006, mas voltou", lembra Leandro.

Ainda sobre o nome ‘Loucos do Palestra’, houve uma coincidência monumental. Na década de 70, durante a construção do ginásio de esportes, batizado de Geraldo Faria Rodrigues, houve um grupo de torcedores que lutou muito por aquele objetivo e em sua inauguração o prefeito que deu nome ao ginásio mencionou: “Gostaria de ter esses loucos do Palestra trabalhando comigo”. E o nome pegou. Aquela ficou conhecida como a geração dos ‘loucos do Palestra’.  Nenhum dos membros da torcida organizada sabia desse fato à época. Foi pura e feliz coincidência.


Familiares de atletas se juntavam a torcida para vibrar

“Comecei a acompanhar o Palestra com mais frequência em 2005. Não tinha muito público, mas os poucos que frequentavam sempre estavam presente. No início de 2006, quando conheci o Leandro Giudici, começamos a pensar em uma torcida, para transmitir nosso carinho pelo clube em forma de incentivo”, conta Fellipe, outro fundador.   


A diretoria de então deu o maior apoio para a iniciativa. Saiu a tabela e coube aos membros se organizarem. A estreia seria fora de casa diante do Jabaquara.  Compunham o grupo: Palestra SB; Jabaquara; Guarujá; Barcelona Capela; Osasco FC e Votoraty. Havia uma enorme expectativa para a estreia do Palestra e da torcida, mas tudo seria diferente do idealizado.


“Chegara o dia da estreia, 8 de abril de 2006. Eu fui com a delegação de ônibus. No dia, vários daqueles que queriam ir não puderam ou não quiseram. O Fellipe ficou encarregado de levar a faixa e foi de ônibus turismo. Nos encontramos lá no Espanha, ele já havia estendido a faixa e também havia feito uma camiseta para cada um. E assim começou tudo. Com vitória de 2x1 do Palestra e desde já um sentimento ainda mais especial pelo clube”.


O jogo seguinte seria a partida ideal para uma estreia de gala da torcida, já que a partida seria na Vila Euclides. Quase todo mundo já havia confirmado presença, mas... Quem disse que as coisas são fáceis ao Palestra? A partida seria contra o Taboão da Serra, um adversário quase sempre problemático para o time.

A sexta-feira que antecedia a partida era feriado e – proposital ou não – a Prefeitura informou o Palestra na quinta-feira a tarde que o estádio 1° de Maio estava interditado pelos bombeiros. Na época a Vila Euclides era um estádio largado pela administração, cheio de problemas estruturais que nada lembram o belo estádio dos dias de hoje. Ou seja, a diretoria entrou em desespero. Mas, na correria, conseguiram que a partida ocorresse lá, porém, com portões fechados. Muita gente desistiu da ideia de ir ver o time, menos Fellipe e Leandro.

“Nós comparecemos mesmo assim, levamos a faixa e fomos procurar onde estendê-la. Havia um prédio em construção atrás do estádio e pedimos aos pedreiros se podíamos ficar lá, eles não deixaram e nós fomos para o campo do DER. Lá ficamos em uma marquise, estendemos a faixa e ficamos o tempo todo. O clube perdeu por 2x1, mas nós vibramos como nunca”.



Jogo em Embu das Artes contra o Pão de Açúcar, uma das primeiras caravanas fora de casa


Este foi o início da torcida. Quase nunca se arregimentou uma multidão. Embora fosse um sonho evidentemente, com o passar do tempo isso deixou de ser uma prioridade. Sabíamos que seríamos poucos por muito tempo, mas isso não importava, desde que aqueles poucos fossem fieis ao clube.

O amor pelo clube foi crescendo cada vez mais. Fellipe, antes são paulino, assim como Leandro, tornou-se torcedor apenas do Palestra e um fanatismo saudável foi dominando os corações. Uma das principais filosofias era cantar o tempo inteiro, sem parar. Apoiar em qualquer momento ou circunstância. No quase sempre vazio estádio da Vila Euclides, o barulho que vinha da Loucos do Palestra ecoava distante. Os jogos eram quase sempre nas típicas manhãs frias e chuvosas de São Bernardo.

Fora de casa, é claro, que a torcida acompanhava, de um jeito ou de outro. E a ida a esses locais quase sempre rendia uma boa história. Sem ajuda financeira nenhuma, viajar para locais distantes eram verdadeiras odisseias.
O início da torcida. Primeiro jogo do returno em 2006, Vila Euclides


Esse foi o primeiro ano da torcida, acompanhando e incentivando a equipe. Era difícil arrebanhar qualquer outro torcedor já que a fase pouco ajudava. Alguns iam por curiosidade, mas poucos permaneciam fieis em todas as partidas. Muitas vezes os torcedores acompanhavam a própria delegação nas viagens, fato que desagradava alguns dirigentes, mas quase sempre sem maiores problemas.


A primeira partida no entanto, em casa, onde se juntou um número maior de torcedores foi contra o Osasco na Vila Euclides. O Palestra jogou muito e venceu por 2x1 com uma chuva torrencial que caiu em São Bernardo.
A princípio a torcida ficava nas antigas tribunas ao lado das cabines de rádio. Depois mudou-se para as arquibancadas do outro lado, bem na ‘curvinha’ próxima ao estacionamento.

Um dos primeiros jogos fora de casa, com mais torcedores foi contra o Pão de Açúcar em Embu das Artes-SP.
Embora não tenha ultrapassado a primeira fase, em 2006 o time demonstrava muita garra em campo. Mesmo as vitórias adversárias foram quase sempre com uma grande luta em campo e esse sempre foi um elemento especial aos torcedores da Loucos. O resultado não era o mais importante, mas sim a vontade de vencer.

Ainda com uma campanha instável, o Palestra chegou a última rodada com chances de avançar, a partida foi no estádio Antônio Fernandes no Guarujá e lá fomos nós. Bandeira estendida e muito incentivo. Jogo duro, não só em campo, mas pela enorme maioria de torcedores deles presentes. Os jogos no Guarujá, em um dos estádios mais precários da competição costumavam serem difíceis.

O jogo ficou o primeiro tempo no 0x0, mas, o 2° tempo aguardava uma surpresa. O Palestra marcou com Giliard, que saiu do banco para salvar a pele. Comemoração com a pequena torcida. No entanto, a arbitragem viu pênalti onde não havia e voltamos a São Bernardo com um empate (1x1) com sabor de derrota.

Poucas coisas para o torcedor de um time pequeno são mais gratificantes do que quando um atleta faz o gol e vibra com os torcedores, é um dos maiores reconhecimentos que se pode ter.  Terminamos com 12 pontos em 3° (classificavam-se apenas os 2 primeiros), mesma pontuação do Guarujá, apenas com o saldo de gols inferior.  Não foi uma má campanha, ao contrário. Se vitaminada, aquela equipe daria muito trabalho.

