Texto de Leandro Giudici
segunda-feira, 5 de setembro de 2022
Grandes nomes do Palestra: Alemão, o Pelé da Várzea
Texto de Leandro Giudici
sábado, 8 de agosto de 2020
O título de 1992 e uma revelação para o futebol brasileiro
O Palestra São Bernardo completa 85 anos em 2020. De lá pra cá foram inúmeras glórias, passagens importantes e, claro, títulos. Mas, apenas um deles é o de campeão pela Federação Paulista de Futebol. O de 1992 no Paulista de Juniores da 2º Divisão. Uma espécie de Sub-20.
A mais famosa taça na galeria palestrina é da Série B1b em
1997, porém, de vice-campeão. Na oportunidade o vencedor foi o Oeste de
Itápolis. Desde então o Palestra enquanto profissional passou a integrar a
Série B1 da época, hoje conhecida como Segunda Divisão, ou, o quarto nível
estadual.
Além da taça, um dos mais marcantes fatos dessa equipe é a
formação de um jovem garoto de apelido “Cacá”, dado pelo treinador Sérgio
Caiado. Um franzino habilidoso que jogava na meia esquerda com a camisa 8 e que
os colegas garantem já ter uma habilidade diferenciada de qualquer outro. Cacá
é Zé Roberto, nome que ficaria imortalizado na Portuguesa-SP, clube para o qual
seguiu antes mesmo do fim da competição e seria de fato revelado.
E aí também há uma questão curiosa. Até hoje Zé Roberto em
diversas entrevistas diz que o clube que o revelou foi a Lusa do Canindé. E de
fato foi aquele que lhe apresentou ao futebol, ou seja, o revelou. É muito
justo que a Portuguesa seja considerada o seu clube revelador, ainda que o
Palestra tenha sido o primeiro.
Em 1991 contam alguns atletas a equipe carecia de um pouco
mais de estrutura. Não tinham ajuda de custo e treinavam em um período mais
alternado, o que dificultou ir mais longe naquela competição. A ideia era
preparar atletas para os profissionais, algo que o Palestra sempre fez muito
bem. Em 1993, nos profissionais o Palestra voltou a pedir afastamento da
Federação para reorganizar a casa. Ou seja, sentiu o peso do profissionalismo,
algo que demorou mais de 30 anos para acontecer. Voltaria em 1997 com título como
mencionamos.
Já em 1992, o clube conseguiu apoio para investir um pouco
mais na categoria, e isso foi fundamental para a conquista. Os jogadores
passaram a ganhar vale transporte, refeição e uma ajuda financeira. Passaram a
treinar em dois períodos e a se alojar na sede do clube no Ferrazópolis. Há
muitos anos que o Palestra investia pesado na base como principal caminho de
estar nos profissionais.
Cristiano Pereira, que jogou nessa época, nos lembra um
pouco daquela época. Ele é conhecido como “Pereirinha”, já que é sobrinho do
Pereira, ex-zagueiro do clube de 1989 a 1992. Ele chegou ao Palestra em 1990,
um ano do clube disputar os torneios nas categorias de base. Ele lembra que em
1991 foi uma época bem difícil e havia pouca perspectiva. O clube saiu após uma
derrota para o Jabaquara de Santos por 5x1. Lembra ainda de uma vitória sobre o
Mauaense e uma derrota para o Guapira, outro clube licenciado do bairro do
Jaçanã em São Paulo, do qual o Alviverde enfrentou diversas oportunidades.
Técnico Sérgio Caiado, um grande nome do esporte batateiro
No ano seguinte, Caiado, um dos maiores nomes do esporte
são-bernardense, já debilitado, deu lugar a Benê, mais precisamente Benedito
Carlos de Souza, ex-jogador corintiano de 1963 a 1971. Benê mora atualmente em
Sorocaba onde tem uma escolhinha de futebol. Caiado faleceria pouco tempo
depois. Hoje ele dá nome ao estádio distrital do Olaria, no bairro Baeta Neves.
Benê também havia passado como técnico pelo rival EC São Bernardo.
Pereirinha em relato lembra que para 92 vieram atletas de
grande qualidade como o próprio Cacá, o Zé Roberto, que vinha do Pequeninos do Jóquei,
- um clube com foco no social muito tradicional que já ganhou diversos títulos
-, alguns atletas do Santo André, como Rocha, Neno e Josa, que fizeram o time
ganhar liga. Também havia o treinador Giba, que ainda atua como preparador e
eles treinavam em dois períodos e dormiam nos alojamentos do clube. Ele lembra
ainda dos almoços na casa de João Mulambo, que era roupeiro do clube.
Pereirinha entrando no gramado do Baetão |
Na
campanha vitoriosa de 1992, o Alviverde da Autocap disputou 14 jogos, com 7
vitórias, 5 empates e apenas 2 derrotas. Marcou 16 gols e sofreu apenas 8
tentos. A grande maioria dos jogos era no estádio da Vila Ferrazópolis, casa do
Palestra.
A competição teve início em maio e acabou no fim de setembro e era regionalizada, portanto, o Palestra caiu em um grupo de clubes que frequentemente encararamos em outras competições, como o próprio rival, EC São Bernardo, o Jabuca, de Santos e o Monte Negro de Osasco, por exemplo. A propósito, 1992 seria o último ano da equipe de Osasco com esse nome. Neste mesmo ano, ele daria lugar ao Osasco Futebol Clube, que permanece até os dias de hoje.
Outro que fez parte desse equipe foi o jogador Alexandre, conhecido como Lins na época. Atualmente ele mora em Sumaré. Os relatos dele e de Pereirinha são bem semelhanças com algumas pequenas contradições.
Técnico Benê atualmente (site Milton Neves)
Segundo
ambos relatam, a equipe fazia algumas preliminares do profissional. Uma dessas
preliminares foi diante do AD São Caetano, que anos mais tarde ficaria
nacionalmente famoso com suas fabulosas equipes no fim dos anos 90 e início dos
anos 2000. A grande estrela do Azulão era o zagueiro Luís Pereira, o Luís Chevrolet,
que antes do fim da carreira atuaria também no EC São Bernardo e também
Serginho Chulapa.
A
foto dessa partida no estádio Anacleto Campanella é uma das mais famosas dessa
mesma equipe. Sobre a presença de Zé Roberto na equipe, eles contam a mesma versão.
Ele não chegou a ser campeão com o Ferrão da Vila.
Lins
lembra também que a equipe profissional era muito forte e que havia um grande
estímulo a ser promovido a equipe principal. Ele revela certa mágoa por certa
vez ter se machucado e ter tido pouco apoio da diretoria, mas, lembra também de
um jogo que foi uma verdadeira “guerra” em campo, diante do União Suzano, em 25
de julho pela 2º fase da competição. O Palestra fez 1x0 e manteve o resultado
até o fim com muito custo, relembra. Ele recorda que teve câimbras e jogou de
centroavante parado, enquanto o atacante foi pra zaga. Lins chegou a atuar no
profissional naquele mesmo ano em uma única partida contra o XV de
Caraguatatuba. O Palestra estava ganhando e ele entrou para segurar o
resultado.
Jogo no Baetão diante do rival EC São Bernardo |
A
final, quem recorda com mais precisão é Pereirinha. Ele lembra que foi um jogo
que movimentou a cidade, sobretudo o Ferrazópolis, onde o clube era mandante. O
primeiro jogo foi na cidade de Lins, no interior a 20 de setembro, em um sábado.
Zé Roberto, na época apelidado de Cacá |
O
Palestra viajou na sexta-feira e se hospedou na cidade de Cafelândia. Era um
clima de bastante festa e um calor infernal, segundo ele. O estádio Gilberto
Siqueira Lopes, o Gilbertão estava lotado. Ainda assim, lembra que foram muito
bem recebidos. Foi um jogo muito pegado, mas o esquadrão batateiro segurou um
0x0.
A
segunda final foi na Vila Ferrazópolis que estava lotada de torcedores. O time
da Linense era um time forte, mas prevaleceu a experiência dos jogadores do
Palestra. Pereirinha lembra que o time jogou desfalcado de alguns como Viola e
Maia. Havia festa, fogos e faixas.
Não há precisão na informação, mas, segundo ele os gols saíram apenas no 2º
tempo. O técnico Benê foi para o vestiário muito bravo e fechou a equipe para a
segunda etapa. A partida acabou 3x1 para o Palestra e os jogadores correram
para abraçar a torcida. Um desses gols foi de Josa, relembra o ex-atleta. Foi
uma imensa alegria. Josa, Nene e Rocha jogavam também na equipe principal. E é
possível imaginar o que aquele título simbolizava ao Palestra naquele instante.
Alexandre, Ricardo, Maia, Pereirinha, Lins, Capixaba, Farinha e Boni. Agachados: Caniggia, Marcelo, Da Lua, Zé Roberto, Goiano, França e Rick. |
A
maioria dos atletas acabou subindo, porém, em 1993 o Alviverde deu uma pausa
nos profissionais. Era uma época de transição na presidência. Estava saindo
Domingos Nóbrega Fernandes e estava entrando o jovem Fábio Cassettari, filho de
Zeca Cassettari.
A
tabela desse campeonato é uma raridade garimpada pelos queridos amigos do blog
Jogos Perdidos, que já falaram da competição no seu canal.
Os
jogos foram esses:
1º
Fase:
24/05/1992
– Monte Negro 4x3 Palestra
30/05/1992
– Palestra 1x0 Jabaquara
07/06/1992
– EC São Bernardo 0x2 Palestra
13/06/1992
– Palestra 0x0 EC São Bernardo
21/06/1992
– Jabaquara 1x0 Palestra
27/06/1992
– Palestra 3x2 Monte Negro
2º
Fase
19/07/1992 – Palestra 0x0 USAC
25/07/1992
USAC 0x1 Palestra
01/08/1992
– Palestra 0x0 Esportiva de Guaratinguetá
08/08/1992
– Esportiva de Guaratinguetá 0x2
Palestra
Semifinais
29/08/1992
-Palestra 0x0 Amparo
05/09/1992
– Amparo 0x1 Palestra
Final
20/09/1992 – Linense 0x0 Palestra
26/09/1992
– Palestra 3x1 Linense
Zé Roberto, um
silêncio que entristece
O
fato de Zé Roberto não mencionar o Palestra como seu clube revelador é
totalmente compreensível, mas ele quase nunca lembrar de sua passagem no
Alviverde até hoje magoa muitos torcedores.
Nós
procuramos ele e a assessoria para falar sobre esse episódio, mas ele jamais
respondeu. Em nenhuma reportagem dada por ele até hoje, o nome do Palestra foi
sequer mencionado. Por três oportunidades, reportagens procuraram pelo clube
para procurar saber mais do fato, mas de uma forma estranha, ele nunca toca no
assunto.
O único retorno dado até hoje por ele, foi em 2011. O então diretor Fabio Modolo fez contato com alguém ligadoao atleta. Pensava-se em dar o nome da
sala de troféus pra ele, já que ele estava em alta. Ele mandou avisar que até
ajudaria com os custos se necessário, mas nunca saiu disso. O Alviverde não
tocou a ideia adiante e ele nunca retornou.Na Lusa do Canindé
Anos depois despontou no cenário nacional jogando pela Portuguesa de
Desportos, onde, em 1996, chegou ao vice-campeonato Brasileiro.
Com a Seleção Brasileira, conquistou os títulos da Copa América e Copa
das Confederações. Em 1998 disputou o seu primeiro mundial. Reserva de Roberto
Carlos, fez parte do grupo de Zagallo na Copa do Mundo. Sem grandes
oportunidades, amargurou o banco na França e acabou de fora da Família Scolari
pentacampeã do mundo em 2002.
Na Alemanha, país em que viveu os melhores momentos da carreira, deixou
sua marca de forma incontestável. Titular absoluto de Carlos Alberto Parreira
na Copa do Mundo de 2006, foi considerado pela crítica esportiva um dos
principais jogadores do mundial. A combinação de técnica apurada e explosão
física lhe garantiu o tão esperado reconhecimento internacional.