Veio o fim da competição e o que quase sempre prejudicava o animo da torcida era a longa estiagem pelo o qual passávamos de um campeonato para o outro. São quase 9 meses parado, uma eternidade. "Neste meio tempo também o presidente Fábio Cassettari me chamou para ser assessor de imprensa do clube. Ele me disse: Leandro, você é o único que permanece do nosso lado, e me fez o convite que foi aceito na hora”., lembra Giudici

Os jogos de 2006:

Jabaquara 1x2 Palestra, Palestra 1x2 Taboão da Serra, Osasco 0x3 Palestra, Palestra 0x2 Votoraty, Palestra 1x1 Guarujá, Barcelona 1x2 Palestra. Returno: Palestra 2x2 Jabaquara, Taboão da Serra 2x1 Palestra, Palestra 2x1 Osasco, Votoraty 1x1 Palestra, Guarujá 1x1 Palestra e Palestra 1x0 Barcelona.  

2007 – ano difícil

Em 2007, o Palestra estendeu uma parceria que já havia com o Mesc (Movimento de Expansão Social Católica), tradicional clube de campo são-bernardense e passou a utilizar seus atletas também nos profissionais. A parceria já ocorria nas divisões de base desde 2005 treinada pelo grande palestrino Eduardo Batista, ex-goleiro do clube nos anos 80.        
O início de 2007 até empolgou mais pessoas a torcer, mas a equipe não ajudava em quase nada

    Com a experiência do primeiro ano e tempo para organizar, a torcida começou o ano levando bem mais gente para os jogos e de empolgação renovada. Na primeira partida do ano, em Ibiúna, diante do Barcelona, antigo Barcelona Capela (de Capela do Socorro) fretamos uma van cheia. Muita festa, buzina e um barulho bem maior que o da torcida local. Faltou apenas combinar com o time para a festa ser maior, levamos um 5x1 de cara.

Os resultados da sequência seriam igualmente péssimos. A equipe até demonstrava esforço, mas os resultados foram ainda piores. Para piorar, uma escalação irregular diante do Guarujá na 2° rodada (1x0 Palestra), no fim ainda faria a equipe perder 6 pontos, o que quase eliminava as chances palestrinas. Claro que o torcedor faz conta até o último minuto, mas era praticamente impossível que aquela equipe reagisse. Foi um dos piores anos da história, talvez só superior a 2011, o último no profissionalismo.

Mesmo assim, acompanhamos praticamente todos os jogos do campeonato. Jabaquara, no Espanha (2x1), Elosport, na Vila Euclides (1x0), Pão de Açúcar, fora (2x0), São Vicente, no Mansueto Pierotti (4x1), Barcelona, na Vila Euclides (2x0), Guarujá, no litoral (2x2), Jabaquara, na Vila Euclides (1x1), Elosport, em Capão Bonito (1x1), Pão de Açúcar, na Vila Euclides (0x4), São Vicente, na Vila Euclides (0x1) e Taboão da Serra, em Taboão (3x2).
Os poucos torcedores na Vila Euclides

Fomos o último da classificação com 3 pontos. No fim até houve uma pequena reação, mas que não tinha oxigênio suficiente.

Como o tema aqui é a torcida, lembramos que viajamos a Capão Bonito, mais de 200 km de São Paulo junto a equipe e lá também incentivamos muito contra o Elosport (1x1). Contra o Barcelona em casa, uma vitória gostosa e diante do Jabaquara, também no estádio 1° de Maio, uma enorme torcida atrás do gol que fez ao atleta do Jabuca errar o pênalti. Sensacional!
Contra o Elosport em Capão Bonito-SP. Torcida presente sempre


Entre  2006 e 2007 surgiu também o maior ídolo dos torcedores palestrinos, o jogador Beto. Um atleta muito raçudo que quando não conseguia ir com a bola ia na raça. Ele foi  capitão do time diversas vezes nesses anos e evitou derrotas vergonhosas do time. Chegou a jogar em 2007 ao lado do irmão Guilherme. Em 2010 a torcida criou uma campanha para que ele voltasse a campo, mas não deu certo. Beto sabia do quanto aqueles torcedores amavam o clube, até por conhecer parte da história palestrina. Ele era parente do ex-presidente Cyro Cassettari.

Se 2007 terminava mal, 2008 seria pior. De que forma? Após 12 anos consecutivos nos profissionais, o Palestra se licenciaria da Federação Paulista. Os sócios desistiram de tocar o clube por mais um ano conforme previsto e o futebol voltou para as mãos da diretoria.

Daquele ano de 2007 levamos o espírito que deveria prosseguir. Nós sabíamos que a fase era ruim, mas que nós estaríamos lá em qualquer hipótese. Veio o ano seguinte, e o que seria da nossa torcida? Precisávamos manter a chama acesa.

Mantivemos nosso vínculo de amizade. Fazíamos reuniões periódicas na sede do clube e acreditávamos que aquela fase passaria logo. Em 2008, o Palestra disputou o Campeonato Paulista de Handebol e chegamos a frequentar alguns jogos, mas obvio que sem a mesma empolgação, até porque a equipe reclamava do barulho.


Os jogos de base


Quase sempre acompanhávamos também os jogos das categorias de base. Em 2005 e 2006 eles ocorriam no campo do Clube da Ford, onde o Palestra profissional se concentrou nestes mesmos anos. A base era muito boa comandada como já dito pelo técnico Eduardo Batista com boas promessas.


Jogos da base eram no campo da AR Ford


Em 2006 em um jogo contra o Santos na Ford pelo sub-17 começamos vencendo, mas no fim do 2º tempo em um pênalti que não existiu o Peixe empatou a partida e ficou um gosto amargo de derrota. Um menino chamado Neymar estava no banco de reservas dos santistas sendo poupado pelo técnico. No fim do jogo a revolta de pais e torcedores do lado de fora foi geral e começaram os insultos e ameaças do lado de fora. O técnico do Santos começou a gritar com nossos jogadores e a confusão aumentou ainda mais. Resultado: árbitro e o Santos só conseguiram sair de campo escoltados com a chegada da polícia.


Outro episódio curioso ocorreu em 2007 na Vila Euclides contra o São Bernardo FC. Nossa equipe estava perdendo e muitos dos atletas profissionais estavam em campo. Tínhamos na torcida uma música que dizia "Ole, olê, quebra ele, mata ele, é o Palestra no estilo Peñarol...." que entoávamos quase sempre que estávamos perdendo e pedíamos ainda da arquibancada: Pega, quebra, mata... E não dava outra, os jogadores iam com tudo pra cima dos rivais. Era uma série de botinadas que eram euforicamente aplaudidas.

As agruras de ser ‘organizada’


A ‘Loucos’ nunca quis ser uma torcida organizada no mesmo molde que as outras. Muito menos realizar as mesmas práticas se envolvendo em brigas. A rivalidade que existia com o São Bernardo FC era natural e inevitável, mas nunca partia para o campo da provocação. Ao menos era essa a filosofia dos seus membros. Até por isso jamais pensou em fazer parcerias com outras organizadas para que nenhuma outra torcida encarasse aquilo como uma afronta ou coisa parecida.