Na partida contra Gana, jogo que consagrou o recorde de Ronaldo Nazário
como maior goleador da história das Copas, foi eleito pela FIFA o melhor atleta
em campo e, ao lado da dupla de ataque formada por Adriano e pelo próprio
Fenômeno, balançou as redes para anotar um dos 3 gols brasileiros na goleada da
equipe canarinho por 3 a 0. Foi a última vitória do elenco verde-amarelo no
mundial da Alemanha, que acabou para o Brasil nas quartas-de-final diante da
França.
Ao término do mundial, Zé Roberto retornou ao Brasil para jogar pelo
Santos. Durante os 10 meses em que esteve na Vila Belmiro, foi apontado como o
melhor jogador em atividade no país. Na temporada de 2007, levou o Peixe ao
título do Campeonato Paulista e ao terceiro lugar da Taça Libertadores da
América. Ao término do contrato foi negociado com o Bayer de Munique e depois acertou
com o Hamburgo.
Antes do clube alemão, com seu estilo absolutamente requintado, deixou
saudades aos torcedores do Bayer Leverkusen, Bayer de Munique e Real Madrid.
Em 2010 seguiu para o Al Gharafa, do Qatar, onde ficou por duas
temporadas até acertar sua volta ao futebol brasileiro, mais precisamente com o
Grêmio, em 4 de maio de 2012. Permaneceu no Grêmio até 9 de dezembro de
2014, dia em que a diretoria do clube gaúcho anunciou a saída do jogador. Ele
não perdeu tempo e ainda em 2014, acertou contrato com o Palmeiras aos 40 anos
de idade e em ótima forma física.
Texto de Leandro Giudici
terça-feira, 21 de abril de 2020
Palestra encarou o Palmeiras em 1990
O amistoso contra a equipe da Barra Funda foi aguardada com muita ansiedade pelos torcedores palmeirenses na cidade, assim, claro, como para os palestrinos. Assim que o amistoso se confirmou a imprensa local registrou o evento.
A chegada de Telê dava novo fôlego ao Palmeiras que, logo após o fim da Copa na Itália estava nas finais do Campeonato Paulista. Algumas semanas antes, havia encarado e vencido um combinado carioca por estonteantes 9x0, o que deixou o clube do Ferrazópolis, obviamente preocupado. O Alviverde Batateiro era, no entanto, líder da Série B da Terceira Divisão. O técnico Telê não estaria na partida, pois, estava comentando a Copa do Mundo pelo SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). O treinador seria Dudu, ex-jogador do Verdão.
O atleta palmeirense Edson Boaro contra o jogador Pereira do Alviverde Batateiro |
A partida ocorreu em um sábado no dia 9 de junho e os ingressos custaram Cr$300,00 cruzeiros. Mesmo momento em que a seleção italiana entrava em campo diante da Áustria em Roma. O Palmeiras vinha completo, incluindo o retorno do jovem goleiro Veloso.
A reportagem do jornalista Paulo de Tarso, do Diário do Grande ABC, registra que o diretor do Palestra, Nicola Racciopi, sequestrou o radinho de pilha de um jornalista para acompanhar a partida.
O Palmeiras jogando com seu tradicional uniforme verde e branco contra um Palestra todinho de branco – um belíssimo uniforme – teve dificuldades por conta da dimensão menor do Baetão que sequer sonhava em possuir grama sintética.
Aos 12, os batateiros tiveram a primeira oportunidade com Luís Carlos Gaúcho, veterano e um dos líderes daquele Palestra. A equipe visitante alternava seriedade e displicência, relata a reportagem, nos pés de Júnior, Bandeira e Betinho (cujo último clube foi o Palestra em 2004), enquanto o Alviverde buscava incessantemente o gol com Zetti e Gaúcho. Aliás, o gol palestrino aconteceu. E foi anulado injustamente pelo árbitro Willian Ricci Filho, segundo vários atletas. O jogo terminou em 0x0.
"O Junior recebeu a bola na ponta e fez um lançamento de aproximadamente 25 a 30 metros nas costas do Biro ( lateral esquerdo que estava no lugar do Dida na seleção). Eu cheguei primeiro e mais alto que ele na bola e cabeceei em direção ao chão no lado esquerdo do Veloso que ficou parado vendo só bola bater na trave antes de entrar", conta Hamilton, autor do gol invalidado.
O Palestra atuou com: Eduardo, Luciano, Hilton e Pereira; Eurico (Nenê), Zetti, Luís Pedro (Flávio); Hamilton (Marcelo), Junior (Campioto) e Paçoca (Marga). Tec.: Coppini. A Socieade Esportiva Palmeiras foi de: Veloso, Edson Boaro, Toninho Cecílio, Eduardo, Biro, Junior (Celso Gomes), Betinho e Bandeira, Careca, Bianchesi, Roger (Bulão) e Arnaldo. Tec.: Dudu
O jogador Pereira lembra que o jogador Mirandinha era quem mais preocupava, mas, ele acabou não indo para o amistoso.
A partida ocorreria no estádio do Baetão, onde o clube vinha mandando seus jogos pela Segunda Divisão na oportunidade. Antes, Ferrão da Vila já havia encarado o Santos de Pelé em 1974 e anos antes o Corinthians de Rivelino em 1983. O público ao todo foi de 3. 943 pagantes e o desempenho palestrino foi muito positivo, lembram os atletas.
Na imagem, Pereira, Eurico, Nenê, Marquinhos e Marcelo. Um timaço que deu muito trabalho ao primo rico da Capital. |
O diretor à época, Cyro Cassettari, lembra que quem intermediou a vinda do Palmeiras foram os irmãos Cláudio e Zezinho Tofanello, que eram muito amigos do Dudu. Ele lembra ter ido ao Palestra Itália em São Paulo acompanhar o então presidente Domingos Nóbrega Fernandes para a negociação da vinda do Palmeiras.