A torcida do Santo André, clube parceiro do Palestra que outrora já havia sido parceira do São Bernardo FC, manifestou interesse em ser parceira da Loucos, mas logo de cara, a ideia foi recusada pelo torcedores palestrinos. Ninguém seria impedido de torcer, evidentemente, mas nada formal. A recusa gerou desconforto em alguns e a diretoria pediu que houvesse a parceria, novamente negada.


Se realizada a parceria, a ‘Loucos’ herdaria as rivalidades da torcida andreense, assim como qualquer outra. E o que havia em mente exclusivamente era torcer para o Palestra e nada mais. Era isso que era reafirmado nas reuniões. Não podíamos, - até mesmo pela pequena quantidade de gente envolvida - e principalmente, não queríamos estar em confusão alguma. Não era o foco. Apesar disso haviam tentativas de brigas vindas do outro lado e todos sabiam que mais cedo ou mais tarde, teríamos que lidar com essa situação. Não porque queríamos, mas seríamos forçados a isso. O medo disso era também algo que afastava novos membros.

Loucos nunca quis parceria com nenhuma torcida


Quem sempre foi muito simpático a torcida palestrina, até pela origem semelhante dos dois clubes, foram os torcedores do AD São Caetano, que da mesma forma sabiam que jamais haveria parceria, mas que seriam bem-vindos em nossos jogos. Até hoje existe amizade entre os membros.

Em 2007, em um campeonato sub-15 e sub-17, já havia ocorrido dois episódios tristes a respeito de brigas, ambas com o São Bernardo FC.

Na primeira, o líder da torcida rival partiu para cima de alguns membros sem nenhum motivo alegando terem sido provocados. Embora ficasse só na ofensa verbal, mas foi um alerta do que viria. Na segunda, no mesmo ano, a mesma pessoa rasgou uma faixa do clube no Baetão que estava com duas crianças e uma idosa. Um absurdo total.

“Eu havia combinado com eles (os jovens) que faria minha participação na transmissão do jogo na primeira partida e na segunda iria para a arquibancada. No entanto, lá pela metade do primeiro tempo este rapaz claramente alcoolizado apareceu acompanhado de um bando partiu em direção a eles e rasgou a faixa da Loucos. Eu vi tudo da cabine e fui para a arquibancada defender eles, eram praticamente duas crianças acompanhados da avó. Tirei satisfação com o rapaz, xinguei todo mundo, fui até os policiais e o os fiz escoltar aqueles meninos. Fiquei completamente transtornado com aquela covardia. Ninguém no estádio se mexeu”.

O ex-deputado, Edinho Montemor, então presidente do São Bernardo FC jogou panos quentes, acalmou o clima e foi muito bom. Ele conhecia bem a torcida do seu clube e sabia do risco que correríamos. São fatos que lamentavelmente não está na escolha de quem quer torcer de forma organizada. São inerentes, infelizmente. Se a torcida do Palestra não fosse diferenciada certamente não faltariam confusões a se meter.

Aquela foi a última partida que narrei pela emissora. Embora entendesse que não foi um ato profissional, jamais deixaria aquelas crianças desamparadas em uma situação daquela. Até porque eu não sabia do que mais aquele rapaz seria capaz de fazer”.

Embora acontecimentos como esse façam parte, este artigo quer destacar outro lado da Loucos do Palestra, uma torcida obstinada, perseverante e que nunca quis outra coisa que não fosse o bem do seu clube de coração.A filosofia é o Palestra. Tudo em prol ao clube. Nada mais do que isso”, diz Fellipe Gardinal.


2009, o melhor dos anos


Ao longo de 2009 chegou a torcida outro torcedor curioso e simpático ao Palestra que se integrou a torcida e foi idealizador de uma mudança muito positiva para o grupo: Sandro Maniezo.Sandro trouxe a ideia inovadora até então – pelo menos na região – das tais ‘barras’, semelhantes as torcidas argentinas, que ao invés do ‘samba’ fazem cantos com poucos instrumentos durante todo o jogo. O samba acaba cansando os torcedores, até mesmo as grandes torcidas. Já os cantos, duram o jogo todo. Houve a adaptação com muito sucesso.


Em 2009, voltamos aos campos com uma boa  parceria com o Santo André. Um ótimo time e a recompensa pelos três primeiros anos ruins. O Palestra, já novamente verde e branco voltava a campo com a promessa de subir. A notícia foi um presente para a torcida. Fellipe, um dos integrantes estava na Irlanda e a essa época haviam outros componentes como Evandro, Fábio, Jorge, Daniel, Pedro Faian, Rodrigo e alguns outros simpatizantes quase sempre presentes. Fellipe não se aguentava de vontade de voltar ao Brasil quando soube do retorno do Palestra aos campos. O fato pode não ter sido fundamental no seu retorno, mas pesou muito.
Volta do Palestra aos campos levou torcedores a loucura


Antes da estreia na competição houve um amistoso com a Seleção de São Bernardo e lá estávamos nós novamente vibrando muito pelo time em nova casa, agora no Baetão. A essa altura a velha Vila Euclides servia apenas ao São Bernardo FC. Seria praticamente entregue a eles como se fossem concessionários do local. Sem problema algum. O Palestra se adaptou muito bem ao Baetão, uma casa mais aconchegante e fácil de pressionar os adversários.

A primeira partida do Paulista Série B era diante do São Vicente no litoral, mas com portões fechados. E nós combinamos que iríamos da mesma maneira ao jogo, nem que fosse para ficar fora do estádio. Não tínhamos como ir, não havia condução e o técnico do Palestra, Sandro Gaúcho, já havia dito que não gostava da ideia dos torcedores viajarem junto com a equipe. Estávamos em cinco e fomos então até o centro de treinamento do clube no Riacho Grande de onde sabíamos que encontraríamos alguma carona. Cada um foi de um jeito. Um Ford Ka saiu com seis pessoas dentro. Chegando lá, a surpresa: os portões seriam abertos. Teríamos o prazer de ver nosso Palestra jogar do lado de dentro do estádio. E começaria um campeonato que seria o melhor das nossas vidas, 3x0 Palestra.



Persistência premiada. Portões foram abertos em São Vicente. Voltar para casa é que foi o problema.

E fui sem saber como iria voltar, só me importava em ver o jogo. Não tinha nem R$10 reais na carteira, não dava para voltar a São Bernardo e também não conseguia localizar minha carona. Ai me deu um estalo e eu lembrei que meu avô morava na Praia Grande, então fui de ônibus e dormi por lá”, conta Leandro.