Palestra, primeiro campeão da Liga Sambernardense
Na imagem: Tonhão Guazzelli, Nelson Marson, Osmar Galafassi, Bebé, Zeca Cassettari e Noronha; Achados: Nena, Russinho Galafassi, Anjolete, Teleco, Frederico, Baraldi e Vicente Galafassi. |
quinta-feira, 16 de março de 2017
Os 10 anos da torcida mais fiel do ABC
Rotta e Ling no comando do time em 2004. Mudança não fez bem ao time |
A mudança de treinadores foi horrível naquele momento, já que pairou um sentimento de injustiça no ar. Assumiu o técnico Geimes Rotta, que havia vencido meses antes, em janeiro a Copa São Paulo de Futebol Júnior pelo Santo André em cima do Palmeiras no Pacaembu. Rotta chegava com moral, mas nada do planejado se concretizou. Na segunda fase da Série B1 – a última com essa nomenclatura – foi um fracasso completo.
Estádio da Vila Euclides, na época casa do Palestra |
Familiares de atletas se juntavam a torcida para vibrar |
A diretoria de então deu o maior apoio para a iniciativa. Saiu a tabela e coube aos membros se organizarem. A estreia seria fora de casa diante do Jabaquara. Compunham o grupo: Palestra SB; Jabaquara; Guarujá; Barcelona Capela; Osasco FC e Votoraty. Havia uma enorme expectativa para a estreia do Palestra e da torcida, mas tudo seria diferente do idealizado.
Jogo em Embu das Artes contra o Pão de Açúcar, uma das primeiras caravanas fora de casa |
Este foi o início da torcida. Quase nunca se arregimentou uma multidão. Embora fosse um sonho evidentemente, com o passar do tempo isso deixou de ser uma prioridade. Sabíamos que seríamos poucos por muito tempo, mas isso não importava, desde que aqueles poucos fossem fieis ao clube.
O início da torcida. Primeiro jogo do returno em 2006, Vila Euclides |
Um dos primeiros jogos fora de casa, com mais torcedores foi contra o Pão de Açúcar em Embu das Artes-SP. Embora não tenha ultrapassado a primeira fase, em 2006 o time demonstrava muita garra em campo. Mesmo as vitórias adversárias foram quase sempre com uma grande luta em campo e esse sempre foi um elemento especial aos torcedores da Loucos. O resultado não era o mais importante, mas sim a vontade de vencer.
O início de 2007 até empolgou mais pessoas a torcer, mas a equipe não ajudava em quase nada
|
Os poucos torcedores na Vila Euclides |
Contra o Elosport em Capão Bonito-SP. Torcida presente sempre |
Se 2007 terminava mal, 2008 seria pior. De que forma? Após 12 anos consecutivos nos profissionais, o Palestra se licenciaria da Federação Paulista. Os sócios desistiram de tocar o clube por mais um ano conforme previsto e o futebol voltou para as mãos da diretoria.
Jogos da base eram no campo da AR Ford |
Loucos nunca quis parceria com nenhuma torcida |
Na primeira, o líder da torcida rival partiu para cima de alguns membros sem nenhum motivo alegando terem sido provocados. Embora ficasse só na ofensa verbal, mas foi um alerta do que viria. Na segunda, no mesmo ano, a mesma pessoa rasgou uma faixa do clube no Baetão que estava com duas crianças e uma idosa. Um absurdo total.
2009, o melhor dos anos
Ao longo de 2009 chegou a torcida outro torcedor curioso e simpático ao Palestra que se integrou a torcida e foi idealizador de uma mudança muito positiva para o grupo: Sandro Maniezo.Sandro trouxe a ideia inovadora até então – pelo menos na região – das tais ‘barras’, semelhantes as torcidas argentinas, que ao invés do ‘samba’ fazem cantos com poucos instrumentos durante todo o jogo. O samba acaba cansando os torcedores, até mesmo as grandes torcidas. Já os cantos, duram o jogo todo. Houve a adaptação com muito sucesso.
Volta do Palestra aos campos levou torcedores a loucura |
Persistência premiada. Portões foram abertos em São Vicente. Voltar para casa é que foi o problema. |
A torcida foi diversas vezes tema de reportagens pela sua fidelidade ao clube. Foto da Revista Placar |
Seu Nelson era uma figura caricata que dançava, gritava e divertia toda arquibancada |
No segundo turno Palestra devolveu derrota ao Mauaense com juros e correção: 4x0. |
A Loucos do Palestra viveu então a sua melhor fase, aonde chegava, apesar do pequeno número, impressionava. Os panos verde e branco, as fumaças e os luminosos aprimoraram o espetáculo. Posteriormente surgiram outros do mesmo modelo no ABC. Sandro era também um dos que melhor adaptava as músicas. Foram várias. Era impossível não se notar e admirar a torcida palestrina no estádio.
Mudança pioneira no estilo deram um 'up' na torcida |
No início da parceria com o Santo André, como poucos atletas conheciam o clube, havia um distanciamento deles com os torcedores. Em um programa na web rádio Vozes da Cidade, o locutor Leandro Giudici cobrou o técnico Sandro Gaúcho desse fato e o distanciamento imediatamente acabou. Os atletas passaram a cumprimentar e agradecer os torcedores palestrinos em todos jogos.
Com o passar das fases, os atletas vibravam nos alambrados junto a torcida, uma enorme e inesquecível festa. Nos intervalos, os jogadores entoavam os mesmos cantos das arquibancadas. O mais famoso deles era: “O Palestra vai sair campeão, o Palestra vai sair campeão... Contra tudo e contra todos sempre estará no meu coração!”.
Vieram as outras fases e também a dificuldade em se acompanhar o clube. Difícil, mas não impossível. Outro momento curioso foi na ida a Porto Ferreira contra o Palmeirinha, 300 km distante de São Paulo. A diretoria havia prometido ajudar a torcida. A semana foi se passando e nada da ajuda chegar. Já havíamos desistido de ir, mas no sábado, véspera do jogo, a angústia de poder ver o Palestra tomou conta dos torcedores. Haviam poucas opções. Cogitou-se ir com a Brasília do Leandro, mas o carro não estava bom. Então Fellipe conseguiu emprestado o Escort do seu pai. Fomos em cinco no velho automóvel. Saímos às 3h da manhã de São Bernardo, contamos cada centavo de moeda para pagar os vários pedágios e chegamos lá, bem antes da partida, às 7h da manhã.
A viagem para Porto Ferreira. Persistência e recompensa |
Ao chegarmos fizemos um buzinaço na cidade acordando a população e fomos para o estádio que já estava aberto. Montamos as barras, mas fomos obrigados a tirar até a abertura oficial do estádio às 9h30. Vibramos e cantamos muito aquele dia sob um sol escaldante do interior. Eles tinham chamado uma bateria de escola de samba e nós em cinco abafamos eles. Vencemos por 4x0 e mesmo assim fomos aplaudidos e parabenizados. Até uma cervejinha nos pagaram na saída. A diretoria ficou claro, muito envergonhada ao nos ver no estádio mesmo sem ajuda e durante a semana resolveu nos reembolsar pela viagem.
Demais jogos da 2º fase: Palestra 1x0 Barretos, Santacruzense 0x2 Palestra. Returno: Palestra 0x0 Santacruzense, Barretos 2x0 Palestra e Palestra 4x1 Palmeirinha.
Com o avanço para as fases finais e jogos durante a semana não dava para acompanhar todos os jogos. Assim como nos jogos contra o Barretos, Santacruzense e o Red Bull Brasil no Moisés Lucarelli em Campinas, este último um jogo incrível, 4x4.
Jogo duro contra o Desportivo Brasil. Torcida empurrando o tempo todo. (Foto: Jogos Perdidos) |
Nos jogos em casa vimos nesse tempo jogos arrebatadores como contra o Barretos (1x0) e Desportivo Brasil (1x1) com gols no finzinho, sofrido e vibrante do jeitinho que a Loucos sempre adorou. Festa do início ao fim sem parar e empolgando o estádio todo. Contra o Desportivo em uma noite de sexta no Baetão uma chuva torrencial que paralisou a partida por pelo menos 20 minutos e acabou virando matéria do Globo Esporte.
O caminho do Palestra rumo ao acesso aliás parecia muito difícil, mas fomos superando cada um deles. Nada nos tirava a certeza de que era o ano do glorioso acesso.
Jogos da 3º fase: Atlético Mogi 0x2 Palestra, Palestra 2x2 Desportivo Brasil, Atlético Araçatuba 2x2 Palestra. Returno: Palestra 3x0 Atlético Araçatuba, Desportivo Brasil 2x1 Palestra, Palestra 2x2 Atlético Mogi.
Palestra x Taubaté: um jogo inesquecível
Chegara o momento tão sonhado. Se vencesse o Taubaté na partida de volta, no estádio Joaquinzão, o Palestra conquistaria o acesso à Série A3. Um ano depois do licenciamento os torcedores estavam vivendo a melhor fase desde a existência da torcida. Todo mundo estava empolgado, mesmo esperando muita dificuldade dessa partida. O Taubaté é um clube tradicional e certamente favorito contra o Palestra São Bernardo, mesmo que tivéssemos feito uma campanha impecável.
Palestra x Taubaté foi o auge do clube no período da torcida palestrina |
Esperamos pelo jogo a semana inteira de forma ansiosa. O diretor do Palestra, Wanderley Salatiel cedeu um ônibus a torcida. Na verdade para as ‘duas’. Ao longo da competição houve uma tentativa da diretoria de se criar uma torcida chamada ‘Corujão do Palestra’, patrocinada e incentivada por eles, sem o menor sucesso. Torcer para o Alviverde Batateiro exige muito mais do que patrocínio e incentivo. Mas, a maioria da outra torcida não compareceu. Muita gente faltou na verdade. Levamos 20 pessoas ao Joaquinzão, o que já foi um feito.
Havia na verdade uma descrença no fundo com o feito do Palestra. Isso porque palestrino é gato escaldado que sempre sofreu muito com as derrotas. No fundo, embora houvesse esperança tinha um medo de todos. Mas, logo que começou o jogo ele foi se esvaindo.
Muito se falava que a torcida taubateana podia ser uma ameaça caso vencêssemos, já que o estádio estava lotado com 5 mil torcedores, mas isso em nada preocupava os alviverdes. Fizemos festa o tempo todo e o Palestra saiu na frente, 1x0 com Pio. Willian, nosso goleiro, ainda defendeu uma penalidade e assim fomos para o intervalo. Quase como um sonho, melhor impossível.
Depois do intervalo a sorte mudaria de lado. O Taubaté empatou e depois virou. Com a tensão, os jogadores caíram na provocação dos torcedores e a confusão se ampliou. O jogo foi paralisado devido a invasão de campo. O Burro da Central ainda marcaria mais uma vez, sacramentando o fim do sonho palestrino.
A frustração com a derrota para o Taubaté não tirou o ânimo dos torcedores |
Apesar da tristeza não deixamos de cantar e apoiar um só instante. Um torcedor sugeriu que saíssemos antes do fim do jogo para evitar briga. “Eu disse que só iríamos sair dali no fim do jogo, nem que fosse em cima de uma maca”.
Os jogadores do Palestra estavam indo para o vestiário quando alguém os fez lembrar da torcida. Eles então atravessaram todo o campo e foram até nós. Cada um deles nos aplaudiu e reverenciou. Vários deles arrancaram as camisas e atiraram para nós. Camisas que estão muito bem guardadas até hoje por cada um deles.
Já os torcedores do Taubaté que haviam invadido o campo, ao invés de briga, também foram cumprimentar a torcida do Palestra pela festa e pela persistência em ficar até o fim do jogo. Algo muito bonito de se ver. Alguns trocaram camisas e até uma famosa foto do acesso taubateano tem um dos torcedores com a camisa da Loucos do Palestra. Até os dias atuais a relação das torcidas é muito boa. Na volta, a tristeza foi dando espaço ao bom humor. Quase deixamos um torcedor para trás e na parada final, em São Bernardo, ainda tomamos muita cerveja.
"Na saída encontrei o presidente Fábio Cassettari descendo das tribunas, ele estava inchado de tanto chorar, me deu um abraço forte e comovido como se fosse um torcedor dos nossos. Aquele momento era um sonho que acabava pra todos nós", lembra Leandro
Os jogos da 4º fase: Palestra 0x0 Taubaté, Red Bull 4x4 Palestra, Palestra 1x1 Desportivo Brasil. Returno: Desportivo Brasil 3x0 Palestra, Palestra 1x0 Red Bull e Taubaté 3x1 Palestra.