A segunda partida foi no Baetão contra o Jabaquara e apesar da festa e do estádio lotado perdemos por 3x2. Um banho de água fria, mas sabíamos que aquele time ainda nos daria muitas alegrias


A torcida foi diversas vezes tema de reportagens pela sua fidelidade ao clube. Foto da Revista Placar

Nesse período a torcida foi ganhando novos componentes. O destaque do Palestra na mídia, por conta da parceria e da expectativa foi aos poucos atraindo mais curiosos. Mais um jogo em casa e nova derrota, dessa vez para o rival regional, Mauaense (1x0). Começou a haver então um drama sobre o fato do Palestra não vencer em casa. Mas a festa era cada vez mais bonita, fumaça, bumbo e muita festa nas arquibancadas do Baetão. O pequeno e acanhado estádio acabou sendo muito melhor para a pressão da torcida.

Vale lembrar das provocações da torcida aos adversários, a maioria das vezes sadias e que tiravam os atletas e especialmente os técnicos do sério. Uma mais engraçada que a outra. Em uma delas, quando o time era do interior provocava-se: “Sua cidade não tem nem Bradesco!”. Era só risada nas arquibancadas. Os técnicos também sofriam barbaridade com a tiração de sarro de torcedores atrás dos bancos reserva. Haviam vezes em que os torcedores urinavam nos copos plásticos e jogavam no banco de reservas para que o cheiro da urina incomodasse os visitantes.


Na partida de volta contra o Barcelona Esportivo, no estádio Ulrico Mursa, em Santos, os torcedores foram de Brasília ao jogo. Detalhe: o carro estava sem freio. Depois do jogo ainda aproveitaram para passear pela praia de Santos e São Vicente.

Seu Nelson era uma figura caricata que dançava, gritava e divertia toda arquibancada


Ainda nessa época surgiu no estádio uma das figuras mais lendárias até os dias de hoje, o Seu Nelson. Figura caricata, símbolo da torcida. Sempre com a mesma camisa, uma bela camisa, diga-se, da década de 90, guarda chuva em uma das mãos e uma garrafa de pinga na outra. Quando a torcida cantava ele não só acompanhava as músicas como fazia questão de dança-las. Um espetáculo a parte! Infelizmente anos depois soubemos do seu falecimento. Uma pena! Nelson tinha até comunidade no também finado Orkut.


Os jogos da primeira fase foram: 1º turno: São Vicente 0x3 Palestra, Palestra 2x3 Jabaquara, Palestra 0x1 Mauaense, Taboão da Serra 1x1 Palestra, Barcelona Esportivo 1x3 Palestra,  Guarulhos 2x2 Palestra. 2º turno: Palestra 1x1 São Vicente, Jabaquara 0x1 Palestra, Mauaense 0x4 Palestra, Palestra 0x1 Taboão da Serra, Palestra 5x1 Barcelona e Guarulhos 2x4 Palestra.

No segundo turno Palestra devolveu derrota ao Mauaense com juros e correção: 4x0.

O momento de glória


A Loucos do Palestra viveu então a sua melhor fase, aonde chegava, apesar do pequeno número, impressionava. Os panos verde e branco, as fumaças e os luminosos aprimoraram o espetáculo. Posteriormente surgiram outros do mesmo modelo no ABC. Sandro era também um dos que melhor adaptava as músicas. Foram várias. Era impossível não se notar e admirar a torcida palestrina no estádio.


Mudança pioneira  no estilo deram um 'up' na torcida



No início da parceria com o Santo André, como poucos atletas conheciam o clube, havia um distanciamento deles com os torcedores. Em um programa na web rádio Vozes da Cidade, o locutor Leandro Giudici cobrou o técnico Sandro Gaúcho desse fato e o distanciamento imediatamente acabou. Os atletas passaram a cumprimentar e agradecer os torcedores palestrinos em todos jogos.


Com o passar das fases, os atletas vibravam nos alambrados junto a torcida, uma enorme e inesquecível festa. Nos intervalos, os jogadores entoavam os mesmos cantos das arquibancadas. O mais famoso deles era: “O Palestra vai sair campeão, o Palestra vai sair campeão... Contra tudo e contra todos sempre estará no meu coração!”.


Vieram as outras fases e também a dificuldade em se acompanhar o clube. Difícil, mas não impossível. Outro momento curioso foi na ida a Porto Ferreira contra o Palmeirinha, 300 km distante de São Paulo. A diretoria havia prometido ajudar a torcida. A semana foi se passando e nada da ajuda chegar. Já havíamos desistido de ir, mas no sábado, véspera do jogo, a angústia de poder ver o Palestra tomou conta dos torcedores. Haviam poucas opções. Cogitou-se ir com a Brasília do Leandro, mas o carro não estava bom. Então Fellipe conseguiu emprestado o Escort do seu pai. Fomos em cinco no velho automóvel. Saímos às 3h da manhã de São Bernardo, contamos cada centavo de moeda para pagar os vários pedágios e chegamos lá, bem antes da partida, às 7h da manhã.


A viagem para Porto Ferreira. Persistência e recompensa



Ao chegarmos fizemos um buzinaço na cidade acordando a população e fomos para o estádio que já estava aberto. Montamos as barras, mas fomos obrigados a tirar até a abertura oficial do estádio às 9h30. Vibramos e cantamos muito aquele dia sob um sol escaldante do interior. Eles tinham chamado uma bateria de escola de samba e nós em cinco abafamos eles. Vencemos por 4x0 e mesmo assim fomos aplaudidos e parabenizados. Até uma cervejinha nos pagaram na saída. A diretoria ficou claro, muito envergonhada ao nos ver no estádio mesmo sem ajuda e durante a semana resolveu nos reembolsar pela viagem.

Demais jogos da 2º fase: Palestra 1x0 Barretos, Santacruzense 0x2 Palestra. Returno: Palestra 0x0 Santacruzense, Barretos 2x0 Palestra e Palestra 4x1 Palmeirinha.  


Com o avanço para as fases finais e jogos durante a semana não dava para acompanhar todos os jogos. Assim como nos jogos contra o Barretos, Santacruzense e o Red Bull Brasil no Moisés Lucarelli em Campinas, este último um jogo incrível, 4x4.


Jogo duro contra o Desportivo Brasil. Torcida empurrando o tempo todo. (Foto: Jogos Perdidos)



Nos jogos em casa vimos nesse tempo jogos arrebatadores como contra o Barretos (1x0) e Desportivo Brasil (1x1) com gols no finzinho, sofrido e vibrante do jeitinho que a Loucos sempre adorou. Festa do início ao fim sem parar e empolgando o estádio todo. Contra o Desportivo em uma noite de sexta no Baetão uma chuva torrencial que paralisou a partida por pelo menos 20 minutos e acabou virando matéria do Globo Esporte.

O caminho do Palestra rumo ao acesso aliás parecia muito difícil, mas fomos superando cada um deles. Nada nos tirava a certeza de que era o ano do glorioso acesso.

Jogos da 3º fase: Atlético Mogi 0x2 Palestra, Palestra 2x2 Desportivo Brasil, Atlético Araçatuba 2x2 Palestra. Returno: Palestra 3x0 Atlético Araçatuba, Desportivo Brasil 2x1 Palestra, Palestra 2x2 Atlético Mogi.




Palestra x Taubaté: um jogo inesquecível


Chegara o momento tão sonhado. Se vencesse o Taubaté na partida de volta, no estádio Joaquinzão, o Palestra conquistaria o acesso à Série A3. Um ano depois do licenciamento os torcedores estavam vivendo a melhor fase desde a existência da torcida. Todo mundo estava empolgado, mesmo esperando muita dificuldade dessa partida. O Taubaté é um clube tradicional e certamente favorito contra o Palestra São Bernardo, mesmo que tivéssemos feito uma campanha impecável.
Palestra x Taubaté foi o auge do clube no período da torcida palestrina



Esperamos pelo jogo a semana inteira de forma ansiosa. O diretor do Palestra, Wanderley Salatiel cedeu um ônibus a torcida. Na verdade para as ‘duas’. Ao longo da competição houve uma tentativa da diretoria de se criar uma torcida chamada ‘Corujão do Palestra’, patrocinada e incentivada por eles, sem o menor sucesso. Torcer para o Alviverde Batateiro exige muito mais do que patrocínio e incentivo. Mas, a maioria da outra torcida não compareceu. Muita gente faltou na verdade. Levamos 20 pessoas ao Joaquinzão, o que já foi um feito.


Havia na verdade uma descrença no fundo com o feito do Palestra. Isso porque palestrino é gato escaldado que sempre sofreu muito com as derrotas. No fundo, embora houvesse esperança tinha um medo de todos. Mas, logo que começou o jogo ele foi se esvaindo.


Muito se falava que a torcida taubateana podia ser uma ameaça caso vencêssemos, já que o estádio estava lotado com 5 mil torcedores, mas isso em nada preocupava os alviverdes. Fizemos festa o tempo todo e o Palestra saiu na frente, 1x0 com Pio. Willian, nosso goleiro, ainda defendeu uma penalidade e assim fomos para o intervalo. Quase como um sonho, melhor impossível.


Depois do intervalo a sorte mudaria de lado. O Taubaté empatou e depois virou. Com a tensão, os jogadores caíram na provocação dos torcedores e a confusão se ampliou. O jogo foi paralisado devido a invasão de campo. O Burro da Central ainda marcaria mais uma vez, sacramentando o fim do sonho palestrino.



A frustração com a derrota para o Taubaté não tirou o ânimo dos torcedores

Apesar da tristeza não deixamos de cantar e apoiar um só instante. Um torcedor sugeriu que saíssemos antes do fim do jogo para evitar briga. “Eu disse que só iríamos sair dali no fim do jogo, nem que fosse em cima de uma maca”.

Os jogadores do Palestra estavam indo para o vestiário quando alguém os fez lembrar da torcida. Eles então atravessaram todo o campo e foram até nós. Cada um deles nos aplaudiu e reverenciou. Vários deles arrancaram as camisas e atiraram para nós. Camisas que estão muito bem guardadas até hoje por cada um deles.


Já os torcedores do Taubaté que haviam invadido o campo, ao invés de briga, também foram cumprimentar a torcida do Palestra pela festa e pela persistência em ficar até o fim do jogo. Algo muito bonito de se ver. Alguns trocaram camisas e até uma famosa foto do acesso taubateano tem um dos torcedores com a camisa da Loucos do Palestra. Até os dias atuais a relação das torcidas é muito boa. Na volta, a tristeza foi dando espaço ao bom humor. Quase deixamos um torcedor para trás e na parada final, em São Bernardo, ainda tomamos muita cerveja.

"Na saída encontrei o presidente Fábio Cassettari descendo das tribunas, ele estava inchado de tanto chorar, me deu um abraço forte e comovido como se fosse um torcedor dos nossos. Aquele momento era um sonho que acabava pra todos nós", lembra Leandro

Os jogos da 4º fase: Palestra 0x0 Taubaté, Red Bull 4x4 Palestra, Palestra 1x1 Desportivo Brasil. Returno: Desportivo Brasil 3x0 Palestra, Palestra 1x0 Red Bull e Taubaté 3x1 Palestra.




2010: um ano na raça


Veio 2010, novamente sem parceria. O Palestra voltava a disputar as competições na raça. Aliás, raça era a palavra que mais imperava. Era uma boa equipe formada sobretudo por jogadores raçudos.


Em 2010 retornou também o verdadeiro clássico batateiro, o quase octagenário ‘Palestra x EC São Bernardo’. O Bernô retornou aos campos e trouxe brilho a competição gerando atenção da mídia que deu ótima cobertura aos dois jogos da primeira fase entre as equipes. O Palestra perdeu a primeira, mas venceu a segunda por 2x1 de virada com um golaço do meio de campo do meia Igor Feijão.


O gol de Feijão do meio da rua foi um dos momentos mais arrebatadores para os torcedores



O técnico inicial foi Paulo Roberto Liló que apesar do ótimo início e de ter montado um bom e experiente elenco caiu após uma derrota para o São Vicente. Paulo Leme deveria assumir, mas não assumiu. Quem veio foi Daniel Vieira, um técnico jovem e motivador que caiu como uma luva para aquele momento. A indicação foi do preparador físico Kaue Berbel. Daniel encarnou o espírito palestrino da garra e da raça. Se o time de 2010 não tinha as estrelas e as mordomias de 2009, sobravam aos jogadores vontade e alma palestrina.


Em uma partida contra o Taboão da Serra fretamos uma Kombi. Não era uma Kombi qualquer, era uma Kombi muito velha cheia de ferramentas e que morria em todos os faróis. O preço era atraente, até porque o motorista imaginava que íamos para o bairro do Taboão em São Bernardo e não para Taboão da Serra-SP. No fim deu tudo certo.


O motorista confundiu o bairro do Taboão em São Bernardo com Taboao da Serra-SP...



Aquele ano foi especial. A sintonia entre torcedores e jogadores era muito grande. Assim como a música que a equipe de 2009 sempre cantava, este sim era o verdadeiro ‘time da virada’. No returno da competição três viradas incríveis, simplesmente inesquecíveis. A primeira sob o comando interino de Flávio Alves foi contra o Mauense por 3x2.

Logo na chegada de Daniel Vieira vencemos o Guarulhos. O Palestra perdia de 2x1 no Baetão até os 46 minutos do 2º tempo. Tiago Lopes diminui empatando o jogo. Dois minutos depois aos 48 minutos viramos o jogo fazendo 3x2 com Rafael Boi, que a um estilo 'Hulk' rasgou o uniforme na comemoração. Sensacional! As imagens de torcedores e atletas se abraçando através dos alambrados mostram essa ligação.  Esse time merece até escalação: Vinícius, Cássio, Felipe Gaspar, Phillipe, Mizaell, Tiago Lopes, Robson, Rafael Boi, Alessandro, André e Aloísio.