2010: um ano na raça
Veio 2010, novamente sem parceria. O Palestra voltava a disputar as competições na raça. Aliás, raça era a palavra que mais imperava. Era uma boa equipe formada sobretudo por jogadores raçudos.
Em 2010 retornou também o verdadeiro clássico batateiro, o quase octagenário ‘Palestra x EC São Bernardo’. O Bernô retornou aos campos e trouxe brilho a competição gerando atenção da mídia que deu ótima cobertura aos dois jogos da primeira fase entre as equipes. O Palestra perdeu a primeira, mas venceu a segunda por 2x1 de virada com um golaço do meio de campo do meia Igor Feijão.
O gol de Feijão do meio da rua foi um dos momentos mais arrebatadores para os torcedores |
O técnico inicial foi Paulo Roberto Liló que apesar do ótimo início e de ter montado um bom e experiente elenco caiu após uma derrota para o São Vicente. Paulo Leme deveria assumir, mas não assumiu. Quem veio foi Daniel Vieira, um técnico jovem e motivador que caiu como uma luva para aquele momento. A indicação foi do preparador físico Kaue Berbel. Daniel encarnou o espírito palestrino da garra e da raça. Se o time de 2010 não tinha as estrelas e as mordomias de 2009, sobravam aos jogadores vontade e alma palestrina.
Em uma partida contra o Taboão da Serra fretamos uma Kombi. Não era uma Kombi qualquer, era uma Kombi muito velha cheia de ferramentas e que morria em todos os faróis. O preço era atraente, até porque o motorista imaginava que íamos para o bairro do Taboão em São Bernardo e não para Taboão da Serra-SP. No fim deu tudo certo.
O motorista confundiu o bairro do Taboão em São Bernardo com Taboao da Serra-SP... |
Aquele ano foi especial. A sintonia entre torcedores e jogadores era muito grande. Assim como a música que a equipe de 2009 sempre cantava, este sim era o verdadeiro ‘time da virada’. No returno da competição três viradas incríveis, simplesmente inesquecíveis. A primeira sob o comando interino de Flávio Alves foi contra o Mauense por 3x2.
Logo na chegada de Daniel Vieira vencemos o Guarulhos. O Palestra perdia de 2x1 no Baetão até os 46 minutos do 2º tempo. Tiago Lopes diminui empatando o jogo. Dois minutos depois aos 48 minutos viramos o jogo fazendo 3x2 com Rafael Boi, que a um estilo 'Hulk' rasgou o uniforme na comemoração. Sensacional! As imagens de torcedores e atletas se abraçando através dos alambrados mostram essa ligação. Esse time merece até escalação: Vinícius, Cássio, Felipe Gaspar, Phillipe, Mizaell, Tiago Lopes, Robson, Rafael Boi, Alessandro, André e Aloísio.
Virada contra o Guarulhos foi uma das mais saborosas vitórias da história |
Ainda havia o rival EC São Bernardo pela frente e devolvermos a derrota do 1º turno era quase obrigação. O Palestra estava há muito tempo sem perder para o Esporte antes da derrota de 2x1. Coube a Daniel Vieira mais essa missão e vencemos! Igor Feijão fez o primeiro aos 15 minutos do 1º, Daniel do rival empatou aos 33 e Wilton desempatou aos 40. Uma enorme comemoração nos alambrados.
Palestra e Guarulhos. VT da Net TV
Nesta partida contra o Mauaense, que tinha parceria com o São Bernardo FC, houve uma briga na parte externa do estádio. Queriam tomar a faixa dos nossos torcedores. Um símbolo de vitória para as torcidas. Uma bobagem sem fim. Não conseguiram. Porém, o episódio forçou uma reflexão sobre o futuro da torcida. Nosso pequeno número e a constante provocação e ameaças começou a desmotivar o estilo de torcer. Nos reunimos mais de uma vez em um bar em frente ao Palestra no Ferrazópolis e abordamos a questão. Sandro chegou a ser seguido nas ruas por torcedores do rival. Então decidimos que nos reuniríamos antes, durante e depois nos jogos, mas sem faixas, bandeiras, barras e instrumentos. E este foi o fim dos espetáculos nas arquibancadas.
Nenhuma equipe como a de 2010 manteve mais sintonia com os torcedores |
Acompanhamos o ano todo. Uma bela equipe, diga-se e que teria certamente passado de fase se não fosse – mais uma vez – um erro grotesco e comprometedor da diretoria. Na penúltima partida da primeira fase, faltou o médico em uma partida contra o Jabaquara em pleno Baetão. Não cabe a nós julgarmos. Dificilmente tal fato seria premeditado, no entanto foi avassalador para o clima no elenco.
“O Renan Quintanilia que me auxiliava na assessoria de imprensa do clube e eu pegamos o carro e fomos atrás de um médico. Percorremos vários hospitais, mas era quase impossível. Eu nunca tive médico conhecido”, conta Leandro.
Restava apenas uma partida contra o Taboão da Serra na última rodada e perdemos de 2x0. Ficamos de fora da segunda fase. Nada de lamentações. O Palestra fora heroico e mereceu muito aplausos aquele ano. Os erros ficaram mais uma vez na conta da diretoria.
Em 2010 a equipe foi guerreira, mas erro da diretoria mais uma vez prejudicou o time
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Os jogos de 2010:
1° turno: Palestra 2x1 São Vicente, Mauaense 1x1 Palestra, Palestra 0x0 Nacional, Guarulhos 0x0 Palestra, Jabaquara 0x1 Palestra, Palestra 1x2 EC São Bernardo, Taboão da Serra 3x1 Palestra. Returno: São Vicente 5x0 Palestra, Palestra 2x1 Mauaense, Nacional 2x1 Palestra, Palestra 3x2 Guarulhos, Palestra 0x3 Jabaquara (WO), EC São Bernardo 0x1 Palestra, Palestra 0x2 Taboão.
Rivalidades
O EC São Bernardo é sem dúvidas o grande rival palestrino, mas essa rivalidade merece um parênteses só dele. Nossa torcida não pegou a melhor fase da rivalidade. Aliás, há muito tempo ela não existia. Os dois alternaram licenciamentos enquanto o outro disputava competições profissionais.