“A torcida do Palestra era essencial para nós jogadores , me lembro como se fosse hoje , nunca esqueço da força que que eles nos davam em campo nos dias de jogos e também nos treinos. Apesar da dificuldade de estrutura que o clube enfrentava , em salários , em transportes para dia de jogos, sempre que entravamos em campo e víamos na arquibancada o pessoal com sinalizadores , rojões, faixas e vibrando por nós,  nos motivávamos muito e esquecíamos de todas dificuldades. Só queríamos saber de dar alegria a torcida e às pessoas que saiam de casa para nos ver jogar. Independente do resultado eles nunca nos abandonavam , não xingavam a gente , muito pelo contrario, apoiavam muito e isso fazia que nós saíssemos de campo de cabeça erguida com o dever de que lutamos e jogamos de igual pra igual sempre. Tenho orgulho de ter feito parte daquele elenco , ter participado da história do Palestra e ter conhecido de perto o Leandro que é um cara fantástico . Muito obrigado Palestra e torcida Loucos do Palestra por nunca terem nos abandonado”, relembra o jogador Rafael ‘Boi’.




Virada contra o Guarulhos foi uma das mais saborosas vitórias da história

Ainda havia o rival EC São Bernardo pela frente e devolvermos a derrota do 1º turno era quase obrigação. O Palestra estava há muito tempo sem perder para o Esporte antes da derrota de 2x1. Coube a Daniel Vieira mais essa missão e vencemos! Igor Feijão fez o primeiro aos 15 minutos do 1º, Daniel do rival empatou aos 33 e Wilton desempatou aos 40. Uma enorme comemoração nos alambrados.

Palestra e Guarulhos. VT da Net TV

Nesta partida contra o Mauaense, que tinha parceria com o São Bernardo FC, houve uma briga na parte externa do estádio. Queriam tomar a faixa dos nossos torcedores. Um símbolo de vitória para as torcidas. Uma bobagem sem fim. Não conseguiram. Porém, o episódio forçou uma reflexão sobre o futuro da torcida. Nosso pequeno número e a constante provocação e ameaças começou a desmotivar o estilo de torcer. Nos reunimos mais de uma vez em um bar em frente ao Palestra no Ferrazópolis e abordamos a questão. Sandro chegou a ser seguido nas ruas por torcedores do rival. Então decidimos que nos reuniríamos antes, durante e depois nos jogos, mas sem faixas, bandeiras, barras e instrumentos. E este foi o fim dos espetáculos nas arquibancadas.

Nenhuma equipe como a de 2010 manteve mais sintonia com os torcedores



Acompanhamos o ano todo. Uma bela equipe, diga-se e que teria certamente passado de fase se não fosse – mais uma vez – um erro grotesco e comprometedor da diretoria. Na penúltima partida da primeira fase, faltou o médico em uma partida contra o Jabaquara em pleno Baetão. Não cabe a nós julgarmos. Dificilmente tal fato seria premeditado, no entanto foi avassalador para o clima no elenco.


“O Renan Quintanilia que me auxiliava na assessoria de imprensa do clube e eu pegamos o carro e fomos atrás de um médico. Percorremos vários hospitais, mas era quase impossível. Eu nunca tive médico conhecido”, conta Leandro.


Restava apenas uma partida contra o Taboão da Serra na última rodada e perdemos de 2x0. Ficamos de fora da segunda fase. Nada de lamentações. O Palestra fora heroico e mereceu muito aplausos aquele ano. Os erros ficaram mais uma vez na conta da diretoria.


Em 2010 a equipe foi guerreira, mas erro da diretoria mais uma vez prejudicou o time


Os jogos de 2010:
1° turno: Palestra 2x1 São Vicente, Mauaense 1x1 Palestra, Palestra 0x0 Nacional, Guarulhos 0x0 Palestra, Jabaquara 0x1 Palestra, Palestra 1x2 EC São Bernardo, Taboão da Serra 3x1 Palestra. Returno: São Vicente 5x0 Palestra, Palestra 2x1 Mauaense, Nacional 2x1 Palestra, Palestra 3x2 Guarulhos, Palestra 0x3 Jabaquara (WO), EC São Bernardo 0x1 Palestra, Palestra 0x2 Taboão.




Rivalidades


O EC São Bernardo é sem dúvidas o grande rival palestrino, mas essa rivalidade merece um parênteses só dele. Nossa torcida não pegou a melhor fase da rivalidade. Aliás, há muito tempo ela não existia. Os dois alternaram licenciamentos enquanto o outro disputava competições profissionais.


Havia um grande coleguismo com os torcedores do Esporte, que costumávamos chamar de ‘Esportinho’ para tirar sarro. Thiago Teixeira era amigo de longa data de Leandro e Pedro Faian torceu muitos anos pelo Palestra antes de seu clube voltar a campo. Este fato nós sempre lembrávamos, mas claro, de forma sadia. Nunca houve entre os torcedores nada que não fossem brincadeiras e debates para se saber quem era o melhor.



Torcedores de Palestra e EC São Bernardo sempre se respeitaram apesar da rivalidade



Em 2011, em um dos dois clássicos atravessamos o estádio todo e fomos até a torcida bernardino cumprimenta-los. Alguém na arquibancada até imaginou que fossemos brigar, mas ao contrário. Um sinal de diplomacia que inclusive foi registrado pelos veículos locais.



Contra o São Bernardo FC, apesar de não haver história entre ambos, sobraram provocações e brigas, tanto entre diretorias como entre torcedores. Na verdade, o que a diretoria do Tigre sempre sonhou era em ter um único clube na cidade e seus torcedores não admitiam dividir atenções com os palestrinos, até porque o Palestra por ser mais tradicional, simpático e alternativo sempre despertou atenção da mídia, o que definitivamente os irritava.


Por parte dos palestrinos o que havia era inconformismo e revolta pelos privilégios que o time sempre teve desde sua fundação, o que nunca houve para o Alviverde. O Palestra se afastou e o ECSB continuou, porém, os dois (EC São Bernardo e São Bernardo FC) raramente se estranharam. Quem incomodava o São Bernardo FC era o Palestra, até pelo início de ambos (uma longa história já abordada aqui) e , talvez um pouco por conta dos protestos frequentes da sua torcida.


Um dos espetáculos mais bonitos já feito pela Loucos




O último time em campo


Dai por diante o Palestra voltava a sua velha realidade recente. Em 2011 novamente voltaríamos a campo com um elenco muito jovem e algumas parcerias. No começo do ano até parecia ser diferente. Encaramos o São Paulo em um jogo amistoso no CT de Cotia e empatamos em 2x2. Mas não. Como técnico o escolhido foi o comentarista esportivo, Lombardinho, filho do famoso Lombardi dos programas do Silvio Santos. Além da experiência como comentarista ele também comandara equipes amadoras em Santo André.


Aquele ano seria o mais trágico de todos os demais. Pior do que aquilo só mesmo o licenciamento que viria na sequencia. Nossa torcida apenas se reunia nas arquibancadas para assistir juntos. Só não fomos os últimos do grupo porque o Nacional, tradicional clube paulista, perdeu pontos e permaneceu quase todo o tempo na lanterna. Nossa única vitória, aliás, foi sobre eles no primeiro turno. Vexatório! 