Havia um grande coleguismo com os torcedores do Esporte, que costumávamos chamar de ‘Esportinho’ para tirar sarro. Thiago Teixeira era amigo de longa data de Leandro e Pedro Faian torceu muitos anos pelo Palestra antes de seu clube voltar a campo. Este fato nós sempre lembrávamos, mas claro, de forma sadia. Nunca houve entre os torcedores nada que não fossem brincadeiras e debates para se saber quem era o melhor.
Torcedores de Palestra e EC São Bernardo sempre se respeitaram apesar da rivalidade |
Um dos espetáculos mais bonitos já feito pela Loucos |
O último time em campo
Dai por diante o Palestra voltava a sua velha realidade recente. Em 2011 novamente voltaríamos a campo com um elenco muito jovem e algumas parcerias. No começo do ano até parecia ser diferente. Encaramos o São Paulo em um jogo amistoso no CT de Cotia e empatamos em 2x2. Mas não. Como técnico o escolhido foi o comentarista esportivo, Lombardinho, filho do famoso Lombardi dos programas do Silvio Santos. Além da experiência como comentarista ele também comandara equipes amadoras em Santo André.
Aquele ano seria o mais trágico de todos os demais. Pior do que aquilo só mesmo o licenciamento que viria na sequencia. Nossa torcida apenas se reunia nas arquibancadas para assistir juntos. Só não fomos os últimos do grupo porque o Nacional, tradicional clube paulista, perdeu pontos e permaneceu quase todo o tempo na lanterna. Nossa única vitória, aliás, foi sobre eles no primeiro turno. Vexatório!
Time de 2011 não deu liga e o Palestra foi humilhado várias vezes em campo |
Lombardinho foi embora e Daniel Vieira voltou, mas não teve jeito, a equipe não deu liga. Até quando jogávamos melhor perdíamos. Pior: sem nenhuma demonstração de garra e raça que o elenco de 2010 demonstrou. Pela primeira vez na sua história, contra os princípios que idealizamos como torcida passamos a xingar o time em campo. Era pura vergonha ver o Alviverde jogar.
Em uma partida diante da Mauaense no Pedro Benedetti fomos humilhados, perdemos de 7x1 e xingamos muito o elenco. Alguns jogadores acharam que estávamos ali para brigar, mas é obvio que jamais isso passou em nossa cabeça em hipótese alguma. A única coisa que cobrávamos era que eles honrassem nossa gloriosa camisa. Vexatório. Fomos o 7° do grupo com 4 pontos, o Nacional com 2 em 8º. Além de tudo perdemos os dois clássicos. Era muita humilhação para um só ano.
O técnico Daniel Vieira conseguiu entender o espírito palestrino, mas equipe não deu conta do recado |
Palestra 0x1 EC São Bernardo, Portuguesa Santista 3x0 Palestra, Palestra 1x2 São Vicente, Guarujá 3x0 Palestra, Palestra 2x1 Nacional, Palestra 1x1 Mauaense, Jabaquara 2x1 Palestra. 2º turno: EC São Bernardo 2x0 Palestra, Palestra 0x2 Portuguesa Santista, São Vicente 5x0 Palestra, Palestra 1x2 Guarujá, Nacional 3x1 Palestra, Mauense 7x1 Palestra e Palestra 0x4 Jabaquara.
Paciência da torcida acabou após humilhação |
Dava para sentir no ar que o Palestra venceria. Esse tipo de sensação é fácil de perceber para quem acompanha e ama um clube. O jogo é obvio que começou muito quente. Brito do Alviverde fez 1x0 aos 20 do 1º. Alexson fez 2x0 aos 38. Já no segundo tempo mesmo com uma enorme pressão do rival ampliamos fazendo 3x0 aos 36 min. com o baixinho Jackson. Que festa linda! O Esporte ainda fez dois gols no fim, mas um pênalti errado por Brito irritou demais a torcida. Vencemos, mas não levamos a passagem para outra fase.
Loucura total na comemoração do gol contra o EC São Bernardo |
Um jogo de sub-20 que mais parecia final de Champions League. Quase no fim do jogo, pênalti para o Alviverde. Era a chance de ampliarmos e passarmos adiante, já que no primeiro jogo havíamos perdido por 2x1. O técnico Daniel Vieira mandou Fellipe Casarin para a cobrança, mas Brito, um atleta que já jogara até no Santos ao lado de Neymar e que vinha mal na competição sendo muito criticado pela torcida, pegou a bola na mão e foi para marca do pênalti.
Brito errou o pênalti e ai é claro que a torcida não perdoou. Antes do fim ainda foi expulso injustamente acusado de ter calçado o goleiro rival Jéferson. No fim do jogo foi extremamente hostilizado. Todos pediam que ele abandonasse o Palestra. Ele chorando prometeu que o faria, mas ainda continuaria. Do lado de fora do vestiário a ofensa continuou, mas nada além disso ocorreu. Na saída do estádio ele se encontrou com a torcida e acabou até amparado por alguns. Coisas do futebol.
Foi a última vez em que nossa equipe entrou em campo. Depois daquilo seriam apenas saudades que duram até hoje.
O trágico afastamento
Em 2012 o Palestra anunciou que estava fora das competições. Manteve tudo em segredo até o instante da confirmação pela Federação Paulista. Embora a notícia não fosse uma novidade total, pegou todo mundo de surpresa. O ano anterior havia sido traumático. Nem mesmo 2007 se comparava a uma equipe como aquela, sem raça, sem garra e que só acumulou péssimos resultados.