Time de 2011 não deu liga e o Palestra foi humilhado várias vezes em campo



Lombardinho foi embora e Daniel Vieira voltou, mas não teve jeito, a equipe não deu liga. Até quando jogávamos melhor perdíamos. Pior: sem nenhuma demonstração de garra e raça que o elenco de 2010 demonstrou. Pela primeira vez na sua história, contra os princípios que idealizamos como torcida passamos a xingar o time em campo. Era pura vergonha ver o Alviverde jogar.


Em uma partida diante da Mauaense no Pedro Benedetti fomos humilhados, perdemos de 7x1 e xingamos muito o elenco. Alguns jogadores acharam que estávamos ali para brigar, mas é obvio que jamais isso passou em nossa cabeça em hipótese alguma. A única coisa que cobrávamos era que eles honrassem nossa gloriosa camisa. Vexatório. Fomos o 7° do grupo com 4 pontos, o Nacional com 2 em 8º. Além de tudo perdemos os dois clássicos. Era muita humilhação para um só ano.



O técnico Daniel Vieira conseguiu entender o espírito palestrino, mas equipe não deu conta do recado
Os jogos de 2011:
Palestra 0x1 EC São Bernardo, Portuguesa Santista 3x0 Palestra, Palestra 1x2 São Vicente, Guarujá 3x0 Palestra, Palestra 2x1 Nacional, Palestra 1x1 Mauaense, Jabaquara 2x1 Palestra. 2º turno: EC São Bernardo 2x0 Palestra, Palestra 0x2 Portuguesa Santista, São Vicente 5x0 Palestra, Palestra 1x2 Guarujá, Nacional 3x1 Palestra, Mauense 7x1 Palestra e Palestra 0x4 Jabaquara.



Dois fatos curiosos nesse ano, ambas contra o Nacional no Baetão: O primeiro deles foi que o técnico nacionalino era José Nogueira, treinador que comandou o Palestra em 2005 depois da saída de Rotta. Um grande técnico, aliás. E na arquibancada começaram as provocações. Um torcedor já rouco de tanto gritar avisou que se tratava do técnico Nogueira que já comandara nossa equipe. Enfim. O jogo terminou e no fim o presidente Fábio Cassettari foi até ele o cumprimentar. Para surpresa de Cassettari, Nogueira disse que dispensava os cumprimentos, pois fora ele quem havia dito seu nome para a torcida, já que o ex-presidente também tem um vozeirão. Resultado: foi preciso separar para que não houvesse briga.



O outro: as duas equipes eram respectivamente as últimas da tabela e as que menos tinham pontos em toda a competição. O fato chamou a atenção do Globo Esporte que foi até o estádio certamente fazer chacota de ambos. A torcida ciente da gozação que viria adiante se antecipou e tratou de hostilizar o repórter Marco Antonio. Deu certo. No dia seguinte a matéria que foi para o ar foi bem mais amena, destacando inclusive o jogador Brito, ex-Santos.

Paciência da torcida acabou após humilhação



Vale lembrar uma outra passagem em que a torcida fugiu à velha regra. Na verdade, o que havia acabado era a paciência.  Naquele mesmo ano, o Palestra faria no sub-20 (2º divisão) um péssimo primeiro turno. Péssimo mesmo. Mas, no 2º turno reagiria de forma inesperada, vencendo a maioria dos jogos e inclusive alcançando de forma surpreendente a 2º fase após uma vitória de 9x0 sobre o São Vicente. Na outra fase, as quartas de finais encontrou o rival EC São Bernardo que já havia nos vencido nas duas partidas da primeira fase. Pelo arranque dos dois times dizia-se que quem passasse dali seria o campeão. E foi, o Esporte venceu o campeonato. 


Dava para sentir no ar que o Palestra venceria. Esse tipo de sensação é fácil de perceber para quem acompanha e ama um clube. O jogo é obvio que começou muito quente. Brito do Alviverde fez 1x0 aos 20 do 1º. Alexson fez 2x0 aos 38. Já no segundo tempo mesmo com uma enorme pressão do rival ampliamos fazendo 3x0 aos 36 min. com o baixinho Jackson. Que festa linda! O Esporte ainda fez dois gols no fim, mas um pênalti errado por Brito irritou demais a torcida. Vencemos, mas não levamos a passagem para outra fase.




Loucura total na comemoração do gol contra o EC São Bernardo



Um jogo de sub-20 que mais parecia final de Champions League. Quase no fim do jogo, pênalti para o Alviverde. Era a chance de ampliarmos e passarmos adiante, já que no primeiro jogo havíamos perdido por 2x1. O técnico Daniel Vieira mandou Fellipe Casarin para a cobrança, mas Brito, um atleta que já jogara até no Santos ao lado de Neymar e que vinha mal na competição sendo muito criticado pela torcida, pegou a bola na mão e foi para marca do pênalti.


Brito errou o pênalti e ai é claro que a torcida não perdoou. Antes do fim ainda foi expulso injustamente acusado de ter calçado o goleiro rival Jéferson. No fim do jogo foi extremamente hostilizado. Todos pediam que ele abandonasse o Palestra. Ele chorando prometeu que o faria, mas ainda continuaria. Do lado de fora do vestiário a ofensa continuou, mas nada além disso ocorreu. Na saída do estádio ele se encontrou com a torcida e acabou até amparado por alguns. Coisas do futebol.


Foi a última vez em que nossa equipe entrou em campo. Depois daquilo seriam apenas saudades que duram até hoje.




O trágico afastamento


Em 2012 o Palestra anunciou que estava fora das competições. Manteve tudo em segredo até o instante da confirmação pela Federação Paulista. Embora a notícia não fosse uma novidade total, pegou todo mundo de surpresa. O ano anterior havia sido traumático. Nem mesmo 2007 se comparava a uma equipe como aquela, sem raça, sem garra e que só acumulou péssimos resultados.


“Assim que soube eu mandei um e-mail para o clube me desligando. Aquilo para mim foi a gota d’água. Não dava mais para concordar com aquilo. Eu nunca deixei de apoiar nem nos piores momentos. Foi assim em 2008, mas dessa vez o Palestra saía humilhado. Faltavam projetos, bons projetos e diálogo com a diretoria. Embora sempre tive um bom relacionamento com o Fábio (Cassettari), mas de um tempo para cá as conversas com o Neto (atual presidente) já não eram as mesmas. Ele nunca gostou de futebol e meu medo era justamente que aquele dia chegasse, o do nosso afastamento. Eu imaginei que do lado de fora poderia cobrar mais. Chegamos a nos desentender, trocar ofensas, mas inclusive acho que exageramos, não precisava chegar a tanto. Não guardo mágoa alguma deles. Ao contrário. Hoje se pudesse até me desculparia”, conta Leandro Giudici



Palestra Sempre


Aquele sentimento era um vazio enorme. Algo como se um ente querido tivesse partido. Não haviam torcedores que não sentissem aquela mesma tristeza profunda de não mais poder ver o Palestra em campo. Havia também uma sensação semelhante na maioria e que se confirmaria: o Alviverde não retornaria em breve.


Todos os jornais destacaram a saída do Palestra da competição e a frustração dos torcedores. Aquele vazio motivou um movimento chamado ‘Palestra Sempre’. A ideia era excelente, pena que não foi adiante. O objetivo era criar um grupo de palestrinos que cobrariam resultados e auxiliariam o clube o quanto fosse necessário, já que a diretoria jamais deu qualquer abertura para novos sócios. O clube social do Palestra na verdade só existe no papel.


E iniciamos o grupo realizando inclusive duas reuniões. O ‘Palestra Sempre’ visava reunir novamente todas as gerações de palestrinos, desde os mais antigos aos contemporâneos, torcedores, filhos e netos de atletas, dirigentes, enfim. A primeira foi na Brasilitália e a segunda no campo do Ferrazópolis, local onde ainda estão muitos da segunda geração. Conseguimos trazer para o grupo os filhos e netos do fundador, Alfredo Sabatini, o que demonstrava a seriedade do grupo.


Reunião do grupo 'Palestra Sempre' no Ferrazópolis reuniu ex-atletas do clube



Mas, como se diz sempre nesse blog, nada para o Palestra é fácil. E não foi. Na parte de projetos, ideias e opiniões tudo fluiu bem. Ocorre que na parte derradeira, onde levaríamos isso para a diretoria, muitos se opuseram alegando que aquilo seria inútil. Fácil não seria, mas, na verdade, todo o grupo seria inútil se isso não ocorresse, afinal, não éramos nada além de um grupo disposto a cobrar e auxiliar o Palestra. Não tínhamos poderes efetivos para realizar nada sem permissão da diretoria. E o grupo foi se diluindo.



Só saudades


Lá se vão seis anos em que o Palestra permanece licenciado e essa saudade só aumenta. O clube melhorou de forma geral. A sede, que antes possuía um convênio com uma grande empresa passou novamente a ser gerido pelo clube, passou a ter novas modalidades e finalmente conseguiu em pequena proporção o que o movimento Palestra Sempre sonhava: abrir suas portas para a comunidade. Ainda não o suficiente, mas já um avanço.

Não há no entanto nada, nenhum aceno que queira aproximar ou trazer os torcedores para perto do clube. Nunca houve uma intenção parecida. Os torcedores fiéis ainda mantém uma esperança, mas os outros simpatizantes vão diminuindo pouco a pouco.


“O clube fechou as portas para os seu torcedores. Não há conversa ou algo parecido. São poucos, assim como eu, que ainda tem esperança de ver o Palestra novamente em um campeonato profissional. Somos amigos (torcedores), conversamos frequentemente. Nos conhecemos através do Palestra, mas claro que as coisas ficam mais difíceis, pois são poucos que realmente continuam a pensar no Palestra hoje em dia”, diz Fellipe.

“Antes, eu listava momentos. Hoje, percebi que o momento marcante é jogo a jogo. Só de ver o Palestra em campo é uma satisfação inexplicável”, completa.


Essa torcida apaixonada não pede nada além de rever seu time em campo, não importa se ganhando, empatando ou perdendo. “Sonho em ver o clube forte, disputando sempre as competições. Licenciamento é algo muito doído de aceitar”, acrescenta Fellipe. E sabe também a dura realidade que vive não só o Palestra São Bernardo como também todos os clubes do mesmo porte e da mesma divisão, mas acreditam que com projeto é possível realizar.


Diário do Grande ABC destacou a paixão que levou Fellipe a ter três tatuagens do Palestra





Os anos em que a Loucos do Palestra esteve nas arquibancadas muito se tirou como aprendizado. O principal deles é que o amor por um clube justifica muitas loucuras, muita insensatez, brigas com a família, namorada, viagens intermináveis, falta de dinheiro, de que é possível empurrar um clube; de que uma torcida é sim peça importante para um time, desde que ele consiga entender a mensagem e o espírito das arquibancadas. O outro, e esse negativo, é de que ‘torcida organizada’ no Brasil é algo completamente contaminado pelo vício da violência e da selvageria. Na arquibancada, do mesmo modo que alguns – como os loucos – extrapolavam seu amor ao clube, outros usam tudo isso para o mal. Ali é uma terra sem dono. A sensação de estar em grupo torna muita gente valente. Por mais que você tenha boas intenções.


A Loucos, porém, cumpriu e bem o seu papel. Empurrou por diversas vezes a equipe para a vitória, para um empate suado e até para uma derrota honrosa. Fez esse clube, por tanto tempo esquecido pela mídia e pelos são-bernardenses um pouco mais reconhecido, admirado e mais forte. Uma pena que tanto amor, tanta dedicação tenha sido desperdiçado pela diretoria que não viu naqueles jovens uma oportunidade de se criar uma nova geração.

Não foram poucas as vezes em que veículos destacaram o amor incondicional da torcida palestrina


“Fui assessor de imprensa do Palestra por cinco anos. Fiz muitas homenagens a veteranos, uma sessão solene na Câmara em homenagem aos nossos 75 anos, enfim. Fiz o que estava ao meu alcance, mas ficou a impressão que muito mais poderia ter sido feito. Eu nunca fui nada além de diretor de comunicação. Certa vez até fui incluído na lista de conselheiros, mas não sei ao certo se foi sacramentado. Conversava muito com os Cassettari, mas tudo sempre foi muito difícil. A família tem muitos méritos quando se fala de Palestra, mas as vezes penso que eles não querem mudar a situação atual”, diz Leandro.



O jornalista Antonio Kurazumi, com passagens por vários veículos da região e que já escreveu por mais de uma oportunidade sobre a torcida comenta sua impressão sobre a Loucos “Torcer pelo Palestra é muito mais do que ter simpatia pelo time. Sem exceções, o torcedor do alviverde batateiro conhece cada detalhe da história do clube. História - como a do quase acesso contra o Taubaté - que é contada com amor indescritível para um familiar, um amigo, que logo se comove e vira mais um louco pelo Palestra. É uma torcida seletiva na essência, qualitativa. Simples assim. Para os palestrinos, pouco importa o resultado de um jogo ou campeonato, até porque não há time para torcer atualmente”, diz ele.



O fato é que em São Bernardo ninguém foi mais fiel que os palestrinos acompanhando tão de perto todos os jogos, vibrando, incentivando e fazendo uma linda festa com um clube que por poucas vezes viu uma boa fase. Palestrino não tem outra razão para sê-lo que não seja amor, pura e simplesmente. Palestra não é fase boa, moda, empolgação, etc. A história da nossa torcida imita a história do seu próprio clube. Todos que ali chegam é porque admiram a nossa bela e gloriosa história. Nem tanto assim de glórias, mas de muita luta.