“Assim que soube eu mandei um e-mail para o clube me desligando. Aquilo para mim foi a gota d’água. Não dava mais para concordar com aquilo. Eu nunca deixei de apoiar nem nos piores momentos. Foi assim em 2008, mas dessa vez o Palestra saía humilhado. Faltavam projetos, bons projetos e diálogo com a diretoria. Embora sempre tive um bom relacionamento com o Fábio (Cassettari), mas de um tempo para cá as conversas com o Neto (atual presidente) já não eram as mesmas. Ele nunca gostou de futebol e meu medo era justamente que aquele dia chegasse, o do nosso afastamento. Eu imaginei que do lado de fora poderia cobrar mais. Chegamos a nos desentender, trocar ofensas, mas inclusive acho que exageramos, não precisava chegar a tanto. Não guardo mágoa alguma deles. Ao contrário. Hoje se pudesse até me desculparia”, conta Leandro Giudici
Palestra Sempre
Aquele sentimento era um vazio enorme. Algo como se um ente querido tivesse partido. Não haviam torcedores que não sentissem aquela mesma tristeza profunda de não mais poder ver o Palestra em campo. Havia também uma sensação semelhante na maioria e que se confirmaria: o Alviverde não retornaria em breve.
Todos os jornais destacaram a saída do Palestra da competição e a frustração dos torcedores. Aquele vazio motivou um movimento chamado ‘Palestra Sempre’. A ideia era excelente, pena que não foi adiante. O objetivo era criar um grupo de palestrinos que cobrariam resultados e auxiliariam o clube o quanto fosse necessário, já que a diretoria jamais deu qualquer abertura para novos sócios. O clube social do Palestra na verdade só existe no papel.
E iniciamos o grupo realizando inclusive duas reuniões. O ‘Palestra Sempre’ visava reunir novamente todas as gerações de palestrinos, desde os mais antigos aos contemporâneos, torcedores, filhos e netos de atletas, dirigentes, enfim. A primeira foi na Brasilitália e a segunda no campo do Ferrazópolis, local onde ainda estão muitos da segunda geração. Conseguimos trazer para o grupo os filhos e netos do fundador, Alfredo Sabatini, o que demonstrava a seriedade do grupo.
Reunião do grupo 'Palestra Sempre' no Ferrazópolis reuniu ex-atletas do clube |
Mas, como se diz sempre nesse blog, nada para o Palestra é fácil. E não foi. Na parte de projetos, ideias e opiniões tudo fluiu bem. Ocorre que na parte derradeira, onde levaríamos isso para a diretoria, muitos se opuseram alegando que aquilo seria inútil. Fácil não seria, mas, na verdade, todo o grupo seria inútil se isso não ocorresse, afinal, não éramos nada além de um grupo disposto a cobrar e auxiliar o Palestra. Não tínhamos poderes efetivos para realizar nada sem permissão da diretoria. E o grupo foi se diluindo.
Só saudades
Lá se vão seis anos em que o Palestra permanece licenciado e essa saudade só aumenta. O clube melhorou de forma geral. A sede, que antes possuía um convênio com uma grande empresa passou novamente a ser gerido pelo clube, passou a ter novas modalidades e finalmente conseguiu em pequena proporção o que o movimento Palestra Sempre sonhava: abrir suas portas para a comunidade. Ainda não o suficiente, mas já um avanço.
Não há no entanto nada, nenhum aceno que queira aproximar ou trazer os torcedores para perto do clube. Nunca houve uma intenção parecida. Os torcedores fiéis ainda mantém uma esperança, mas os outros simpatizantes vão diminuindo pouco a pouco.
“O clube fechou as portas para os seu torcedores. Não há conversa ou algo parecido. São poucos, assim como eu, que ainda tem esperança de ver o Palestra novamente em um campeonato profissional. Somos amigos (torcedores), conversamos frequentemente. Nos conhecemos através do Palestra, mas claro que as coisas ficam mais difíceis, pois são poucos que realmente continuam a pensar no Palestra hoje em dia”, diz Fellipe.
“Antes, eu listava momentos. Hoje, percebi que o momento marcante é jogo a jogo. Só de ver o Palestra em campo é uma satisfação inexplicável”, completa.
Essa torcida apaixonada não pede nada além de rever seu time em campo, não importa se ganhando, empatando ou perdendo. “Sonho em ver o clube forte, disputando sempre as competições. Licenciamento é algo muito doído de aceitar”, acrescenta Fellipe. E sabe também a dura realidade que vive não só o Palestra São Bernardo como também todos os clubes do mesmo porte e da mesma divisão, mas acreditam que com projeto é possível realizar.
Diário do Grande ABC destacou a paixão que levou Fellipe a ter três tatuagens do Palestra |
Os anos em que a Loucos do Palestra esteve nas arquibancadas muito se tirou como aprendizado. O principal deles é que o amor por um clube justifica muitas loucuras, muita insensatez, brigas com a família, namorada, viagens intermináveis, falta de dinheiro, de que é possível empurrar um clube; de que uma torcida é sim peça importante para um time, desde que ele consiga entender a mensagem e o espírito das arquibancadas. O outro, e esse negativo, é de que ‘torcida organizada’ no Brasil é algo completamente contaminado pelo vício da violência e da selvageria. Na arquibancada, do mesmo modo que alguns – como os loucos – extrapolavam seu amor ao clube, outros usam tudo isso para o mal. Ali é uma terra sem dono. A sensação de estar em grupo torna muita gente valente. Por mais que você tenha boas intenções.
Não foram poucas as vezes em que veículos destacaram o amor incondicional da torcida palestrina
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“Fui assessor de imprensa do Palestra por cinco anos. Fiz muitas homenagens a veteranos, uma sessão solene na Câmara em homenagem aos nossos 75 anos, enfim. Fiz o que estava ao meu alcance, mas ficou a impressão que muito mais poderia ter sido feito. Eu nunca fui nada além de diretor de comunicação. Certa vez até fui incluído na lista de conselheiros, mas não sei ao certo se foi sacramentado. Conversava muito com os Cassettari, mas tudo sempre foi muito difícil. A família tem muitos méritos quando se fala de Palestra, mas as vezes penso que eles não querem mudar a situação atual”, diz Leandro.
O fato é que em São Bernardo ninguém foi mais fiel que os palestrinos acompanhando tão de perto todos os jogos, vibrando, incentivando e fazendo uma linda festa com um clube que por poucas vezes viu uma boa fase. Palestrino não tem outra razão para sê-lo que não seja amor, pura e simplesmente. Palestra não é fase boa, moda, empolgação, etc. A história da nossa torcida imita a história do seu próprio clube. Todos que ali chegam é porque admiram a nossa bela e gloriosa história. Nem tanto assim de glórias, mas de muita luta.